ABSTRACT
Toxoplasma gondii é um protozoário parasito intracelular obrigatório disseminado pelo mundo, capaz de infectar células nucleadas de todos os animais de sangue quente: aves e mamíferos, incluindo o homem. Com grande promiscuidade em relação aos seus hospedeiros intermediários, T. gondii é altamente específico quanto à etapa sexuada de seu ciclo intestinal no seu hospedeiro definitivo, o felino. Apesar da importância do ciclo enteroepitelial para o ambiente, há grandes lacunas no entendimento deste ciclo. Grande parte do conhecimento atual é produto do desenvolvimento de pesquisas in vivo em décadas passadas. Hoje a eutanásia de gatos para fins científicos é praticamente proibida e como não existem linhagens contínuas de enterócitos de felinos disponíveis comercialmente, dificulta a realização de pesquisas in vitro. Assim, neste estudo aplicamos o modelo de cultura primária de células epiteliais intestinais de felinos (CEIF) como ferramenta para reproduzir o ciclo sexuado in vitro e identificar os estágios enteroepiteliais do parasito
O monitoramento in situ das células epiteliais intestinais de felino mostrou a reprodutibilidade do fenótipo de enterócitos in vitro e sua característica ultraestrutral. Nas nossas condições experimentais, as monobras na variação da proporção parasito:célula hospedeira, confimou que a relação 1:20 foi determinante para o estabelecimento tanto do ciclo lítico e da cistogênese quanto da indução de formas semelhantes a esquizontes, como revelados por microscopia de luz e eletrônica de transmissão. Foram identificados esquizontes dos tipos C, D e E, apresentando características morfológicas similares às previamente descritas na literatura com base na análise de intestino de gatos infectados experimentalmente por T. gondii. Estes dados indicam que as CEIF simulam in vitro o microambiente celular natural intestinal do felino que favorece o desenvolvimento da esquizogonia. Esta metodologia abre novas perspectivas para investigação de aspectos biológicos e moleculares envolvidos no ciclo entérico de T. gondii in vitro. Além disso, possibilita agregar conhecimento para o desenvolvimento de novas estratégias direcionadas à intervenção da transmissão do parasito, visando interferir numa das principais vias pelas quais a toxoplasmose se propaga, pelas fezes de felinos contaminando o meio ambiente. (AU)