ABSTRACT
Trata-se, neste artigo, de apresentar um debate entre duas pesquisadoras que trabalham, uma com Baudrillard e outra com Lacan, para uma simultânea aproximação e distinção da teoria destes autores. A obra de ambos não é de fácil compreensão, mas compreendemos que seu caráter obscuro é intencional: tem o objetivo de exigir dos leitores o esforço de abrir mão de seus modos habituais, naturalizados e, portanto, seguros, de entrada em certo universo de problemas em busca dos sentidos explícitos que o texto comunica, por meio de códigos culturais já estabelecidos. Essa exigência, per si, justifica a aproximação dos autores e, na proximidade, põe em evidência o fato de não serem construções teóricas inassimiláveis, mas desconstruções de um grande texto cultural, que trazem à tona aquilo que tem se mostrado inassimilável pela cultura. Tratando-se de obras vastas, foi necessário promover certo recorte no qual elegemos três pontos centrais e intrinsecamente articulados: o resto, o morto e o Real. Quanto à forma do artigo, com o objetivo de não tamponar as perspectivas particulares dos autores, misturando suas posições, optamos pela recuperação de um estilo deixado em segundo plano na produção acadêmica: o diálogo. Já que Lacan e Baudrillard não tiveram a oportunidade de discutir entre si as questões abordadas, o viável agora é promover o (des)encontro entre seus textos. O diálogo aqui apresentado foi, desde o início, elaboração escrita. Mediante a troca de fragmentos, visou-se, de princípio, estruturar um artigo, em um processo que pretende evidenciar o fato de que o interlocutor, tal como o compreende Bakhtin, faz parte da própria criação narrativa, isto é, escreve-se sempre em meio a um debate com o outro.
This article proposes to present a dialogue between researchers who work, one with Baudrillard and other with Lacan, to show the coincidences and divergences between two approaches of the world contemporary. The work of both is not easy to understand, but this difficulty seems to be intentional: it has the goal to require from the readers the effort to give up the normal modes, naturalized, and therefore safe, to approach a universe of problems in search of explicit directions that the text communicates through cultural codes already established. This goal, per se, justify the approximation of the authors and, in the vicinity, highlights the fact they are not theoretical constructions inconceivable but desconstructions of a great cultural text, which bring to light what has been shown as inconceivable by our culture. For that, it was necessary to promote a cut in which we elected three central points and intrinsically linked: the rest, the dead and the Real. To the form of this article, we opted for the recovery of style left in the background in academic production: the dialogue. Since Lacan and Baudrillard have not had the opportunity to discuss between them, it is now feasible to promote the meeting of their texts. To deal with authors who support theoretical projects with different objectives, the results are presented in the dialogue form, expliciting the interlocution that, in the perspective of Bakhtin, is part of the narrative creation, ie, writes are always in a debate with other.
Subject(s)
Humans , Male , Female , Adult , Communication , Research Personnel , Psychoanalytic TheoryABSTRACT
Tomando a ética judaico-cristã da paternidade, o artigo examina a função do pai na psicanálise por sua relação de afiliação e posterior afastamento da ética religiosa em que é fundada. Em seguida, vale-se de exemplos de casos clínicos discutidos por Freud e de comentários de Lacan sobre o pai, na neurose obsessiva e na paranóia, para estudar seu lugar não apenas na patologia, mas na instituição de um sujeito do desejo. Conclui por apontar uma ética psicanalítica da paternidade na qual o mandamento do pai instaura a cisão do sujeito e o conflito inarredável que o constitui como aquele que vive bem no mal.
Recognizing a Jewish-Christian ethics of paternity the article exams the function of the father in psychoanalysis. This function is related to the affiliation and later to the separation of the religious ethics in which it is founded. It then refers to examples of clinical cases presented by Freud and comments made by Lacan on the father, both in obsessive neurotic and paranoid cases, intends to study the place of the father, not only in pathological cases but in the constitution of the subject of desire. It concludes by pointing to the psychoanalytic ethics of paternity in which the commandment of the father institutes a division in the subject and a non-removable conflict that constitutes him as the one whose better way to live relates always with the evil.
Subject(s)
Humans , Paternity , Psychoanalysis/history , Religion/historyABSTRACT
Objetiva-se considerar em quais condições o homicídio se torna moralmente aceitável como forma de restauração social. Ademais, trata do funcionamento de certos grupos que legitimam o mal e o crime. Para tanto, recorre-se ao modelo fornecido pelo nazismo. A Alemanha de Hitler estabeleceu novos laços sociais, possibilitando a legitimação de uma lei de gozo. Considera-se, aqui, o nazismo, sobretudo, como instrumento para uma leitura do Moisés e o monoteísmo. O texto freudiano aborda a origem do judaísmo, articulando as noções de "estrangeiro" e "assassinato". Freud evidencia, então, que os ideais, o que há de mais nobre em nós, também empuxam ao crime.
Subject(s)
Crime , PsychoanalysisABSTRACT
De início, o artigo identifica uma função interpretante na conceituação do aparato psíquico realizada por Freud. Esta função encontra-se melhor explicada no desenvolvimento da Interpretação dos Sonhos, os quais operam, por sua vez, a mesma função interpretante. Em seguida, argumenta que, desde 1900, Freud conceitua um limite e uma exceção no funcionamento da interpretação nos sonhos, localizando-os, no entanto, em dois tópicos diferentes. A visão de Lacan vem introduzir uma nova inteligibilidade à interpretação ao ressituar os seus limites no lugar mesmo do funcionamento do aparato. Esse instante de impossibilidade, presente em toda interpretação, é examinado tendo em vista a sua conseqüência clínica de apontar para a necessidade do ato analítico, como a intervenção que faz advir o sujeito da análise