RÉSUMÉ
In this paper we develop the thesis of the possibility of understanding human beings, starting from the phenomenality of their therapeutic needs. We bring the phenomenality of hallucination to the center of the debate. We show how, in Michel Henry, the phenomenality of sight, touch and anguish is, in all, comparable to the phenomenality of hallucination. From the starting point of this phenomenality we will understand human actions and thus, the essence of clinical practice.
Neste texto desenvolveu-se a tese da possibilidade da compreensão do humano a partir da fenomenalidade das suas necessidades terapêuticas. A fenomenalidade da alucinação é trazida para o centro do debate. Buscou-se mostrar como é que, em Michel Henry, a fenomenalidade da visão, do tato e da angústia é em tudo comparável com a fenomenalidade da alucinação. Será a partir dessa fenomenalidade que se compreenderá o agir humano e, com ela, a essência da clínica.
Sujet(s)
Humains , Affect , Émotions , Hallucinations , ThérapeutiqueRÉSUMÉ
Neste artigo mostramos como é que Michel Henry toma a alucinação como paradigma da fenomenalidade da vida. Nele, a fenomenalidade da alucinação situa-nos na vida afetiva deixada a nu pela fenomenalidade da vida subjetiva. E porque a vida afetiva é vivência da pura vinda a si da vida nas modalidades da audição, da visão, da angústia, do temor, nela, a alucinação, enquanto fenômeno suspenso na sua própria fenomenalidade aparece como fenômeno exemplar da vida, ainda que vivido em sentimento de pura insuportabilidade dessa prova afetiva da vida. Todavia é a partir da experiência da insuportabilidade da prova de si da vida que se encontra, inerente ao sentimento da afeção da vida, a possibilidade de reversão do sofrimento em fruição. Mostramos ainda convergências entre a fenomenalidade da vida afetiva e práticas clínicas, laboratoriais ou outras, e seus desenvolvimentos em interdisciplinaridade no nosso grupo de investigação.
In this article, we show how Michel Henry takes hallucination as a paradigm of the phenomenality of life. According to him, the phenomenality of hallucination refers us to the affective life laid bare by the phenomenality of subjective life. And because the affective life is pure experience brought to existence from life through modes of hearing, vision, anxiety, fear, in it, hallucination, while phenomenon suspended in its own phenomenality, appears as a phenomenon that is exemplary of life, though experienced in a feeling of pure intolerability of this affective experience of life. However, it is from the experience of intolerability of the self-experience of life that one finds, inherent to the feeling of affection of life, the possibility of reverting suffering into fruition. We also show convergences between the phenomenality of the affective life and clinical, laboratorial or other practices, and their developments into interdisciplinarity in our research group.
En este artículo mostramos cómo Michel Henry toma la alucinación como paradigma de la fenomenicidad de la vida. De acuerdo con Henry, la fenomenicidad de la alucinación nos emplaza a la vida afectiva mostrada en su desnudez a través de la fenomenicidad de la vida subjetiva. Y dado que la vida afectiva es vivencia de la pura venida a sí de la vida en las modalidades de la audición, la visión, la angustia o el temor, en la alucinación, en cuanto fenómeno suspenso en su propia fenomenicidad, aparece como fenómeno ejemplar de la vida, aunque vivido en sentimiento de pura intolerancia de esa prueba afectiva de la vida. No obstante, es a partir de la experiencia de intolerancia de la prueba de sí de la vida como se encuentra, inherente al sentimiento de la afección de la vida, la posibilidad de reversión del sufrimiento en fruición. Mostramos por último algunas convergencias entre la fenomenicidad de la vida afectiva y las prácticas clínicas, de laboratorio o de otra naturaleza, y sus desarrollos en nuestro grupo de investigación desde una perspectiva multidisciplinar.
Sujet(s)
Humains , Affect , Hallucinations/psychologie , PhilosophieRÉSUMÉ
Neste trabalho defendo a tese de que o acesso à fenomenalidade dos fenômenos, e mesmo o acesso a eles próprios, é possível apenas em registo de copropriedade de vida: afeição vida-vivo. Mostro as implicações desta tese numa teoria da cultura, especificando a cultura das relações entre fenomenologia e ciências da saúde. Interrogo a possibilidade de se julgarem os corpos na fenomenalidade da afeição e, com o juízo dos corpos, serem julgadas as nossas dores e doenças. Inscrevo estas questões na continuidade do trabalho iniciado por Michel Henry no que respeita às fundações da interdisciplinaridade, nomeadamente, entre fenomenologia e clínica. Alinho-as com uma tradição filosófico-científica com raízes no quase contemporâneo de Descartes, Francisco Sanches, para, de Descartes, retomar as hesitações e os questionamentos que ele mesmo introduziu no seu corpus filosófico: dependência do espírito da disposição dos órgãos. Ao retomar esse esquecido pensamento de Francisco Sanches e de Descartes interrogo o lugar da fenomenalidade da afeição na interlocução dos saberes filosófico-científicos.
En este artículo se defiende la tesis de que nuestro acceso a la fenomenalidad de los fenómenos, incluyendo el acceso por sí mismo, sólo es posible a través del registro de la copropriedad de vida, el afecto vida-vivo. Mostramos sus implicaciones en una teoría de la cultura, especificando la cultura de las relaciones entre la Fenomenología y las Ciencias de la Salud. Cuestionamos la posibilidad en la fenomenología del afecto de juzgar los cuerpos y, a través de eso, ser juzgado nuestros dolores y enfermedades. Hemos puesto estas cuestiones a continuación de la labor iniciada por Michel Henry con respecto a los fundamentos de la interdisciplinariedad entre la Fenomenología y la Clínica. Traeremos estas cuestiones unidas a una tradición filosófica y científica, con raíces en el casi contemporáneo de Descartes, Francisco Sanches, para regresar a las vacilaciones y cuestionamientos de Descartes, que él introdujo en su corpus filosófico: la dependencia del espíritu de la disposición de los órganos. Al reanudar este pensamiento olvidado de Francisco Sanches y de Descartes, preguntamos sobre el lugar de la fenomenalidad del afecto en el diálogo del conocimiento filosófico y científico.
Dans cet article, je défende la thèse selon laquelle notre accès à la phénoménalité des phénomènes, même l'accès à soi, n'est possible que dans un enregistrement de copropriété de vie: l'affection vie-vivant. Je montre les conséquences d'une telle thèse dans une théorie de la culture, en particulier la culture des relations entre phénoménologie et sciences de la santé. J'interroge aussi la possibilité du jugement des corps dans la phénoménalité de l'affection et, avec le jugement des corps, le jugement de nos douleurs et de nos maladies. J'inscrive ces questions à la suite du travail commencé par Michel Henry en ce qui concerne les fondements de l'interdisciplinarité entre phénoménologie et clinique. Ceci m'emmène à reprendre une tradition philosophique et scientifique dans les racines de Franciso Sanches, contemporain de Descartes, ainsi qu'à reprendre les hésitations et les questions que Descartes a introduit dans son corpus philosophique, notamment les questions concernant la dépendance de l'esprit et la disposition des organes. En revenant à cette pensée oubliée de Francisco Sanches et de Descartes, j'interroge la place de la phénoménologie de l'affection dans l'interlocution des connaissances philosophico-scientifiques.
In this article we support the thesis that the access to the phenomenality of phenomena, including the access to themselves, is only possible in a regime of co-property in life: the life-living affection. We show the implications through a theory of culture, namely the culture of the relations between phenomenology and health sciences. We question the possibility to judge bodies in the phenomenality of affection, and with that, to judge our pain and illnesses. These questions will be assessed from the development of the work started by Michel Henry concerning the foundations of the interdisciplinarity between phenomenality and clinical practice, by associating it to a scientific-philosophical tradition with roots in Francisco Sanchez, almost a contemporary of Descartes, and to proceed with the hesitations and questions that Descartes himself introduced in his own philosophical corpus: the spirit's dependence on the organs' function. And through Descartes, we will bring current scientific researches into debate.
Sujet(s)
Humains , Affect , Corps humain , Vie , Sciences de la Santé , PhilosophieRÉSUMÉ
A questão trazida por Agustin Serrano de Haro ao colóquio luso-brasileiro de fenomenologia - Forma el dolor parte del mundo da vida? Pro y contra Michel Henry? - supõe duas leituras fenomenológicas da dor: uma, situa a dor nos fenómenos ®saturados¼, isto é irredutíveis a todo e qualquer sentido (Jean-Luc Marion); outra vê a dor como pathos que se revela na imediatez de si mesmo (Michel Henry). Procuro mostrar que a formulação ®pro y contra Michel Henry?¼ provém de uma falsificação da fenomenologia do afecto; falsificação que o próprio Marion reconhece ao admitir que o fenomenologia do sentir, em Henry, é determinante para as questões do corpo (2007), o que contrasta com a sua (Marion) teoria do sentir como fenómeno saturado. Mostrarei ainda como é que a fenomenologia do sentir se inscreve num futuro fenomenológico que ®pode bem ser o nosso¼
The problem brought by Agustin Serrano de Haro to the Luso-Brazilian conference of phenomenology - Forma el dolor parte del mundo da vida? Pro y contra Michel Henry? - implies two phenomenological readings of pain: one places pain in the saturated phenomena, referring it as irreducible to the senses as a whole (Jean-Luc Marion); the other considers pain as pathos revealing itself in its own immediacy (Michel Henry). Im trying to demonstrate that the formulation ®pro y contra Michel Henry?¼ is raised by a forgery of the phenomenology of affection; a forgery recognized by Marion himself when he admits that the phenomenology of the senses, in Henri, is determining for body issues (2007); this contrasts with Marions own theory of the senses as a saturated phenomenon. I will further show how phenomenology of the senses is inscribed in a phenomenological future which might be ours