RESUMO
Anormalidades anatômicas e funcionais da circulaçäo coronária têm sido descritas e englobadas na teoria vascular da patogênese da cardiopatia chagásica crônica. Neste artigo foram criticamente revistos resultados de estudos em humanos e modelos experimentais da infecçäo como o T.Cruzi sobre aspectos anatômicos e funcionais da circulaçäo coronária, no epicárdio e na microcirculaçäo. por evidências necroscópicas e cinecoronariográficas, as artérias epicárdicas näo exibem, em geral, lesöes obstrutivas consideradas capazes de induzir isquemia miocárdica. Constituem exceçäo aqueles pacientes chagásicos estudados após episódio de infarto agudo do miocárdio, que apresentam frequência de obstruçöes coronarianas superponível à encontrada na populaçäo näo-chagásica com infarto agudo do miocárdio. Distúrbios prefusionais, compatíveis com as alteraçöes microvasculares experimentalmente documentadas, säo observados em pacientes chagásicos crônicos com coronárias angiograficamente normais. Essas alteraçöes podem ter relaçäo causal com a disfuncçäo contrátil regional detectada em regioöes com hipoperfusäo crônica, sugerindo a ocorrência de possíveis áreas de hibernaçäo miocárdica, análoga à que se verifica na cardiopatia isquêmica aterosclerótica. Investigaçöes recentes em cardiopatas chagásicos com precordialgia sugerem anormalidades no controle vasomotor coronariano, havendo atenuaçäo das respostas arteriais epicárdicas aos estímulos constritor e dilatador.