ABSTRACT
O aumento no número de crianças nascidas com microcefalia no Brasil associado à infecção de gestantes pelo Zika vírus (ZIKV) levou à declaração do estado de emergência internacional no ano de 2015. Com o objetivo de avaliar a condição de saúde bucal e a qualidade de vida associada à saúde bucal (QVSB) destas crianças, nascidas no estado do Rio de Janeiro (RJ), desenvolveu-se esse estudo longitudinal do tipo série de casos. Buscou-se ainda mapear através de uma revisão de escopo (RE). as principais alterações orofaciais em crianças brasileiras afetadas. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do HUPE-UERJ (82775617.2.0000.5259). As mães que assinaram o termo de Consentimento, foram entrevistadas sobre o histórico de saúde na gestação, parto, e desenvolvimento da criança. O exame clínico foi realizado em equipo odontológico por um único examinador treinado e calibrado, a cada seis meses. A versão brasileira do questionário "Early Childhood Oral Health Impact Scale" (ECOHIS-B) foi aplicada aos 24 meses. Os dados foram analisados com o programa SPSS v.21 (IBM Corp, Armonk, NY, USA). A RE seguiu a metodologia preconizada pelo "Joanna Briggs Institute Reviewer's Manual" e as diretrizes "Preferred Reporting Items for Systematic reviews and Meta-Analyses extension for Scoping Reviews" (PRISMA-ScR Para as 34 crianças acompanhadas até os 30 meses, as principais alterações foram: atraso na erupção dos dentes decíduos, alteração na sequência de erupção (n=14; 41,1%), agenesia (n=5; 14,7%) e alteração de forma (n=8; 23,8%); cistos de erupção (n=8; 23,5%), bruxismo (n=22; 64,7%), sangramento gengival (n=19; 55,8%), mordida aberta anterior (n=16; 47%) e palato ogival (n=22; 64,7%). Nenhuma criança apresentou cárie. Com relação à QVSB, 30 mães responderam ao questionário, e os valores variaram de 0 a 24 (média 8,2; DP=5,9; mediana=7,5), sendo observada uma maior frequência de impacto nas crianças quanto à irritabilidade, e nas famílias, para os itens ficar aborrecido e sentir-se culpado. Na RE, 20 estudos atenderam aos critérios de inclusão, e as principais alterações foram: atraso e alteração na sequência de erupção, defeitos de desenvolvimento de esmalte, anomalia dentária de número e forma, bruxismo, palato ogival e hipotonia labial e lingual. Concluiu-se que crianças com microcefalia atribuída à infecção congênita por ZIKV nascidas no RJ apresentam alterações buco-dentárias e comprometimento da qualidade de vida associada à saúde bucal, e que a Síndrome Congênita do Zika vírus tem potencial de afetar a saúde orofacial de crianças brasileiras(AU)
The increase of number of children born with microcephaly in Brazil associated to the infection of pregnant by the Zika virus (ZIKV) this led the World Health Organization to declare an international public health state of emergency in 2015. The aim of this study was to evaluate the oral health condition and the quality of life associated with oral health (QoLOH) of children born in the state of Rio de Janeiro (RJ) with microcephaly attributed to congenital ZIKV infection, via the e longitudinal study of case series type, and to the oral and orofacial alterations in Brazilian children affected described in the scientific literature using a scoping review (SR). The study was approved by the Research Ethics Committee of HUPE-UERJ (82775617.2.0000.5259). After signing the informed consent term, the mothers were interviewed about their health history during pregnancy, type of delivery, characteristics of the child's development, eating habits and oral hygiene; and clinical examination performed in dental equipment every six months by a single trained and calibrated examiner. The Brazilian version of the questionnaire "Early Childhood Oral Health Impact Scale" (ECOHIS-B) was applied in the consultation conducted after the child was 24 months old. The data were analyzed with the statistical program SPSS v.21 (IBM Corp, Armonk, NY, USA). The SR followed the methodology recommended by the "Joanna Briggs Institute Reviewer's Manual" and following the guidelines "Preferred Reporting Items for Systematic reviews and Meta-Analyses extension for Scoping Reviews" (PRISMA-ScR). For the 34 children followed up to 30 months the main oral alterations identified were: delay in eruption of deciduous teeth, change in the sequence of tooth eruption (n=14; 41.1%), agenesis (n=5; 14.7%) and dental form changes (n=5; 14.7%); rash cysts (n=8; 23.5%), bruxism (n=22; 64.7%), gingival bleeding (n=19; 55.8%), anterior open bite (n=16; 47%), ogival palate (n=22; 64.7%). No child had dental caries. Regarding QolOH, 30 mothers answered the ECOHIS-B questionnaire; there were missing data in 21, all related to impacts experienced by children. ECOHIS-B values ranged from 0 to 24 (mean 8.2; SD=5.9; median=7.5). Impact on children presented higher frequency for: irritability (n=17; 56.7%) and pain in the mouth or teeth (n=16; 53.3%), and in families: feeling upset (n=12; 40%) and feeling guilty (n=6; 20%). There 20 studies met the inclusion criteria of SR the main orofacial alterations mentioned were: alteration in the chronology of eruption with delay and alteration in the sequence of eruption, defects of enamel development, tooth anomaly of number and form, bruxism, altered lingual frenulum, ogival palate and lip and lingual hypotonia. This study concluded that children with microcephaly attributed to congenital ZIKV infection born in RJ present oral and dental alterations and impairment of quality of life associated with oral health, and that Congenital Zika Virus Syndrome can affect the oral health of children(AU)