ABSTRACT
OBJETIVO: Este artigo discute a ativação diferencial do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal no transtorno de ansiedade generalizada e no transtorno de pânico. MÉTODO: Resultados de recentes revisões da literatura são resumidos e discutidos. RESULTADOS: Os resultados de estudos experimentais que dosaram o hormônio adrenocorticotrópico, o cortisol e a prolactina mostram que ataques de pânico naturais, bem como os provocados por agentes panicogênicos seletivos - como lactato de sódio e dióxido de carbono -, não ativam o eixo hipotálamo-pituitária-adrenal. Agonistas do receptor de colecistocinina do tipo B, como o peptídeo colecistocinina-4 e a pentagastrina, elevam os hormônios de estresse, independentemente da ocorrência de um ataque de pânico, parecendo ativar diretamente o eixo hipotálamo-pituitária-adrenal. O antagonista benzodiazepínico flumazenil não eleva o nível dos hormônios de estresse; porém, este agente farmacológico não induz ataques de pânico de modo consistente. Agentes farmacológicos que aumentam a ansiedade em pacientes de pânico (cafeína, ioimbina, agonistas serotonérgicos), assim como em pessoas saudáveis, elevam o nível dos hormônios de estresse. CONCLUSÕES: Além das diferenças na sintomatologia e na resposta farmacológica, o transtorno de ansiedade generalizada e o transtorno de pânico afetam os hormônios de estresse de modo distinto. Enquanto a ansiedade antecipatória e o transtorno de ansiedade generalizada ativam tanto o eixo hipotálamo-pituitária-adrenal como o simpático-adrenal, o ataque de pânico causa acentuada ativação simpática; porém, afeta pouco o eixo hipotálamo-pituitária-adrenal.
OBJECTIVE: This article focuses on the differential activation of the hypothalamic-pituitary-adrenal axis in generalized anxiety disorder and panic disorder. METHOD: The results of recently reported reviews of the literature are summarized and discussed. RESULTS: The results of experimental studies that assayed adrenocorticotropic hormone, cortisol and prolactin show that real-life panic attacks, as well as those induced by selective panicogenic agents such as lactate and carbon dioxide, do not activate the hypothalamic-pituitary-adrenal axis. Agonists of the cholecystokinin receptor B such as the cholecystokinin-4 peptide and pentagastrin increase stress hormones regardless of the occurrence of a panic attack and, thus, seem to activate the hypothalamic-pituitary-adrenal axis directly. The benzodiazepine antagonist flumazenil does not increase stress hormones, but this agent does not reliably induce panic attacks. Pharmacological agents that increase anxiety in both normal people and panic patients (caffeine, yohimbine, serotonergic agonists) raise stress hormone levels. CONCLUSIONS: In addition to the differences in symptomatology and pharmacological response, generalized anxiety disorder and panic disorder affect stress hormones in distinct ways. While anticipatory anxiety and generalized anxiety disorder activate both the hypothalamic-pituitary-adrenal and the sympathoadrenal axes, panic attack causes major sympathetic activation, but has little effect on the hypothalamic-pituitary-adrenal axis.
Subject(s)
Animals , Humans , Hypothalamo-Hypophyseal System/physiopathology , Panic Disorder/physiopathology , Pituitary-Adrenal System/physiopathology , Stress, Psychological/physiopathology , Adrenocorticotropic Hormone/metabolism , Carbon Dioxide/metabolism , Disease Models, Animal , Hypothalamo-Hypophyseal System/metabolism , Lactic Acid/metabolism , Panic Disorder/metabolism , Panic Disorder/psychology , Pituitary-Adrenal System/metabolism , Prolactin/metabolism , Stress, Psychological/metabolismABSTRACT
This article reviews reported results about the effects of drugs that act upon the serotonergic neurotransmission measured in three elevated mazes that are animal models of anxiety. A bibliographic search has been performed in MEDLINE using different combinations of the key words X-maze, plus-maze, T-maze, serotonin and 5-HT, present in the title and/or the abstract, with no time limit. From the obtained abstracts, several publications were excluded on the basis of the following criteria: review articles that did not report original results, species other than the rat, intracerebral drug administration alone, genetically manipulated rats, and animals having any kind of experimental pathology. The reported results indicate that the effect of drugs on the inhibitory avoidance task performed in the elevated T-maze and on the spatio temporal indexes of anxiety measured in the X and plus mazes correlate with their effect in patients diagnosed with generalized anxiety disorder. In contrast, the drug effects on the one-way escape task in the elevated T-maze predict the drug response of panic disorder patients. Overall, the drug effects assessed with the avoidance task in the T-maze are more consistent than those measured through the anxiety indexes of the X and plus mazes. Therefore, the elevated T-maze is a promising animal model of generalized anxiety and panic disorder.
No presente artigo, revisamos resultados publicados relatando efeitos de drogas que atuam na neurotransmissão serotonérgica medidos em três labirintos elevados, que são modelos animais de ansiedade. Realizamos uma busca bibliográfica no MEDLINE, usando diferentes combinações das palavras-chave: X-maze, plus-maze, T-maze, serotonin e 5-HT, presentes no título ou no resumo, sem limite de tempo. Dos resumos obtidos, vários foram excluídos com base nos seguintes critérios: artigos de revisão que não continham resultados originais, espécies diferentes do rato, apenas injeções intracerebrais, ratos geneticamente manipulados, animais com algum tipo de patologia experimental. Os resultados relatados indicam que o efeito de drogas na tarefa de esquiva inibitória desempenhada no labirinto em T elevado, bem como nos índices espaciais de ansiedade nos labirintos em X ou em forma de cruz se correlacionam com os efeitos em pacientes diagnosticados com o transtorno de ansiedade generalizada. Por outro lado, os efeitos de drogas na tarefa de fuga unidirecional do labirinto em T predizem a resposta a drogas dos pacientes com o transtorno de pânico. De modo geral, os efeitos de drogas sobre a tarefa de esquiva no labirinto em T são mais consistentes que os medidos pelos índices de ansiedade calculados nos labirintos em X e em forma de cruz. Portanto, o labirinto em T-elevado é um modelo promissor dos transtornos de ansiedade generalizada e de pânico.
Subject(s)
Animals , Mice , Rats , Anxiety/physiopathology , Escape Reaction/physiology , Serotonin Agents/pharmacology , Serotonin/physiology , Anxiety/drug therapy , Disease Models, Animal , Escape Reaction/drug effectsABSTRACT
Anxiety disorders are classified according to symptoms, time course and therapeutic response. Concurrently, the experimental analysis of defensive behavior has identified three strategies of defense that are shared by different animal species, triggered by situations of potential, distal and proximal predatory threat, respectively. The first one consists of cautious exploration of the environment for risk assessment. The associated emotion is supposed to be anxiety and its pathology, Generalized Anxiety Disorder. The second is manifested by oriented escape or by behavioral inhibition, being related to normal fear and to Specific Phobias, as disorders. The third consists of disorganized flight or complete immobility, associated to dread and Panic Disorder. Among conspecific interactions lies a forth defense strategy, submission, that has been related to normal social anxiety (shyness) and to Social Anxiety Disorder. In turn, Posttraumatic Stress Disorder and Obsessive-Compulsive Disorder do not seem to be directly related to innate defense reactions. Such evolutionary approach offers a reliable theoretical framework for the study of the biological determinants of anxiety disorders, and a sound basis for psychiatric classification.
Os transtornos de ansiedade são classificados conforme a sintomatologia, decurso temporal e resposta terapêutica. Paralelamente, a análise experimental dos comportamentos de defesa identificou três estratégias comuns a diferentes espécies de animais, desencadeadas por situações de perigo predatório potencial, distal ou proximal, respectivamente. A primeira consiste na investigação cautelosa do ambiente, avaliando o risco. Supõe-se que a emoção que a acompanha seja a ansiedade e sua patologia, o Transtorno de Ansiedade Generalizada. A segunda é expressa pela fuga orientada ou pela inibição comportamental, sendo a emoção correlata o medo, e a patologia representada pelas Fobias Específicas. Finalmente, a terceira estratégia consiste na fuga desordenada ou na total imobilidade, relacionando-se com o pavor e o Transtorno de Pânico. Nas interações entre indivíduos da mesma espécie, aparece uma quarta estratégia de defesa, a submissão, que tem sido relacionada com o Transtorno de Ansiedade Social. Já o Transtorno de Estresse Pós-Traumático e o Transtorno Obsessivo-Compulsivo não estão diretamente relacionadoscom reações de defesa inatas. Esta abordagem evolucionária oferece um paradigma teórico confiável para o estudo dos determinantes biológicos dos transtornos de ansiedade, que pode melhor fundamentar a classificação psiquiátrica.
Subject(s)
Humans , Animals , Anxiety Disorders/psychology , Defense Mechanisms , Emotions , Anxiety Disorders/classification , Obsessive-Compulsive Disorder/psychology , Panic Disorder/psychology , Phobic Disorders/psychology , Stress Disorders, Post-Traumatic/psychologyABSTRACT
Ao longo da história da psiquiatria, observa-se uma oscilação entre uma perspectiva biológica e outra mentalista. A perspectiva biológica enfatiza explicações calcadas no sistema nervoso central e intervenções psicofarmacológicas. Por outro lado, a perspectiva mentalista prioriza a experiência subjetiva e intervenções através da psicoterapia. Embora o embate entre estas duas perspectivas esteja longe de ser resolvido, o presente trabalho defende uma posição intermediária, privilegiando um equilíbrio entre estas duas perspectivas. Ao longo do artigo, apresenta-se o pensamento de autores dualistas, que propõem uma interação entre mente e cérebro, assim como de autores monistas, que consideram o cérebro como gerador dos processos mentais. Discute-se, também, a crítica que o conhecimento de natureza subjetiva, produzido pela psicanálise, vem sofrendo por parte de alguns neurocientistas. Finalmente, considera-se o conceito de complementaridade, elaborado pelos físicos quânticos Heisenberg e Bohr, como uma possível forma de solucionar o impasse epistemológico entre psicanálise e neurociência.