ABSTRACT
Heidegger deu uma extraordinária contribuição ao estudo fenomenológico da saúde e da enfermidade nos seminários de Zollikon, a única oportunidade, ao longo de sua vida, em que o filósofo pôde tratar com profundidade dessas questões. Aí a enfermidade foi ontologicamente determinada como sendo uma privação da saúde. Contudo, Heidegger não desenvolveu explicitamente o conceito de saúde. O autor busca extrair consequências fenomenológicas das teses expostas nesses seminários a partir de duas determinações aí esboçadas: a essência da saúde humana é a própria essência extática do Dasein em sua abertura ao ser; toda enfermidade é uma "limitação da possibilidade de viver".
In the Zollikon seminars Heidegger gave an extraordinary contribution to the phenomenological study of health and disease. Throughout his life, this was the only chance the philosopher had to deal in depth with these questions. Disease was then determined as an ontological privation of health. Heidegger, however, did not develop an explicit concept of health. The author intends to develop to their full consequences some theses expounded in these seminars taking as reference two determinations then sketched: the essence of human health is identical with Dasein's unfolding essence in its opening to being; any disease is a "limitation of the possibility of living".
Subject(s)
Philosophy , Disease , Freedom , HealthABSTRACT
Ao investigar o significado do conceito de physis em Aristóteles, Heidegger parece defender a idéia de que o corpo físico guarda em si um poder espontâneo de cura, correspondendo à conhecida noção da natura medicatrix. Contudo, em suas exposições nos seminários de Zollikon, ele deixa claro que a saúde e a enfermidade são apenas modos existenciais do Dasein como ser-no-mundo. Por isso, o corpo, com sua fisiologia e sua patologia, estão sempre submetidos ao domínio da essência ex-tática do Dasein; o homem jamais é natureza, como pressupõe a ontologia cartesiana. O artigo realiza um confronto entre essas duas abordagens de Heidegger. Mostra também as conseqüências de três determinações da saúde que são as únicas coerentes com a ontologia fundamental de Heidegger: a enfermidade é uma privação ontológica; a saúde é a potencialidade de ser do Dasein em sua essência ex-tática; o estresse e a enfermidade relacionam-se com o círculo hermenêutico de interpelações e respostas que o Dasein mantém em seu vínculo essencial com o mundo.
In his study about the meaning of the Aristotle's concept of physis, Heidegger seems to espouse the idea that human physical body keeps inside itself a spontaneous power of healing, that responds to the well-known notion of natura medicatrix. However, at the Zollikon seminars, he made clear that health and disease are nothing else than modes of Dasein's existential ways of being-in-the-world. Thus the body, its physiology and pathology are always submitted to the sway of the unfolding essence of Dasein; man never is nature as thinks the Cartesian ontology. This article carries through a confrontation between these two Heidegger's approaches to health. It also shows the consequences of three determinations of health in Heidegger's thought that are coherent with his fundamental ontology: a) disease is a an ontological privation; b) health is a potentiality of the being of Dasein in its unfolding essence; c) stress and disease relate to the hermeneutical circle of addresses and answers that Dasein upholds in its essential bond to the world.