RESUMEN
OBJETIVO: Compreender diferentes lógicas de autonomia presentes nos conflitos entre prescrições cirúrgicas e expectativas de pacientes com diagnóstico de câncer. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS: Estudo qualitativo, no qual foram realizadas 11 entrevistas semi-estruturadas com cirurgiões oncológicos especializados em tumores de cabeça e pescoço da cidade do Rio de Janeiro, RJ, entre 2000 e 2005. Os participantes foram selecionados por chain sampling e a interrupção do trabalho de campo obedeceu ao critério de saturação. Utilizando-se a técnica de análise de discurso, buscou-se identificar as premissas estruturantes do conceito de autonomia, que comporiam uma dialética discursiva no contexto dos pacientes que relutam em se submeter a cirurgias consideradas mutiladoras. ANÁLISE DOS RESULTADOS: Inicialmente, os cirurgiões exibiram assertivas padronizadas, centradas em conceitos deontológicos de autonomia. À medida que narravam suas experiências, foram observados auto-questionamentos que expunham contradições quanto ao conceito cotidiano de "ressecabilidade informada". Neste ponto os discursos padronizados se deixam permear por auto-questionamentos sobre a necessidade de um retorno ao equilíbrio existencial prejudicado pelo câncer. CONCLUSÕES: As narrativas expressaram demandas por uma "autonomia de equilíbrios" na forma de um semi-projeto não idealizável aprioristicamente, embora dependente de interações com o outro. Os resultados indicam a necessidade de reflexão perante o conceito de autonomia como premissa linear, categórica e individual que, embora superficialmente elaborada, têm governado as ações cotidianas.
OBJECTIVE: To comprehend different logics of autonomy that are present in conflicts between surgical prescriptions and the expectations of patients with diagnoses of cancer. METHODOLOGICAL PROCEDURES: This is a qualitative study in which 11 semistructured interviews were conducted with oncological surgeons specializing in head and neck tumors, in the city of Rio de Janeiro, Southeastern Brazil, between 2000 and 2005. The participants were selected by means of chain sampling and the fieldwork was halted in accordance with the criterion of saturation. The discourse analysis technique was used to identify the premises that structured the concept of autonomy and would constitute the discursive dialectics within the context of patients who fight against undergoing surgery that is considered to be of mutilating nature. ANALYSIS OF RESULTS: At first, the surgeons expressed standardized statements centered on deontological concepts of autonomy. As they narrated their experiences, self-questioning that brought out contradictions regarding the routine concept of "informed resectability" was observed. At this point, the standardized discourse became permeated by self-questioning about the need to return to the existential balance that had been harmed by the cancer. CONCLUSIONS: The narratives expressed demands for "balanced autonomy" in the form of a semi-project that is not aprioristically idealizable but is dependent on mutual interactions. The results indicated the need for reflection on the concept of autonomy as a linear, categorical and individual premise that, although superficially elaborated, governs everyday actions.