Mudanças na alimentação de estudantes de uma Universidade Pública, durante a pandemia de COVID-19 / Changes in the diet of students at a public university during the COVID-19 pandemic

A pandemia de Covid-19 teve implicações diretas na qualidade de vida, saúde e renda da população mundial. Grande parte dos brasileiros passou a ficar mais tempo em casa e a rotina dos estudantes universitários foi afetada pelo fechamento dos sistemas educacionais. O presente estudo buscou investigar se houve mudanças no consumo alimentar de estudantes universitários de uma universidade pública do Estado do Rio de Janeiro no primeiro ano da pandemia de Covid-19, e possíveis fatores associados. Os ingressantes na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) no ano de 2019 foi a população alvo. Os dados foram coletados através de questionário on-line, entre agosto de 2020 e março de 2021. Do total de 3.973 ingressantes com email, 771 responderam ao questionário (19,4%). Foram investigadas variáveis demográficas, socioeconômicas e de consumo alimentar. Mudanças no consumo alimentar de 29 itens: ovos, doces, bolos, chá, café, queijo, sucos naturais, legumes, frutas, pães, raízes, pipoca, verduras, arroz, refrigerantes, leite, biscoitos doces, macarrão, alimentos prontos para consumo, sucos industrializados, carnes, iogurte, feijão, enlatados, biscoitos salgados, oleaginosas, refrigerantes diet/zero, salgadinhos de pacote e bebidas alcoólicas, foram avaliadas pela frequência de aumento ou redução. Associações entre essas mudanças e sexo, status de peso, raça/cor de pele e alteração na renda familiar foram avaliadas por regressão logística ajustada por idade. As análises foram ponderadas considerando a taxa de resposta por curso e sexo. Ocorreram grandes mudanças na alimentação, sendo as principais, o aumento no consumo de doces (52,3%), ovos (49,3%) e bolos (44,0%) e a redução no consumo de bebidas alcoólicas (36,9%), salgadinhos de pacote (33,3%) e biscoitos doces (28,9%). Universitários com excesso de peso apresentaram menor chance de aumentar o consumo de sucos naturais (OR:0,6; IC:0,5-0,9) em relação aos sem excesso de peso. Universitários negros apresentaram maior chance de aumentar o consumo de sucos naturais (OR=1,3; IC:1,1-1,7) e leite (OR=1,4; IC:1,1-2,0) em relação aos brancos. Com exceção para poucos alimentos, não houve mudança associada aos fatores avaliados e, no geral, a alimentação parece ter melhorado com redução de um terço para bebidas alcoólicas, salgadinhos de pacote e biscoitos doces. AU.

The Covid-19 pandemic had direct implications for the quality of life, health and income of the world's population. Most Brazilians stayed home longer and the routine of college students was affected by the closure of educational systems. The present study evaluated changes in food consumption of college students in the first year of the Covid-19 pandemic, and possible associated factors. Freshman from the State University of Rio de Janeiro (UERJ) in the year 2019, was the target population. Data were collected through an online questionnaire from August 2020 to March 2021 including demographic, socioeconomic and food consumption variables. Of the total of 3,973 email entrants, 771 completed the questionnaire (19.4%). Demographic, socioeconomic, and food consumption variables were investigated. Changes in food consumption of 29 items: eggs, sweets, cakes, tea, coffee, cheese, natural juices, vegetables, fruits, breads, roots, popcorn, greens, rice, soft drinks, milk, sweet cookies, noodles, ready-to-eat foods, processed juices, meats, yogurt, beans, canned food, salty cookies, oilseeds, diet/zero sodas, packaged snacks and alcoholic beverages, were assessed by the increase or decrease in the daily frequency. Associations between dietary changes with sex, weight status, race/skin color, and change in household income were assessed using age-adjusted logistic regression. All analyses were weighted considering the response rate by course and sex. Major changes in diet were the increased consumption of sweets (52.3%), eggs (49.3%), and cakes (44.0%) and decreased consumption of alcoholic beverages (36.9%), packaged snacks (33.3%), and sweet cookies (28.9%). Overweight students did not increase their consumption of fruit juices (OR:0.6; CI:0.5-0.9) compared to those without overweight. Black students had higher odds to increase consumption of juice (OR=1.3; CI:1.1-1.7) and milk (OR=1.4; CI:1.1-2.0) compared to white students. Except for these few food groups, the factors studied were not associated with dietary changes, and overall, the diet improved with a one-third reduction for alcoholic beverages, packaged snacks and sweet cookies. AU

TDAH e Complexo Médico-Industrial: revisão narrativa sobre uma epidemia lucrativa / ADHD and Medical-Industrial Complex: narrative review about a profitable epidemic

O emprego de diagnósticos psiquiátricos alcançou uma importância social tamanha que o atual cenário aponta para um risco constante de epidemias diversas de transtornos mentais. Por essa razão, este estudo teve como objetivo compreender a complexa dinâmica de forças que edificam o caminho para uma condição da vida se tornar um problema médico e, a posteriori, um quadro epidêmico. Para tanto, através de uma revisão narrativa, esta pesquisa reconheceu os múltiplos aspectos da medicalização da vida; da dinâmica de um Complexo Médico-Industrial e Financeiro; e da epidemia de diagnósticos psiquiátricos. O estudo igualmente apreciou a evolução histórico-social do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), como um meio para identificar as interinfluências envolvidas na consolidação de seu diagnóstico, o qual se tornou exponencialmente mais recorrente na atualidade. Além disso, o estudo examinou, em bases como SciELO, PubMed, MEDLINE, MeSH e Google Acadêmico, trabalhos que façam referência à evolução da produção e do consumo dos principais fármacos prescritos para seu tratamento, de modo a averiguar as possíveis repercussões socioeconômicas da inflação diagnóstica do TDAH. Com isso, este trabalho constatou que a alternância do protagonismo entre os atores que compõem o campo da saúde é atualmente definida pelo mercado, e, associada à fluidez dos diagnósticos psiquiátricos, as influências de tais forças passaram a ser determinantes no modo como um distúrbio é introduzido, modificado e/ou ampliado no meio social. Outrossim, a pesquisa mostrou que os transtornos psiquiátricos se tornaram cada vez mais passíveis de se transformarem em condições epidêmicas, especialmente em razão: das sucessivas alterações de seus critérios, o que permitiu ampliar o público-alvo dos diagnósticos; da cronificação das práticas em saúde mental, influenciadas pelo forte movimento reducionista do sofrimento humano à lógica biomédica; e da primazia da farmacoterapia, perpetuada por meio de um modelo de atenção gerenciada que preza pela redução dos custos e aumento dos lucros com a assistência. AU

The use of psychiatric diagnoses has reached such a social importance that the current scenario points to a constant risk of various epidemics of mental disorders. Hence, this study aimed to understand the complex dynamics of forces that build the path for a condition of life to become a medical problem and, subsequently, an epidemic. For this purpose, through a narrative review, this research recognized the multiple aspects of the medicalization of life; the dynamics of a Medical-Industrial and Financial Complex; and the epidemic of psychiatric diagnoses. The study also looked at the historical-social evolution of Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD) as a means to identify the inter-influences involved in the consolidation of its diagnosis, which has become exponentially more recurrent nowadays. In addition, the study examined SciELO, PubMed, MEDLINE, MeSH, and Google Scholar databases to determine the evolution of the production and consumption of the main drugs prescribed for the treatment of ADHD, in order to investigate the possible socioeconomic repercussions of ADHD diagnostic inflation. With this, this work has found that the alternation of the protagonism among the actors that compose the health field is currently defined by the market, and, associated with the fluidity of psychiatric diagnoses, the influences of such forces have become determinant in the way a disorder is introduced, modified and/or expanded in the social environment. Moreover, the research showed that psychiatric disorders have become increasingly likely to become epidemic conditions, especially for the following reasons: the successive changes in their criteria, which allowed the expansion of the target audience of the diagnoses; the chronification of mental health practices, influenced by the strong reductionist movement of human suffering to biomedical logic; and the primacy of pharmacotherapy, perpetuated through a model of managed care that focuses on ​​cost reduction and increasing profits with the care. AU