ABSTRACT
Os autores - a partir de uma concisa revisão do conceito de transferência e da discussão de um caso clínico inusitado - pretendem abordar quais são as conseqüências pessoais e institucionais que decorrem do envolvimento sexual do analista com seu paciente, estabelecendo o nexo entre amor de transferência e fracasso terapêutico. Embora o setting, a formação profissional e, especialmente, a análise pessoal, representem fatores de segurança para que essa situação seja entendida e não atuada, esse risco esta sempre presente. Consideram a importância de não se assumir uma atitude punitiva com o transgressor e sim reflexivo, no sentido de entender suas motivações mais profundas. No entanto, foi preciso que se passassem algumas décadas para que este fenômeno - tão comum e tão pouco descrito na nossa literatura científica - pudesse ser visto de uma perspectiva que propiciasse uma melhor compreensão. A transgressão com pacientes sempre assustou a comunidade analítica, mexendo nos seus alicerces e, por isso, a necessidade de regras intocáveis. A mudança nesse contexto ocorreu com a evolução no conceito de contratransferência e sua conseqüente valorização como um elemento técnico fundamental. Além disso, o conceito de campo analítico, rejuvenescido por autores modernos, a importância dada para os aspectos intersubjetivos da dupla, e as contribuições de Caper (1999) sobre a teoria do continente, contribuíram para que o analista passasse a ter vida na sessão, deixando de ser apenas um mero interprete de fenômenos intrapsíquicos que ocorrem no outro. No entanto, ao dar-lhe vida própria, a psicanálise também tornou-o humano, vulnerável a sentimentos e envolvimentos até então condenados. Mas também propiciou um entendimento para o que antes era condenado.