ABSTRACT
Resumo Este artigo trata das experiências de mulheres negras organizadas em grupos de ativismo social para lutar por justiça pelas mortes dos seus filhos, vítimas da atuação violenta de agentes do Estado. Essas mortes são analisadas como parte do genocídio da população negra e são resultado da ação de um Estado que opera no modo necropolítico, em que o racismo é ferramenta ideológica para a produção de descartabilidade de corpos negros. Neste trabalho, a partir dos relatos de quatro mulheres residentes em territórios dominados pela violência armada no Rio de Janeiro, conhecemos a forma como elas se organizam politicamente na luta por justiça, memória e reparação; e também seus adoecimentos e estratégias de cuidado individual e coletivo. Observamos a ausência de abrigo das suas demandas pelo sistema de saúde e pelas políticas de assistência social, ao passo que o espaço do ativismo se destaca como produtor de cuidado e acolhimento.
Abstract This paper addresses the experiences of Black women organized in social activism to fight for justice for the deaths of their children, victims of police brutality. These deaths are analyzed as part of the genocide of Black people and result from the action of a State operating in a necropolitical fashion, in which racism is an ideological tool for the production of disposability of Black bodies. In this work, the stories of four women living in territories dominated by gun violence in Rio de Janeiro reveal how they organize themselves politically to fight for justice, memory and reparation; and their illnesses and individual and collaborative care strategies. We observe the refusal of their demands by the health system and the social assistance policies, while the activism stands out as a producer of care and acceptance.
ABSTRACT
O presente artigo refere-se a uma pesquisa, ainda em andamento, que tem por objetivo identificar as lembranças sobre situações de exclusão social e de violação dos direitos humanos de grupos oprimidos tais como mulheres, jovens, idosos, pessoas com deficiência, homossexuais e negros em contextos de desigualdades econômicas e socioculturais. Com base nos referenciais teórico-metodológicos da Psicologia Política (Martín-Baró, 1998) e da Psicologia Comunitária (Maritza Montero, 2002, 2004a/b) realizamos uma pesquisa-ação, tendo em vista construir, com os próprios sujeitos da pesquisa, intervenções/ações que levem ao fortalecimento da comunidade e à mudança social. Neste artigo analisamos apenas os discursos do grupo focal de mulheres-mães de adolescentes que cumprem medida socioeducativa a partir de suas memórias sobre a violação dos direitos humanos. Os discursos trouxeram à luz as vivências de violação experimentadas por essas mulheres-mães, assim como suas denúncias e resistências, e ao mesmo tempo criaram condições para elaborarmos, junto com a comunidade, ações que fortaleçam a luta pelos direitos humanos e a participação política. Percebemos que a memória tem mobilizado ações em favor dos direitos humanos e em torno de políticas públicas que garantam e efetivem os direitos sociais.
The present article refers to a research, still in progress, that aims to identify human rights social exclusion and violation situation memories from oppressed groups, who are in economic and sociocultural inequality contexts if they are compared to the majority of society. These groups include women, young people, old people, disabled people, homosexuals, black people and indigenous. Based on Political Psychology (Martín-Baró, 1998) and Communal Psychology (Maritza Montero, 2002, 2004a/b) theoretical-methodological referential, we accomplished an action research, using own research subjects, owing to reach interventions/actions that make those communities stronger and promote their social changing. In this article, we analyze only teenagers' women-mothers focus group speeches that fulfill socioeducational measures related to their human rights' violation memories. These speeches clarified the violation experiences suffered by those women-mothers, as well as their complaints and resistances. At the same time, it developed conditions to elaborate, with the community, actions that strengthen their human rights and political participation fight. We realize memory has been mobilizing actions in favor of these rights and around public politics, this last one that ensures and actualizes their social rights.