ABSTRACT
Resumo O artigo analisa os registros disciplinares em relação aos povos indígenas, conforme descritos no Relatório Figueiredo, considerando o controle étnico-social exercido durante o período da ditadura militar no Brasil. Nesse sentido, sua possibilidade decorre do trabalho do eixo indígena da Comissão Nacional da Verdade que identificou um conjunto de documentos, dados como desaparecidos desde a década de sessenta. Tais documentos, denominados Relatório Figueiredo, tratam da apuração realizada por uma Comissão de Inquérito sobre as denúncias dos crimes praticados pelo próprio Serviço de Proteção aos Índios contra a população indígena. A opção teórico-metodológica tem como base a genealogia de Foucault, assim como seus postulados acerca de práticas disciplinares. Utilizando-se do Relatório como fonte documental, o artigo identifica as práticas disciplinares utilizadas contra os índios no período da ditadura de 1964 a 1985, evidenciando como o corpo do índio foi atingido pelo poder, enquanto estratégia de controle.
Resumen El artículo analiza los registros disciplinares en relación a los pueblos indígenas conforme descritos en el Informe Figueiredo, considerando el control étnico-social ejercido durante el período de la dictadura militar en Brasil. En ese sentido, su posibilidad deriva del trabajo del eje indígena de la Comisión Nacional de la Verdad que identificó un conjunto de documentos, dados como desaparecidos desde la década de los sesenta. Tales documentos, denominados Informe Figueiredo, tratan del escrutinio realizado por una Comisión de Investigación sobre las denuncias de los crímenes cometidos por el propio Servicio de Protección a los Indios contra la población indígena. La opción teórico-metodológica tiene como base la genealogía de Foucault, así como sus postulados acerca de prácticas disciplinarias. El artículo identifica las prácticas disciplinarias utilizadas contra los indios en el período de la dictadura de 1964 a 1985, evidenciando cómo el cuerpo del indio fue alcanzado por el poder, como estrategia de control.
Abstract The purpose of this research was to analyze disciplinary records relating to indigenous peoples as described in the Figueiredo report, considering the ethnic and social control exercised during the military dictatorship years in Brazil. In this sense, it follows from the context in which the Commission National Truth, through the work of the indigenous stem, has identified a set of documents, reported missing since the sixties: The Figueiredo report, which deals with the investigation of a Commission of Inquiry on allegations of crimes committed by the very Indigenous Protection Service against indigenous population. In fact, these social control mechanisms are not very well known in Brazil; however, they foster relevant studies and research on the surveillance of conduct seen as deviant. As the aim is to verify the aspects of "source" and "imperativeness" of such disciplinary measures, the theoretical option methodology is based on the genealogy of Foucault, as well as his principles on disciplinary practices. Identifying disciplinary practices used with Indians in the period of dictatorship as described in Figueiredo report will therefore be important to understand how native Brazilian's bodies have been assaulted as a result of social control strategies.
Subject(s)
History, 20th Century , Politics , Race Relations/history , Indigenous Peoples , Military Personnel/history , Social Control, Formal , BrazilABSTRACT
Resumo O artigo analisa a participação do antropólogo brasileiro Edgard Roquette-Pinto no debate internacional envolvendo o campo da antropologia física e as discussões sobre miscigenação racial nas primeiras décadas do século XX. Trata especialmente da leitura, das interpretações e das controvérsias que o cientista brasileiro produziu com um grupo de antropólogos e eugenistas norte-americanos, entre eles nomes como Charles Davenport, Madison Grant e Franz Boas. O artigo também problematiza as diferentes formas de leitura e de apropriação intelectual, a circulação internacional de ideias e o modo como as interpretações antropológicas produzidas por Roquette-Pinto ganharam novos sentidos ao romper as fronteiras nacionais.
Abstract The article analyzes Brazilian anthropologist Edgard Roquette-Pinto’s participation in the international debate that involved the field of physical anthropology and discussions on miscegenation in the first decades of the twentieth century. Special focus is on his readings and interpretations of a group of US anthropologists and eugenicists and his controversies with them, including Charles Davenport, Madison Grant, and Franz Boas. The article explores the various ways in which Roquette-Pinto interpreted and incorporated their ideas and how his anthropological interpretations took on new meanings when they moved beyond Brazil’s borders.
Subject(s)
Male , History, 20th Century , Anthropology, Physical/history , Racial Groups , Dissent and Disputes/history , Race Relations/history , Brazil , Racism/history , United StatesABSTRACT
As relações entre Alemanha e Brasil foram influenciadas por diferentes ordens espaciais que coexistiram e se influenciaram, no período de 1870 a 1945. O artigo discute a ideia de viver em mundos diferentes, muito distantes entre si. Argumenta-se que o conceito de distância mudou lenta e regularmente com o aparecimento de modernas tecnologias de comunicação. Ordens espaciais hierarquicamente estruturadas em centros e periferias dominaram as relações nesse período. Os alemães consideravam seu espaço maior e superior ao brasileiro, situação com a qual muitos brasileiros, naquela época, concordavam, entretanto, desde a Primeira Guerra Mundial, não mais quiseram aceitar essa suposta ordem natural.
Relations between Germany and Brazil were influenced by different spatial orders which co-existed and influenced each other between 1870 and 1945. The article discusses the idea of living in different worlds, and being worlds apart. It argues that the concept of distance changed slowly, but surely, with the rise of modern communication technologies. Hierarchically structured spatial orders of centers and peripheries dominated the relationship in this period. Not only the Germans considered their own space superior, and on a higher level than the Brazilian, many Brazilians of the time agreed with this point of view, but also, since the First World War, were not willing to accept this allegedly natural order of the globe any longer.
Subject(s)
History, 19th Century , History, 20th Century , Race Relations/history , Brazil , Germany/ethnology , World War IABSTRACT
O artigo explora a ideia de Europa concebida por Stefan Zweig e Hermann Ullmann nos livros quase homônimos sobre o Brasil, escritos no final da década de 1930 e início de 1940. No contexto político do entreguerras marcado pela ascensão do nazismo, pergunta-se em que sentido a Europa continua a servir de modelo civilizatório e qual a dimensão crítica que se expressa em concepções que invertem os papéis da Europa e do Brasil. Observa-se ruptura parcial com visões dicotômicas e hierárquicas acerca das relações entre o Velho e o Novo Mundo e sugerem-se novas formas de relação entre essas regiões no contexto mundial.
The article examines the idea of Europe conceived by Stefan Zweig and Hermann Ullmann in the similarly titled books about Brazil written in the late 1930s and early 1940s. In the political context between the great wars marked by the rise of Nazism, the question is posed regarding to what extent Europe continues to serve as a model of civilization and what the critical dimension is that is expressed in concepts reversing the roles of Europe and Brazil. One detects a partial rupture with dichotomous and hierarchical viewpoints about the relationship between the Old World and the New World, and new forms of relationship between these regions within the worldwide context are suggested.
Subject(s)
History, 20th Century , Humans , Race Relations/history , Brazil , Europe/ethnology , United StatesABSTRACT
Nina Rodrigues é geralmente conhecido: pelos elogios dos seus admiradores e discípulos, por um lado; pelas críticas às suas teorias por parte dos seus detratores, por outro. Os primeiros o tratam como o herói fundador da antropologia e da medicina legal brasileiras e o primeiro a desenvolver pesquisa científica sobre a presença da África no Brasil. Os segundos o condenam pelas suas teorias fundadas no racismo científico e na criminologia biológica. Neste livro, Mariza Corrêa, na melhor tradição da antropologia, prefere evitar julgamentos anacrônicos para apresentar e compreender as obras escritas e o trabalho institucional de Nina Rodrigues no contexto social e político em que ele vivia. A autora examina a vasta obra deste cientista que morreu com apenas 44 anos em 1906 para revelar que tanto detratores como discípulos tinham um pouco de razão, mas que há muito mais a dizer sobre o professor Nina Rodrigues. Ele tinha 26 anos quando da abolição da escravidão em 1888, tendo se formado médico um ano antes. Mariza Corrêa nos leva pela luta de Nina Rodrigues para estabelecer a medicina legal como disciplina acadêmica e pelos meandros daquilo pelo qual ele seja talvez mais lembrado, isto é, o seu polêmico trabalho sobre raça e a sua condenação da mestiçagem. A autora também trata dos seus escritos sobre o que considerava os limites da liberdade no contexto do enfrentamento entre defensores do direito clássico e aqueles do direito positivo. Para completar o quadro, examina o trabalho dos discípulos de Nina Rodrigues. Dada a atuação de Nina Rodrigues nos campos da medicina legal, da psiquiatria e dos estudos sobre a questão racial, e sua constante preocupação com o destino da nação brasileira, este livro tem se tornado leitura privilegiada para todos os interessados nestes temas, que continuam tão ou mais candentes
Subject(s)
Humans , Forensic Anthropology/history , Racial Groups , Mental Health , Forensic Medicine/history , Race Relations/historyABSTRACT
Aborda os estudos médicos e científicos sobre a anemia falciforme publicados no Brasil nas décadas de 1930 e 1940. A miscigenação foi apontada, pela maioria dos médicos e cientistas, como interferência significativa na epidemiologia da doença no país. Destaca a atuação do hematologista do Instituto Oswaldo Cruz Ernani Martins da Silva, que efetuou análises sanguíneas no interior no Brasil para determinar os grupos populacionais miscigenados e puros, baseado na identificação de hemácias falciformes e da distribuição racial dos grupos sanguíneos. Analisam-se as ambivalências existentes na associação entre a anemia falciforme e 'raça negra' durante os anos de 1930 e 1940 no Brasil.
Subject(s)
History, 19th Century , Black People , Anemia, Sickle Cell/etiology , Anemia, Sickle Cell/history , Epidemiology , Physicians , Race Relations/history , Brazil , History of MedicineSubject(s)
Humans , Racial Groups , Democracy , Prejudice , Race Relations/history , Ethnicity/historyABSTRACT
O presente trabalho trata da visita de dois personagens ao Impériobrasileiro na segunda metade do século XIX. Ambos chegaram ao Brasilconvencidos de que a mistura entre as raças propiciava a degenerescênciado ser humano. Dessa forma, os dois produziram um mau prognósticoacerca da nação, baseados em crenças raciais que permeavam as ciências daépoca. O primeiro visitante, Louis Agassiz veio ao Brasil em 1865. Erasuíço e adotou os Estados Unidos da América como segunda pátria.Agassiz era um naturalista com sólida formação. Teve contato estreito comfiguras emblemáticas como von Martius, Georges Cuvier e Alexander vonHumboldt. Na América, tornou-se um arauto do poligenismo. O segundo visitante foi Joseph Arthur de Gobineau - o Conde Gobineau, que chegou ao Brasil em 1869 em missão diplomática. Gobineau era um literato com vasta produção, mas a obra pela qual atualmente é mais conhecido é o Essai sur lInégalité des Races Humaines, em que procurava compreender a causa da ascensão e queda de todas as grandes civilizações e chegava à conclusão que a questão étnica era a mola propulsora da história da humanidade. Nosso trabalho procura investigar as vinculações científicas destes dois personagens que, investidos da autoridade de suas convicções científicas, produziram um prognóstico negativo para o Brasil mestiço.
Subject(s)
Humans , History, 19th Century , Racial Groups , Eugenics/history , Multifactorial Inheritance , Race Relations/history , Brazil , Natural History/historyABSTRACT
The objective of this paper is to present the first steps into the study of health in southern Patagonia during pre and post Native-European contact. Thus, our work has a double purpose. First, to discuss characteristics and relevance of human bone records of southern Patagonia, in order to study health in a population context. Second, to show some new lines of information, which include paleoparasitology, nutritional paleopathologies, and the study of lifestyles from human remains. In this context, we have started working on the first Spanish settlement "Nombre de Jesus", founded in 1584, and with historical documentation of "La Candelaria" Mission in Rio Grande (1896-1931).
Subject(s)
Female , History, 16th Century , History, 17th Century , History, 18th Century , History, 19th Century , Humans , Male , White People , Indians, South American/history , Race Relations/history , Argentina , Colonialism , Health Status , Life Style , PaleopathologyABSTRACT
A escravidão negra no Brasil trouxe profundas marcas para a sociedade contemporânea. A ambigüidade presente no pós-abolição ao negro não é negado o direito de ser livre, mas lhe são negadas condições dignas de vida, repetindo-se muitas vezes, lógicas semelhantes a da escravidão , de alguma forma, persiste nos dias de hoje por meio de práticas racistas, sejam elas explícitas ou não. No presente artigo, são analisadas as origens do racismo brasileiro por meio de reflexões sobre as relações raciais após o fim da escravidão. O foco da análise é o discurso científico legitimado pela importação de teorias raciais européias no início do século XX e sua particular apropriação pelos intelectuais brasileiros, especificamente, pela análise de uma obra do médico baiano Raimundo Nina Rodrigues. O racismo justificado pela ciência foi a forma de manter a desigualdade de tratamento entre brancos e negros, nesse momento histórico. Essa desigualdade ainda pode ser observada nos dias de hoje. Para tal, são discutidas as formas de expressão do racismo atual
Subject(s)
Prejudice , Social Problems/history , Social Problems/psychology , Race Relations/history , Race Relations/psychology , BrazilABSTRACT
O objetivo deste ensaio é refletir sobre o significado social de um crescente interesse pela anemia falciforme e outras doenças associadas ao corpo negro no Brasil. Investigarei a rede discursiva que se formou em torno da doença no contexto social da sua produção. Começo resumindo a analise feita do antropólogo Melbourne Tapper, do programa de combate à Anemia Falciforme nos Estados Unidos nos anos 70, logo após as vitórias dos negros na luta pelos direitos civis. Tapper (1999) argumenta que uma das conseqüências dessa política foi a criação de uma comunidade negra cidadã e responsável. O Programa de Anemia Falciforme, desenvolvido pelo governo brasileiro com participação de ativistas negros a partir da década de 1990, também contribui para a formação e de uma "comunidade negra responsável". O argumento do artigo é que a anemia falciforme torna-se muito mais que uma doença a ser erradicada. O discurso em torno dela é um poderoso elemento no processo de naturalização da "raça negra" (e, por oposição lógica e política, da "raça branca") num país que se imaginava como biológica e culturalmente híbrido.
Subject(s)
Black People , Anemia, Sickle Cell , Race Relations/history , Brazil , Public Health/historyABSTRACT
No início da década de 1870, a imigração torna-se preocupação central das elites brasileiras. Com a visível falência do regime escravocrata, os agricultores são levados a pensar em novas formas de trabalho e como conseguir novos braços para a lavoura. Assim, a discussão sobre possíveis formas de imigração e sobre o tipo racial do imigrante torna-se um dos grandes desafios do Brasil das últimas décadas do século XIX. Em meio a este contexto, debates sobre a conveniência da contratação de trabalhadores chineses mobilizaram as elites. Destes debates, participou o Dr. Nicolau Joaquim Moreira, que considerava fundamental a participação dos médicos, tanto na escolha de um tipo de imigrante ideal, quanto na preocupação em manter os imigrantes saudáveis e produtivos.
Subject(s)
Science/history , Eugenics/history , Historiography , Emigration and Immigration/history , Brazil , China , Race Relations/historyABSTRACT
Pretende fornecer subsídios para compreender a gênese e os desdobramentos do importante debate que se desenrola no Brasil atualmente. Uma forte tensão entre perspectivas se revela, cujos ingredientes incluem Ciência, Genética, História e modalidades de interpretação do Brasil, bem como ativismo e estratégias de combate ao racismo. No contexto sob análise, geneticistas propõem uma interpretação da realidade brasileira que dilui as barreiras biológicas entre as raças e fortalece a noção de que o racismo deve ser combatido através do anti-racialismo - um anti-racismo sem raças ou um anti-racismo não-racializado. Mas tal perspectiva está longe ser percebida como trajetória única e/ou preferencial a ser seguida; na visão de certos segmentos sociais, é vislumbrada como potencialmente opressiva.