ABSTRACT
Introdução: Pretendemos, neste artigo, confrontar critérios adotados para análise das produções escritas de crianças em processo de aquisição da linguagem. Formulados a partir de perspectivas teóricas que concebem a escrita como código ou como processo de simbolização constitutivo do sujeito, esses diferentes critérios vêm sendo adotados para definição de procedimentos clínicos fonoaudiológicos. Método: Foram analisados textos produzidos por duas crianças com 8 anos de idade, inseridas na 2ª série do ensino fundamental, em uma escola municipal de Curitiba. A seleção dos textos ocorreu por apresentarem manifestações lingüísticas formuladas, recorrentemente, por crianças em processo de aquisição da escrita. Enfocamos, em uma análise qualitativa, aspectos formais e estruturais com base em diferentes perspectivas teóricas. Resultados: Foram analisados textos resultantes de um trabalho discursivo de linguagem, produzidos pelas crianaças-sujeitos da pesquisa. Discussão: Tradicionalmente, manuais, envolvidos com procedimentos clínicos voltados aod ditos problemas de escrita, privilegiam o aspecto gráfico da escrita, concebendo-a como código estanque e a criança como ser passivo. Assim, nos levam a diagnósticos equivocados. Contrários a essa perspectiva, consideramos que as manifestações lingüísticas presentes nos textos analisados revelam sujeitos que operam sobre a escrita e que tais operações representam uma das condições para a sua aquisição. Conclusão: Diagnósticos e terapias focados em uma noção patologizante tendem a desconsiderar o sujeito como alguém que age e pensa sobre a escrita. Distantes dessa posição, evidenciamos o valor da interação da criança com o outro e com a própria linguagem, indicando o "erro" como previsível no processo de aquisição da escrita.