A
dor torácica é um
sintoma frequente, tanto no contexto ambulatorial como nos serviços de
urgência. É encontrada nas condições mais diversas, cardíacas e não-cardíacas, de
prognóstico e
tratamento muito diferentes. Embora a
etiologia isquêmica não seja a mais prevalente, perdendo para as dores osteomusculares, a
doença do refluxo e a
dor psicogênica, a preocupação em torno dessa possibilidade se impõe a
cardiopatia isquêmica tem maior
gravidade e demanda propedêutica e
tratamento específicos. Entretanto, submeter
pacientes com
dor torácica e baixa
probabilidade de
doença coronariana (
jovens e/ou sem
fatores de risco) a exames complementares para avaliar tal
doença produz
erros diagnósticos,
ansiedade e
tratamentos supérfluos, com
custos e
riscos inaceitáveis. Em 2003, a
Organização Mundial de Colégios Nacionais,
Academias e Associações Acadêmicas de
Médicos gerais/
Médicos de Família (WONCA) propôs o conceito de
prevenção quaternária, definida como a
detecção de indivíduos em
risco de
tratamento excessivo para protegê-los de intervenções
médicas inapropriadas. A solicitação de exames complementares no esclarecimento da
dor torácica em
pacientes de baixo
risco cardiovascular é freqüente (existem ferramentas para estimativa do
risco de
eventos cardíacos, como o escore de Framingham), e desrespeita os princípios da
prevenção quaternária, que devem ser aplicados pelos
médicos da
atenção primária, generalistas e
cardiologistas. A
anamnese é o
método fundamental para classificar adequadamente a
dor torácica e estabelecer a melhor
conduta. Uma
história clínica completa sobre a
dor deve incluir a sua
localização,
caráter,
irradiação, duração,
fatores precipitantes e de alívio, além dos
fatores de risco para
aterosclerose. Sem a soma de todos esses dados a
formulação de uma hipótese diagnóstica não será possível, e a interpretação de exames complementares como o teste ergométrico ficará prejudicada, pois a acurácia diagnóstica de um exame depende de sua correta indicação.