RÉSUMÉ
A transmissão da COVID-19 é complexa e impulsionada por variações espaciais e temporais atreladas a fatores do agente transmissor e socioambientais. No mundo globalizado, estes se somam contribuindo para a emergência e reemergência de doenças, que são ameaças contínuas à segurança sanitária global, agravada pela desigualdade social. O Brasil preza constitucionalmente pelo direito à igualdade, mas é um dos mais desiguais do mundo. O uso de abordagem epidemiológica tradicional aliada às inovações tecnológicas é fundamental para compreender o comportamento desta situação complexa. Investigaram-se variações temporais no comportamento de casos e óbitos por COVID-19 em um estado do Nordeste brasileiro entre 12 de março de 2020 e 30 de outubro de 2021. Fizeram parte do estudo todos os óbitos e casos de covid. Calcularam-se a media movel, realizou-se decomposição usando o Multi- Seasonal, Trending and Lowess, construiu-se um infográfico contendo informações sobre os principais fatos ocorridos em Pernambuco. O gráfico da média móvel de 7 dias mostrou a existência de dois grandes picos de casos (junho e outubro de 2020, 8,000 casos/ 7 dias), após o que houve inflexão até dezembro. Em janeiro de 2021, os casos voltam a subir atingindo, após isso, um pico em junho julho de 2021 (acima de 15,000 casos/ 7 dias). O gráfico de óbitos para 7 dias também mostrou dois picos, sendo que o primeiro junho-agosto de 2020 (55 óbitos/ 7 dias), e o segundo entre maio e junho de 2021 (450 óbitos/ 7 dias). A decomposição não mostrou tendencia. Pernambuco iniciou as medidas restritivas em março de 2020, recomendando lockdown em 5 cidades da Região Metropolitana do Recife em maio, após o que houve flexibilizações. Em janeiro de 2021, iniciaram-se novas restrições que se estenderam até junho, com lockdown em todo estado em maio. A variante Alfa foi descoberta em setembro de 2020; a delta espalhou-se mundialmente, mas não teve forças no Brasil pelo domínio da cepa Gama descoberta em Manaus, espalhando-se a partir de janeiro de 2021. A vacina começou a ser aplicada em grupos prioritários em janeiro de 2021. A análise comparativa das séries de casos e óbitos mostrou sobreposição das ondas, apontando para uma possível correlação. As primeiras ondas (casos e óbitos) têm início mais abrupto e amplitude mais curta do que as segundas. A inclinação íngreme das primeiras curvas decorre da introdução de um vírus numa população naíve. A segunda onda de casos de COVID-19 em Pernambuco teve maior duração e amplitude do que a primeira. A de óbitos, por sua vez, embora tenha maior duração, teve menor amplitude. Isso decorre da redução da letalidade e aumento da transmissibilidade do vírus, da aquisição de imunidade por contágio e pela vacinação. O comportamento das ondas de Covid em Pernambuco seguiu o padrão mundial. O estudo da distribuição das doenças no tempo fornece informações que tornam indicar ou apontar riscos a que as pessoas estão expostas, monitorar a saúde de populações específicas, prever a ocorrência de eventos, subsidiar as explicações causais, auxiliar o planejamento de saúde e avaliar o impacto das intervenções.