Malformações congênitas e a fertilização in vitro / Congenital malformations and in vitro fertilization

Nas últimas décadas a fertilização in vitro (FIV) tornou-se uma alternativa eficaz e largamente difundida para tratamento de casais inférteis. Contudo, nesses anos de aplicação clínica tem havido preocupação com a saúde das crianças concebidas através da técnica, em particular quanto à possibilidade de malformação congênita. Diferentes trabalhos foram publicados para avaliar as crianças de FIV. Contudo, de modo geral o resultado foi considerado satisfatório, não tendo sido conclusivos os estudos sobre o aumento na incidência de malformações congênitas. Por outro lado, o advento da inseminação intracitoplasmática de espermatozóides (ICSI), dando possibilidde de ter filhos a indivíduos com diminuição acentuada na contagem de espermatozóides, ou mesmo com azoospermia, exacerbou os questionamentos sobre a segurança. Os primeiros trabalhos visando avaliar malformações congênitas nas crianças nascidas por ICSI não conseguiram mostrar incidência maior. No entanto, estudos mais recentes, com casuística maior, têm apontado um risco superior na ocorrência de malformação, porém sem conclusão definitiva. Até o momento, na literatura não há dados suficientes que contra-indiquem a aplicação das técnicas de reprodução assistida, embora persistam preocupações quanto ao bem-estar das crianças concebidas por ICSI e por FIV.

Incidência de malformações congênitas em crianças concebidas através de injeção intracitoplasmática de espermatozóides / Incidence of congenital malformations in children conceived through intracytoplasmic sperm injection

OBJETIVO: avaliar a incidência e tipos de malformações congênitas maiores (MCM) em crianças concebidas por injeção intracitoplasmática de espermatozóides (ICSI) e nascidas vivas. MÉTODOS: um total de 680 crianças nasceram vivas de 511 casais submetidos à ICSI no período de janeiro de 1999 a dezembro de 2002. A coleta de dados das crianças foi procedida por meio de questionário padronizado e exame clínico. Dos 511 casais, 366 foram contatados para amostragem de 371 gestações. Das 680 crianças nascidas vivas, 520 foram avaliadas, 250 delas (48,1 por cento) por meio de questionário e 270 (51,9 por cento) por questionário e exame físico. Duzentas e cinqüenta crianças foram de gestação única e 270 de gestação múltipla. Na análise das malformações congênitas foi empregada a 10ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças. Nesse estudo foram analisadas apenas as MCM. A incidência de MCM foi comparada à da população geral obtida pelo Estudo Colaborativo Latino-Americano de Malformações Congênitas. A análise estatística foi feita usando o teste do chi2 (nível de significância p<0,05). RESULTADOS: das 520 crianças observadas, 15 apresentaram MCM, dando incidência de 2,9 por cento. Não houve diferença significativa em relação ao grupo controle (p>0,05), que teve 2,6 por cento de incidência de MCM. As malformações mais freqüentes foram as de origem cardíaca (quatro isoladas e duas associadas), correspondendo a 40 por cento do total. Os outros tipos de MCM foram: renal (três), defeito de fechamento do tubo neural (dois), defeito do crânio (um), lábio leporino (um), genital (um), síndrome de Down (associada à cardiopatia) (dois) e músculo-esquelética (um). Seis MCM ocorreram em crianças provenientes de gestações únicas e nove de gestações múltiplas. CONCLUSÃO: as crianças concebidas por ICSI e nascidas vivas apresentaram incidência de malformações congênitas maiores (2,9 por cento) próximo ao esperado para a população geral (2,6 por cento). Entretanto, para estabelecer com precisão os riscos de MCM é necessária continuidade na avaliação das crianças concebidas por ICSI.

Critérios para definir o número de embriões a serem transferidos em fertilização in vitro / Criteria to determine the number of embryos to be transferred in in vitro fertilization

Os autores fazem revisão sobre o impacto das técnicas de reprodução assistida na incidência de gravidez múltipla, relacionando seu impacto médico-social. Baseado na experiência pessoal no Centro de Reprodução Humana "Sinhá Junqueira" e na revisão da bibliografia atual, são feitas considerações sobre o número de embriões a serem transferidos em ciclos de FIV

Variaçäo da concentraçäo espermática entre amostras obtidas após curto intervalo de tempo / Variation in the eperm concentration between samples obtained with brief time interval

A probabilidade de gestaçao com o uso das técnicas de reproduçao assistida está ligada com o número de espermatozóides móveis (EM) recuperados após o preparo do esperma. Em geral, aceita-se como ideal no programa de inseminaçao intra-uterina a obtençao de no mínimo 5.0 milhoes de EM/ml, e no programa de fertilizaçao in vitro convencional 1.5 milhoes de EM/ml. A obtençao de uma segunda amostra é sempre aconselhada quando se supoe que esses valores nao sejam atingidos. Este estudo compara a concentraçao de EM a fresco, após a utilizaçao de idêntica técnica de capacitaçao (gradiente de Percoll) entre duas amostras de esperma colhidas de 20 pacientes com intervalo de uma a três horas. A concentraçao de EM/ ml no sêmen a fresco na primeira amostra foi de 2.92 + 2.86 milhoes versus 11.78 + 13.05 milhoes na segunda amostra (p = O.001, Wilcoxon). Por outro lado, a concentraçao de EM/ml após o processo de capacitaçao na primeira amostra foi de 2.81 + 2.36 milhoes versus 5.16 + 4.60 milhoes na segunda amostra (p = O.021, Wilcoxon). Em conclusao, o número de EM obtidos no sêmen a fresco e a pós-capacitaçao numa segunda amostra (p = O.021 Wilcoxon). Em conclusao, o número de EM obtidos no sêmen a fresco e a pós-capacitaçao numa segunda amostra foi significativamente superior ao encontrado na primeira amostra, justificando a conduta de se obter uma nova amostra, caso a primeira seja insuficiente para a utilizaçao das técnicas de reproduçao assistida.

Perda reprodutiva associada a translocaçäo cromossômica tipo robertsoniana / Reproductive loss associated with chromossomic translocation type robertsonian

Os autores apresentam um caso de infertilidade de seis anos, com história de perda reprodutiva na 17ª semana de gestaçao, associada a translocaçao equilibrada tipo Robertsoniana 13/13 em um dos cônjuges.

O valor preditivo de uma única determinaçäo de ß-hCG plasmático em gestaçöes obtidas por fertilizaçäo in vitro e transferência de embriöes / The predictive value of single plasma ß-hCG determination on pregnancies achieved by in vitro fertilization and embryos transfer

Neste estudo foi testada a hipótese de que a determinaçao do beta hCG plasmático no 14a. ou 15a. dia, após a transferência embrionária num programa de fertilizaçao in vitro (FIV), pode predizer o curso da gravidez. As amostras de sangue foram obtidas de 48 pacientes que engravidaram no programa de FIV. As determinaçoes de beta-hCG foram realizadas por enzimaimunoensaio (Serozyme, Serono). Em 23 casos de gestaçoes únicas que evoluíram até o nascimento, a média dos valores plasmáticos de beta-hCG (mu = 265 ñ 153 mUI/ml) foi significativamente maior (p < 0.05, teste de Mann-Whitney) do que naquelas observadas em 12 gestaçoes simples que abortaram (mu = 149 ñ 139 mUI/ml). Por outro lado, 13 gestaçoes múltiplas que evoluíram até o nascimento mostraram uma média dos valores plasmáticos de beta-hCG (mu = 435 ñ 130 mUI/ml) significativamente superior (p < 0.O1, teste de Mann-Whitney) às obtidas na populaçao com gestaçao única. Os resultados sugerem que a determinaçao dos níveis plasmáticos de beta-hCG no 14a. ou 15a. dia após a transferência de embrioes pode predizer dentro de certos limites as populaçoes com maior risco de abortamento e de gestaçoes múltiplas.

Pode uma dose única de análogo do GnRH no primeiro dia do ciclo menstrual prevenir o aumento de LH na fase pré-ovulatória? / Can a single dose of the GnRH analogue on the first day of the menstrual period prevent the increase of LH in the preovulatory phase?

Neste estudo foi avaliada a hipótese pela qual uma única dose de análogo do GnRH no primeiro dia do ciclo menstrual preveniria o aumento do hormônio luteinizante (LH) na fase pré-ovulatória de um ciclo estimulado com gonadotrofina menopausal humana (hMG). Um total de 27 pacientes foi dividido em dois grupos. O grupo I (n=9) recebeu uma única dose de 4,0 mg de acetato de leuprolide no primeiro dia do ciclo menstrual. A estimulaçao ovariana foi realizada com hMG na dose de 150 UI no terceiro, quinto, setimo e nono dia do ciclo menstrual. Iniciou-se a monitorizaçao ultra-sonográfica do desenvolvimento folicular no décimo dia do ciclo. O grupo II (n= 18) foi submetido ao mesmo protocolo que o grupo I, com exceçao do análogo do GnRH que nao foi administrado. As doses de gonadotrofinas foram aumentadas em ambos os grupos até a observaçao de pelo menos um folículo > l7mm, quando uma amostra de sangue foi coletada para dosagem de LH, e a gonadotrofina coriônica humana foi administrada na dose de 10.000 UI. Os níveis plasmáticos de LH foram significativamente menores (p

Donation of oocytes as treatment for infertility in patients with premature ovarian failure. Awarded the "Nicolau de Moraes Barros" prize for gynecology

Um total de 7 ciclos de transferência de embriöes provenientes da doaçäo de oócitos foram realizados em 5 pacientes portadoreas de insuficiência ovariana precoce. As doadoras possuíam idade inferior a 35 anos, e as receptoras, apresentavam idade média de 38,6 anos. No esquema de sincronizaçäo entre doadora e receptora usou-se um ciclo semiprogramado com pílula, seguido de estimulaçäo da doadora com citrato de clomifeno e gonadotrofina menopausal humana. As receptoras foram facilmente acopladas com as doadoras através de um modelo flexível de doses crescentes de valerianato de estradiol. O número médio de oócitos doados foi de 3.14, a taxa de clivagem embrionária média de 80,2 por cento, sendo o número médio de embriöes transferidos de 2.57. A taxa de implantaçäo embrionária foi de 22,2 por cento. As gestaçöes clínicas ocorreram em 57,1 por cento dos ciclos. Provavelmente, essa série é a primeira apresentada na literatura nacional sobre a doaçäo de oócitos no tratamento da infertilidade em pacientes com insuficiência ovariana precoce

A ultra-sonografia endometrial como fator preditivo de gravidez num programa de fertilizaçäo in vitro / Endometrial ultrasonography as a predictor of pregnancy in an in-vitro fertilization programme

A espessura e padräo endometrial foram analisados por ultrasonografia em 100 ciclos estimulados para fertilizaçäo "in vitro" no dia da administraçäo do hormônio gonadotrófico coriônico (hCG). Em 86 ciclos empregou-se para a estimulaçäo ovariana um esquema semiprogramado com pílula + citrato de clomifene + gonadotrofina menopausal humana (hCG), e nos 14 ciclos restantes usou-se um análogo do hormônio liberador de gonadotrofinas GnRH/leupro-lide) na forma de bloqueio de longa duraçäo seguido de hMG. No dia do hCG a espessura e o padräo endometrial foram avaliados por um ultrasom Ultramark 4 (ATL) com transdutor vaginal de 5 MHz. A espessura endometrial foi significativamente inferior (p = 0.03) nos ciclos semiprogramados (8.8 ñ 2.0 mm) do que a observada no grupo com análogo do GnRH (10.2 ñ 2.0mm). A distribuiçäo dos padröes I (multicamada ou "3 linhas") e II (inteiramente homogêneo, hiperecogênico em relaçäo ao tecido miometrial) em ambos os protocolos de estimulaçäo näo foram significamente diferentes (p = 0.91). A espessura endometrial no dia do hCG no grupo com padräo I (µ1 = 8.9 ñ 2.1 mm) foi similar (p = 0.76) a observada no padräo II (µ2 = 9.0 ñ 1.9 mm). Além disso, a espessura endometrial nas pacientes que engravidaram (µg = 8.5 ñ 2.2 m) näo diferiu (p = 0.22) das näo gravidas (µng = 9.0 ñ 1.9 mm). Näo houve diferença entre a incidência de gravidez nos grupos com padräo endometrial I e II (p = 0.42). Em conclusäo, os dados deste trabalho näo evidenciaram um valor preditivo de gravidez para a análise ultrasono-gráfica da espessura e refringência endometrial no dia do uso de hCG em ciclos de FIV

Taxas de clivagem embrionária após inseminaçäo de oócitos com espermatozóides capacitados no fluido folicular / Rate of cleavage after oocytes insemination with spermatozoa capacitated in follicular fluid

A finalidade este estudo foi comparar as taxas de clivagem de embriöes após inseminaçäo de oócitos com espermatozóides capacitados na presença ou näo de fluido folicular. No primeiro experimento, um total de 67 oócitos foram inseminados com espermatozóides que tiveram parte do procedimento de capacitaçäo com incubaçäo curta em fluido folicular (21 oócitos - experimento I) e espermatozóides capacitados com uso de apenas o meio de cultura Menezo B2 (46 oócitos - controle). Näo houve diferença (p=0.89) entre o número de embriöes obtidos: 13 (experimento I) e 29 (controle). No segundo experimento, um total de 49 oócitos foram inseminados com espermatozóides que tiveram todo o procedimento de capacitaçäo realizado com fluido folicular num tempo de incubaçäo longo (13 oócitos - experimento II) e espermatozóides capacitados com o uso de apenas o meio de cultura Menezo B2 (36 oócitos - controle). Näo houve diferença (p=0.31) entre o número de embriöes obtidos : 7 (experimento II) e 25 (controle). A ausência de diferenças entre as taxas declivagem nos dois experimentos informa que o fluido é um meio capaz de preparar adequadamente os espermatozóides, propiciando o fenômeno de capacitaçäo adequado. Contudo esta açäo do fluido näo é superior a observada com o uso de um meio de cultura comum com o Menezo B2

Técnicas de capacitaçäo espermática / Sperm capacitation techniques

Os autores estudaram diversas tecnicas de capacitacao espermatica: camada, sedimentacao-migracao ou swin-up, la de vidro, colunas de albumina, descontinuo gradiente de Percoll ou Nycodenz. O significado pratico do emprego destas tecnicas e discutido em relacao as caracteristicas previas das amostras de esperma.

Cálculo dos níveis de estradiol plasmático pela medida ultra-sonográfica dos folículos ovarianos / Calculation of plasma estradiol levels by analysis of number of follicles measured by untrasound

O exame ultra-sonografico pulvico (US) e a medida do estradiol (E2) sao os metodos basicos para monitoragem do processo de desenvolvimento folicular. Esse estudo aplica uma equacao de multipla regressao (EMR) para obter os niveis de E2 em ciclos ovarianos estimulados, apos uma analise do numero de foliculos presentes, agrupados segundo seus diametros maiores ultra-sonograficos, em "A" de 10 a 14 mm, "B" de 15 a 16 e "C" ( 17 mm. Inicialmente, os niveis de E2 foram medidos por EIE em 47 pacientes no dia do uso do hCG. Retrospectivamente, o lote folicular foi analisado por US em termos do numero de foliculos do tipo A, B, C. Obteve-se uma EMR para os niveis de E2 por EIE; E2 = 566 + 95A + 98B + 108C. Posteriormente, num estudo prospectivo, os niveis de E(2) foram medidos por EIE e pela EMR em 36 casos no dia do emprego do hCG. Nao houve diferencassignificativas entre os dois grupos de dosagens (p = 0,26). Assim sendo, o uso da EMR permite com relativa precisao a medida de E(2) plasmatico. Contudo, seriaconveniente, para cada servico, calcular sua propria equacao de multipla regressao.

Inseminaçäo artificial homóloga com espermatozóides capacitados no fluido folicular humano / Homologous artificial insemination with spermatozoa capacited in human follicular fluid

No presente trabalho, os autores avaliaram um novo metodode preparo do esperma atraves da migracao dos espermatozoides em fluido folicular humano. Um total de 14 pacientes com esterilidade conjugal por fator cervical, fator masculino ou esterilidade sem causa aparente foi submetido a um ciclo de inseminacao artificial homologa, com as espermatozoides sendo capacitados com o fluido folicular humano. Obteve-se uma taxa de gravidez de 14,28 por cento por ciclo de inseminacao.

Pode o tipo da inseminaçäo ser determinado pelo volume do material injetado no útero? / Can the insemination type be determined by the volume of injected material into the uterus?

Para se verificar se o tipo de inseminacao e determinado pelo volume do material injetado no utero, um grupo de 10 pacientes foram submetidas a um exame radiografico simples, logo apos a injecao na regiao fundica do utero de diferentes volumes de contrates. Os dados mostraram que volumes de 0,4 ml a 1 ml rotulariam a inseminacao como utero-tubaria, enquanto a inseminacao intra-uterina pura apenas ocorreria em volumes de 0,2 ml, e em algumas ocasioes comvolumes de 0,3 ml. Tal fato poderia explicar as variacoes dos resultados da inseminacao como metodo terapeutico em infertilidade.

Influência do pH do muco cervical no teste pós-coito / Influence of the cervical mucus pH in the postcoitus test

Estudou-se a influencia da variacao do pH nos resultados do teste pos-coito (TPC) de longa duracao quando o muco cervical e ideal (segundo os criterios de Moghissi) e o espermograma normal. A incidencia de TPC anormais e significativamente maior (p < 0,01) nos casos de pH < 7 (pH acido) em comparacao com aqueles nos quais o pH foi maior ou igual a 7. O escore de Moghissi naoinclui a medida do pH do muco endocervical. Entretanto, os dados obtidos indicamque sua medida deve ser obrigatoria para uma adequada avaliacao do TPC e um correto planejamento terapeutico.