ABSTRACT
Os objectivos da presente investigação foram os de identificar as características específicas das narrativas de vida, dos últimos 5 anos, de sujeitos deprimidos e analisar, em espelho, as diferenças em relação a narrativas semelhantes de sujeitos não deprimidos. Para tal foram seleccionados 10 casos clínicos com diagnóstico de depressão e 10 casos de sujeitos não deprimidos, em tudo equiparados aos primeiros, em excepção da sua condição clínica. A todos foi pedida uma narrativa escrita da sua história de vida, centrada nos últimos 5 anos. As narrativas assim produzidas foram sujeitas a análise de conteúdo, o que permitiu concluir que as narrativas dos sujeitos deprimidos se diferenciavam das do grupo de controlo na medida em que evidenciaram um maior número de referências a acontecimentos de vida negativos, sendo os mais frequentes a vivência da doença, o fim duma relação amorosa, a morte duma figura afectivamente significativa e as emoções negativas associadas. Os acontecimentos de vida foram descritos de forma pessimista, evidenciando uma atenção predominantemente auto-dirigida, sem que tenham sido contempladas perspectivas alternativas. Além disso, os sujeitos deprimidos efectuaram atribuições de sentido internas, estáveis e globais face a acontecimentos negativos e atribuições externas, instáveis e específicas para os acontecimentos positivos.