RÉSUMÉ
A questão que move este artigo é investigar a possibilidade de haver transferência - considerada aqui como método específico de conduzir-se na vida erótica que é repetida com a pessoa do analista - na estrutura autista. Para isto buscou-se compreender a dinâmica de funcionamento desta estrutura mediante uma revisão da compreensão psicanalítica de estruturação do sujeito - considerando o processo de alienação na sua dimensão simbólica, imaginária e real - e da investigação de como a etiologia do autismo aí se situa. Pôde-se assim ver que, apesar do Outro na relação primordial com o autista não oferecer sustentação imaginária e inscrições simbólicas suficientes para que ele possa se reconhecer em seu próprio corpo, inscreveu-se nesta relação algumas marcas, cujas ruínas podem ser observadas em sua forma específica de se relacionar com objetos, com seu corpo e com os outros. Seu isolamento, seus movimentos repetitivos, estereotipados, não têm nenhuma função social, mas sim a função de buscar a repetição de uma sensação de eliminação de tensão e de evitar os sinais do Outro - principalmente a voz e o olhar -, os quais se apresentam para o autista como demanda de exclusão. Esta posição frente ao Outro, que se repete com a pessoa do analista é, justamente, a única forma possível de transferência