ABSTRACT
O artigo analisa depoimentos de sujeitos surdos sobre os modos como participam de esferas de atividade, nas quais diferentes segmentos da população circulam em eventos do dia-a-dia (no trabalho, em casas comerciais e em serviços públicos, por exemplo). A partir de entrevistas, os achados indicam que os surdos enfrentam dificuldades em situações que, em geral, são triviais para os ouvintes. Ademais, os entrevistados mostram um reconhecimento muito parcial das condições insatisfatórias e desiguais para sua inserção nesses vários espaços, admitindo a naturalidade da dependência do ouvinte ou mesmo atribuindo ao próprio surdo a responsabilidade pelos problemas. As análises evidenciam que as mudanças políticas anunciadas realizam-se de maneira inconsistente. "A eliminação de barreiras atitudinais e de comunicação" implica o enfrentamento de questões concernentes às relações de poder entre surdo e ouvinte e não pode ser concebida como uma soma de iniciativas localizadas.
This paper analyzes statements of deaf subjects on the ways they participate to spheres of activities in which different segments of the population circulate in their everyday life (at work, in commercial places and in public services, for example). The interviews reveal that the deaf are faced with difficulties in situations that, usually, are banal for hearing people. Furthermore, the interviewed show a very partial recognition of the unsatisfactory and unequal conditions for their insertion in these different spaces, and admit their dependency on the hearing as natural or even blame themselves for their problems. The analyses manifest that the political changes announced occur in an inconsistent way. "Eliminating attitude and communication barriers" implies coping with issues linked to the power relationships between deaf and hearing people and cannot be conceived of as a sum of localized initiatives.