RESUMEN
O câncer de mama constitui a neoplasia maligna mais incidente em mulheres no Brasil e a principal causa de morte por câncer nessa população, o que torna de especial relevância o estudo das estratégias de controle desta doença. O rastreamento do câncer de mama com mamografia, apesar de amplamente recomendado em diversos países do mundo, vem sendo questionado, em especial na última década e as recomendações atuais são divergentes quanto à idade ideal para seu início e periodicidade. Nesse contexto, o objetivo deste estudo foi conhecer a frequência e analisar alguns dos fatores que podem estar associados aos padrões de utilização de mamografia por 127.044 beneficiárias de um plano de autogestão em saúde, de todas as regiões do país, com predominância acentuada nas regiões Sudeste e Nordeste, no período de 2010 a 2014. Também foram analisados os desdobramentos deste exame sobre a utilização de procedimentos de investigação e tratamento de câncer. Os resultados indicaram que 78,5% das mulheres de 50 a 69 anos foram submetidas a, pelo menos, uma mamografia no período que variou de 48 a 59 meses.Por outro lado, observamos que grande parte da população de mulheres beneficiárias do plano vem sendo submetida a mamografias em faixas etárias para as quais o Ministério da Saúde não recomenda a realização rotineira do exame para fins de rastreamento de câncer de mama. A proporção de mulheres que realizou o exame na faixa etária de 40 a 49 anos superou a utilização das de 50 a 69 anos, sendo elevada também a utilização do exame por mulheres da faixa etária de 30 a 39 anos, especialmente na região Sul do país. A taxa de reconvocação por alterações na mamografia de rastreamento foi mais elevada que aquela evidenciada no contexto dos Programas de Rastreamento Organizados do Canadá em todas as faixas etárias, atingindo o auge nas mulheres de 40 a 49 anos, nas quais 25%das mulheres submetidas ao rastreamento com mamografia realizou algum outro exame de mama no período subsequente.
O valor preditivo positivo da combinação de mamografias de rastreamento, exames de imagem e exames invasivos aumentou com a idade. Os resultados apontam para a possibilidade de limitação dos benefícios do rastreamento nessa população, em decorrência da elevada utilização de mamografia em faixas etárias nas quais é maior a ocorrência de falsos positivos, sobre diagnósticos e sobre tratamentos. O estudo reforça a importância da maior comunicação acerca dos riscos versus benefícios do rastreamento mamográfico para possibilitar uma decisão mais crítica e racional acerca da utilização desse exame.
Breast cancer is the most common type of cancer and the leading cause of cancerdeath among Brazilian women, which makes the study of control strategies for this diseaseof special relevance. Breast cancer screening mammography, although widelyrecommended in several countries, has been questioned, especially in the last decade andthe current recommendations diverge about frequency and the ideal age to start screening.In this context, the objective of this study was to estimate the coverage and analyze some of the factors that may be associated with the usage patterns of mammography by 127,044 beneficiaries of a self-administered and self-funded health care plan, from all regions of thecountry, with marked predominance in the Southeast and Northeast Brazil, from 2010 until 2014. We also analyzed the repercussions of the screening mammography over the usageof subsequent clinical investigation procedures and cancer treatments. The records showed that 78,5 percent of woman aged 50-69 years of age had undergone at least one mammographyin the 48 to 59-months-period. On the other hand, mammography was frequently performedin age-groups that are not targeted by the Ministry of Health for breast cancer screening.The proportion of women submitted to mammograms at the age of 40 to 49 exceeded the usage among the 50 to 69-years-old women, and was also high among 30 to 39 years-old women, especially in Southern region. The abnormal call rate was higher than in Organized Breast Cancer Screening Programs from Canada, in all age groups, reaching the highest proportion in 40 to 49-years-old women, in whom 25% underwent additional breast examination procedures following screening mammography.
The positive predictive valueof the combination of mammography screening, imaging and invasive procedures increasedwith age. The results suggested that the benefits of screening in this population may belimited, due to the high use of mammography by women in age groups for which the ratesof false positives, overdiagnosis and overtreatment are known to be higher. The studyreinforces the importance of better communication about the risks versus benefits ofmammographic screening to enable a more critical and rational decision about the use ofthis test.