Résumé
Objetivo: Investigar os aspectos epidemiológicos do tracoma na comunidade de Farias, no município do Crato, Cariri, interior do Ceará, região conhecida como hiper-endêmica. Métodos: Realizou-se um estudo transversal, no qual foram examinados 202 dos 646 indivíduos residentes na área, em agostos de 2006. Foi realizado exame clínico com lupa 2,5 vezes de aumento, obedecendo-se à classificação clínica de tracoma preconizada pela OMS. Foi realizada uma sondagem do perfil socioeconômico e educacional dos indivíduos incluídos na investigação, sendo ressaltados os dados referentes às condições de moradia desta população. Resultados: O tracoma foi diagnosticado clinicamente em 50 indivíduos (24,7%), sendo 29 (58,0%) do gênero feminino e 21 (42,0%) do masculino. A forma clínica tracoma folicular (TF) foi observada em 15 (30,0%) indivíduos com idades variando de 5 a 73 anos (média= 40,4; mediana= 58,0), prevalecendo nos jovens. O tracoma cicatricial (TS) ocorreu em 25 (50,0%) indivíduos aparecendo na faixa etária de 33 a 87 anos (media=67; mediana=71). A triquíase tracomatosa (TT) foi observada em 8 (16,0%) indivíduos de 56 a 92 anos (médias=75; mediana=92). Dois (4,0%) indivíduos, irmãos, eram portadores da forma opacificação corneana (CO) com idades de 94 a 99 anos. Dos pacientes com tracoma, 20 (40,0%) eram analfabetos. Vinte e sete (54,0%) apresentavam renda menor ou igual a um salário mínimo e 23 (46,0%) entre 1 e 5 salários. Houve associação significante da ocorrência de tracoma com o nível de instrução e classe de renda (p=0,000 e p=0,052). Não foram observadas associações entre: as condições de moradia e hábitos, como o de compartilhar a cama. Conclusão: A prevalência do tracoma na comunidade estudada é alta. A doença acomete os mais pobres, com menores níveis educacionais, vivendo em áreas sem saneamento. Torna-se necessária uma estratégia de intervenção apropriada, usando a saúde pública para melhorar as práticas de higiene, que deverá ter impacto duradouro...