ABSTRACT
O presente trabalho baseou-se na hipótese de que aspectos relacionados à comunicaçäo familiar poderiam interferir no desenvolvimento e manutençäo da patologia crônica de ouvido médio, mais especificamente a otite média com efusäo. Foram investigados, através de entrevistas e Procedimentos de Desenho de Família com Estórias, os membros de cinco famílias selecionadas através da identificaçäo de crianças com história de cronicidade em patologia de ouvido médio e portadoras de alteraçäo efetiva ou seqüela do quadro patológico ao momento da avaliaçäo atual. Os resultados foram analisados com base no referencial psicanalítico, priorizando-se os aspectos do relacionamento familiar e as concepçöes relativas à doença. Identificamos que as experiências de vida pessoal de pais e mäes em suas famílias de origem e a näo correspondente elaboraçäo das perdas vividas colaboraram para que repetissem, em suas famílias atuais, a mesma condiçäo de ausência na vida de seus filhos. Verificamos ainda que a relaçäo inicial entre a mäe e seu bebê, parece ter interferido no desenvolvimento da patologia em tenra idade, demonstrando, estas mäes, näo terem se apresentado disponíveis para o atendimento incondicional das necessidades de seus bebês. A näo satisfaçäo imediata às necessidades do bebê parece ter-lhes proporcionado a perda de referenciais básicos de identidade necessários à continuidade da condiçäo intra uterina. Em suas falas, as crianças deste estudo revelam conter, na doença física, os sentimentos de hostilidade relacionados à ausência de figuras parentais, em especial a da mäe. Revelam näo terem sido percebidos pelos pais em suas verdadeiras necessidades, mantendo-se, ainda hoje, em busca da relaçäo afetiva almejada. Sugerem que a comunicaçäo afetiva näo é facilitada e que esta condiçäo tende a se repetir pela falta de experiência