ABSTRACT
Este estudo teve por objetivo construir e analisar as propriedades psicométricas de um instrumento denominado MIHIS (Molar Incisor Hypomineralization Impact Scale) proposto e desenvolvido na língua portuguesa para condição-específica de Hipomineralização Molar-Incisivo (HMI). A finalidade deste instrumento é estimar o impacto desta condição na qualidade de vida relacionada à saúde bucal de crianças. Foram realizadas etapas metodológicas importantes para o desenvolvimento deste instrumento. A primeira etapa foi composta por uma metodologia qualitativa conduzida para compreender a percepção de saúde bucal de 23 pares de mães e crianças de 8 a 12 anos de idade com diferentes gravidades de HMI. Foram realizadas entrevistas face-a-face seguindo um roteiro semiestruturado com os pares de mães e crianças atendidas na Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. As transcrições foram analisadas mediante Análise Temática. A segunda etapa metodológica consistiu em desenvolver itens relevantes para o instrumento, validar o seu conteúdo junto a um comitê de 10 especialistas referentes na área do estudo e aplicá-lo em uma fase pré-teste com 8 crianças com HMI. Na terceira etapa, foram selecionadas, por meio de um estudo epidemiológico, crianças de 8 a 12 anos de idade para conhecer a prevalência deste defeito de esmalte em crianças participantes de um programa de saúde bucal no Município de Diadema-SP e para a aplicação do questionário proposto nas crianças com HMI. A partir desses dados, foi possível realizar a quarta etapa do estudo com a análise das propriedades psicométricas do questionário MIHIS. Como resultados da etapa qualitativa, crianças com HMI e suas mães apresentaram importantes percepções de saúde bucal e foram emergidas quatro temáticas relevantes: Queixas sintomatológicas comuns; Aparência dentária afetada; Comportamento psicossocial e Expectativas e apoio, ilustrando os possíveis impactos de aspectos associados à HMI no cotidiano destas crianças. Como resultados da etapa de construção de itens, uma versão do instrumento com 20 itens foi obtida após a validação de conteúdo e fase pré-teste. Os resultados do estudo epidemiológico encontraram uma prevalência de 20,9% de crianças com HMI no Município de Diadema-SP. Foram coletados dados socioeconômicos, clínicos e do questionário MIHIS de 177 crianças com HMI de diferentes gravidades. Foram conduzidas análise fatorial exploratória e análise paralela, das quais inicialmente foi indicado um modelo bifatorial. Análises complementares para avaliar a unidimensionalidade do instrumento foram realizadas, permitindo identificar a dimensionalidade do MIHIS, sugerindo uma solução unifatorial como a mais representativa dos dados. O instrumento na sua versão final apresentou 19 itens com cargas fatoriais variando de 0,39 a 0,86. A consistência interna foi obtida pelo alfa de Cronbach de 0,87 e ômega de McDonald's de 0,88 e valor teste-reteste de 0,94. Desfechos clínicos relacionados à HMI como a presença dos quatro molares permanentes afetados, envolvimento, número e cor de incisivos, presença de hipersensibilidade dentinária, dor moderada à severa, quebras pós-irruptivas em dentina e restaurações atípicas avaliados pelo teste U de Mann-Whitney foram significativos para o construto (p<0,01), com tamanho de efeito variando de 0.64 a 0.21. O instrumento MIHIS, interpretado em um modelo unifatorial, apresentou propriedades psicométricas aceitáveis para crianças brasileiras com essa condição na faixa etária de 8 a 12 anos de idade.