ABSTRACT
Desenvolvimentos tecnológicos e novas práticas médicas estão reconfigurando a experiência de morrer. Sob essa ótica, realizamos um estudo etnográfico em um hospital geral no Nordeste brasileiro, enfocando as práticas médicas junto a pacientes críticos na Unidade de Tratamento Intensiva. Observamos condutas médicas de aceitação da morte, tais como: não reanimar pacientes considerados irrecuperáveis, ajuste do respirador para controle menos rigoroso e diminuição de drogas psicoativas. Identificamos uma ética informal existente entre o grupo médico da unidade, que possibilita tais condutas. Apesar de não corresponder às diretrizes formalizadas pela instituição, esta ética informal reinventou estas diretrizes à luz de dilemas cotidianos e adquiriu, ao longo do tempo, uma normatividade, consolidando-se como um bioética local. Essa reinvenção aponta para novas formas de experiências que emergem da interação de avanços biocientíficos, poder médico e padrões locais de exclusão e inclusão social.