ABSTRACT
Na atualidade, questöes ligadas à saúde dos adolescentes têm sido predominantemente interpretadas segundo o paradigma biomédico, que toma a adolescência um fenômeno natural, universal. Tal visäo unívoca e a histórica enfatiza o caráter teleológico do desenvolvimento humano, em que a adolescência näo é mais que uma etapa de transiçäo em direçäo à idade adulta, daí que privilegie o critério cronológico como seu principal demarcador. Advoga-se a sua compreensäo como um constructo social, produto da Revoluçäo Industrial, que adquire visibilidade ao final do século XIX, na esteira do movimento de proteçäo à maternidade e à infância iniciados no século anterior. Admitir o caráter histórico-social do objeto adolescência implica pensá-la como um conceito necessariamente plural e em permanente evoluçäo, atravessado por categorias como classe social, religiäo, raça e gênero, de tal forma que o adolescente genérico näo seria mais que uma metáfora, um instrumento de intelegibilidade. O deslocamento da ênfase do substrato biológico para os múltiplos processos de sua construçäo, histórica, cultural e socialmente determinados, operaria a necessária subordinaçäo da dimensäo natural à dimensäo histórica