RESUMEN
Na última década houve, no Brasil, uma expansão das políticas públicas de recorte racial, com destaque para a área da educação. Analisa-se aqui um evento emblemático desse processo, que foi a implantação do sistema de cotas raciais na Universidade de Brasília (UnB), a primeira instituição de ensino superior a implantar a reserva de vagas segundo recorte de raça no país. O sistema adotado, bastante controverso, inclui o uso de fotografias dos candidatos, cuja autoclassificação de pertencimento racial precisava ser 'confirmada' por uma comissão. Neste texto argumenta-se que a forma como a política pública foi implementada, com amplo apoio de movimentos sociais, envolveu critérios e procedimentos que ecoam um perspectiva de raça determinista e essencializada e que, além disso, envolvem a participação de cientistas sociais no processo de caracterização das identidades raciais. O evento permite estabelecer pontes entre história, antropologia e questões contemporâneas.