ABSTRACT
O texto apresenta análises e reflexöes desenvolvidas no Laboratório de Psicopatologia e Psicanálise da Universidade de Brasília acerca da questäo do(s) 'ele(s)' na obra O Processo, de Franz Kafka, e em um caso de delírio de perseguiçäo. Investigou-se especialmente o estatuto do pronome 'ele' na paranóia. O trabalho mostra que o entendimento do que ''é (säo) ele(s)'' é elemento essencial para a elucidaçäo da questäo da estranheza na psicose e da construçäo da atividade delirante. O estudo da dimensäo referencial da linguagem se revela entäo particularmente importante. Ao longo do texto säo apontadas algumas questöes e articulaçöes entre a análise procedida, a psicanálise, a fenomenologia e a comunicaçäo lingüística, tendo como hipótese essencial que a psicose consiste na perda e reconstruçäo narcísica da funçäo referencial da linguagem
Subject(s)
Delirium , Psychotic Disorders , PsychoanalysisABSTRACT
Este trabalho apresenta uma possível soluçäo para problemas suscitados pelo entendimento do fenômeno delirante segundo o modelo de uma teoria restrita da referência absoluta, na qual as palavras e, consequentemente, os juízos, corresponderiam às coisas como um alfabeto lógico. Na concepçäo pragmática aqui adotada, a linguagem é tomada por um jogo regido por regras em que a eficácia da cooperaçäo discursiva é mais importante do que o significado ideal das expressöes. A teoria dos atos de fala se mostra a mais bem acabada soluçäo da pragmática filosófica nesse sentido e é usada como princípio metodológico na análise dos excertos de fala de pacientes delirantes que constituem os corpus discursivos. O delírio termina por se mostrar como uma soluçäo inédita para questöes cruciais da história do indivíduo psicótico
Subject(s)
Delirium , Language , Psychotic Disorders , SpeechABSTRACT
O esclarecimento da natureza do delírio conforme uma teoria da referência é o objetivo desse trabalho. A categoria da referência é investigada à luz da filosofia analítica da linguagem e da psicopatologia. Toda a reflexäo teórica se desenvolve a partir da análise de excertos da fala de pacientes psicóticos e constata-se que o pensamento psicótico é caracterizado pela quebra do processo habitual de referenciaçäo. É demonstrada a insuficiência de se conceber o delírio como apenas um erro judicativo e a necessidade de considerar as asserçöes delirantes dentro dos contextos mais amplos da linguagem ordinária e assim evidenciar a sua especificidade