RESUMO
Os censos demográficos são uma importante fonte de informações sobre as condições de vida dos povos indígenas no Brasil. Diferentes explicações têm sido dadas para as variações observadas nos volumes de indígenas captados entre os censos. Os motivos para tais oscilações ancoram-se em análises da dinâmica demográfica dessas populações, assim como na influência dos processos de reconhecimento identitário e autodeterminação nos totais enumerados nas pesquisas. Desconhecem-se, contudo, estudos que investiguem o impacto das metodologias de coleta do censo sobre os resultados encontrados para a população indígena. O presente ensaio analisa os resultados dos últimos censos nacionais do Brasil para os indígenas segundo a composição de seus domicílios por cor ou raça dos moradores, assim como por região de residência e localização rural ou urbana dos mesmos. As análises indicam que alterações no formato de realização de entrevistas observadas nos últimos dois censos demográficos possivelmente tiveram impacto no perfil domiciliar dos indígenas captados e, consequentemente, no volume de indígenas recenseados no país. Esse impacto teria contribuído, inclusive, para uma redução daqueles que residiam nas áreas urbanas do país.
Demographic censuses are an important source of information on the living conditions of indigenous peoples in Brazil. Different factors have been pointed out to explain the variations in the volume of indigenous people captured by the censuses, as well as fluctuations in their spatial distribution. These studies focus on analyses of the demographic dynamics of these populations, as well as the influence of the processes of identity recognition and self-determination in indigenous numbers. However, studies into the impact of the census methodology on the results found for indigenous people are unknown. This paper analyzes the results of the latest national censuses in Brazil for indigenous people according to their region of residence, household situation and household composition, indicating that changes in the format of interviews observed in the last two demographic censuses had an impact on the household profile of the indigenous people and, consequently, in the number of those registered in the country. This impact would even have led to a reduction in those who lived in urban areas.
Los censos demográficos son una fuente importante de información sobre las condiciones de vida de los pueblos indígenas en Brasil. Se han señalado diferentes factores para explicar las variaciones en el volumen de indígenas capturados por los censos, así como las fluctuaciones en su distribución espacial. Estos estudios se enfocan en análisis de la dinámica demográfica de estas poblaciones, así como en la influencia de los procesos de reconocimiento de identidad y autodeterminación en la población indígena. Sin embargo, se desconocen los estudios que investigan el impacto de la metodología del censo en los resultados encontrados para los pueblos indígenas. Este trabajo analiza los resultados de los últimos censos nacionales en Brasil para los pueblos indígenas según su región de residencia, situación del hogar y composición del hogar, indicando que los cambios en el formato de las entrevistas observados en los dos últimos censos demográficos tuvieron un impacto en el perfil del hogar. de los pueblos indígenas y, en consecuencia, en el número de inscritos en el país. Este impacto incluso habría llevado a una reducción de quienes vivían en áreas urbanas.
Assuntos
Humanos , Censos , Povos Indígenas , Reconhecimento de Identidade , Brasil , Características de Residência , Inquéritos e Questionários , Área Urbana , Grupos Raciais , Fatores RaciaisRESUMO
O artigo compara os diferenciais de rendimento do trabalho de bolivianos e nordestinos no Estado de São Paulo, com base nos dados do Censo Demográfico de 2010. A estratégia de comparar migrantes internos com os internacionais é uma forma de tentar entender como operam os mecanismos de seletividade, adaptação e discriminação por origem. Foram utilizados modelos estatísticos para controlar as análises e saber se bolivianos e nordestinos com características as mais próximas possíveis em termos de variáveis censitárias apresentariam um diferencial de salário, deixando apenas o local de nascimento como variável discriminante. Verificamos, a partir da decomposição dos diferenciais de salário, que os atributos produtivos desses imigrantes são valorizados de maneira diferente. As análises demonstram que os bolivianos "levam a melhor" quando comparados com nordestinos, que se encontram em uma situação pior dada a menor valorização de seus atributos individuais.
The article compares income differentials of Bolivian and Northeastern workers in the State of São Paulo based on data from the 2010 Demographic Census. The strategy of comparing internal and international migrants is a way of trying to understand how mechanisms of selectivity, adaptation and discrimination by origin operate. Statistical models were used to control the analyses and to know if Bolivians and Northeastern people with characteristics as similar as possible in terms of census variables, would present a salary differential, leaving the place of birth as the only discriminant variable. From the decomposition of wage differentials, we verify that the productive attributes of these immigrants are valued differently. The analysis shows that Bolivians "do better" when compared to Northeasterners, who find themselves in a worse situation, given the lower valuation of their individual attributes.
El artículo compara los diferenciales de ingresos de los trabajadores bolivianos y del Noreste en el Estado de São Paulo según los datos del censo demográfico de 2010. La estrategia de comparación de migrantes internos e internacionales es una forma de tratar de comprender cómo funcionan los mecanismos de selectividad, adaptación y discriminación por origen. Se utilizaron modelos estadísticos para controlar los análisis y para saber si los bolivianos y las personas del Noreste con características lo más cercanas posibles en términos de variables censales presentarían un diferencial salarial, dejando solo el lugar de nacimiento como una variable discriminante. Desde la descomposición de los diferenciales salariales, verificamos que los atributos productivos de estos inmigrantes se valoran de manera diferente. El análisis muestra que los bolivianos «mejoran¼ en comparación con los del Noreste, que se encuentran en peor situación dada la menor valoración de sus atributos individuales.
Assuntos
Humanos , Demografia , Censos , Emigração e Imigração , Mercado de Trabalho , Discriminação Social , Salários e Benefícios , Fatores Socioeconômicos , Migrantes , Dinâmica Populacional , Migração HumanaRESUMO
Oitavo livro da coleção Saúde dos Povos Indígenas, Entre Demografia e Antropologia: povos indígenas no Brasil apresenta profundas avaliações sobre as dinâmicas populacionais indígenas. A coletânea levanta contribuições que indicam que os escassos dados demográficos de décadas atrás se tornaram mais abundantes, passando a fomentar políticas públicas. Em suas abordagens, a obra passa por pesquisas e conhecimentos multidisciplinares, que vão de questões de migração, mobilidade e dinâmica territorial até a contextualização de dados censitários e a forma como a população indígena é retratada nos censos demográficos do Brasil. A antropóloga Marta Azevedo ressalta a importância de "buscar uma maior participação da população indígena na produção de dados e análises demográficas". Segundo ela, tão estratégico quanto continuar a fomentar a realização de uma demografia indígena é formar demógrafos indígenas no país. O anseio expressado pela autora e organizadora aparece no último capítulo do livro, que é dividido em três partes: Perspectivas a partir do Campo, Dados Censitários em Contexto e Trajetórias, Categorias, Implicações.
Assuntos
Humanos , Masculino , Feminino , Saúde de Populações Indígenas/estatística & dados numéricos , Distribuição por Etnia , Povos Indígenas/estatística & dados numéricos , Características da População , Brasil/etnologia , Censos , Parto/etnologia , Saúde de Populações Indígenas/legislação & jurisprudência , Epidemias , Migração Humana/estatística & dados numéricosAssuntos
Humanos , População , Demografia , Censos , Emigração e Imigração , População Residente , Brasil , Apresentação de Dados , Migração HumanaRESUMO
Resumo: Estimativas sobre os diferenciais de mortalidade adulta ou geral para a população indígena no Brasil são inexistentes, embora a construção destes indicadores seja de extrema importância para a redução das iniquidades sociais em termos de saúde verificada para este segmento populacional. Nas últimas décadas, avanços significativos ocorreram no Brasil na direção de reverter a falta de dados referentes aos indígenas nas estatísticas nacionais. O objeto desta comunicação é apresentar estimativas de mortalidade para indígenas e não indígenas em diferentes grupos de idades, baseadas nos dados do Censo Demográfico de 2010. Isso é feito com base no quesito de óbitos investigado em domicílios particulares. Os resultados encontrados indicam diferenças expressivas nas probabilidades de morte entre indígenas e não indígenas em todos os grupos de idades selecionados, para ambos os sexos. Observa-se que esses diferenciais são mais pronunciados na infância, principalmente para o sexo feminino. Os indicadores elaborados corroboram o fato de que os povos indígenas do Brasil encontram-se em uma situação de extrema vulnerabilidade em temos de saúde, estimando, de forma inédita, a magnitude destes diferenciais.
Abstract: There have been no previous estimates on differences in adult or overall mortality in indigenous peoples in Brazil, although such indicators are extremely important for reducing social iniquities in health in this population segment. Brazil has made significant strides in recent decades to fill the gaps in data on indigenous peoples in the national statistics. The aim of this paper is to present estimated mortality rates for indigenous and non-indigenous persons in different age groups, based on data from the 2010 Population Census. The estimates used the question on deaths from specific household surveys. The results indicate important differences in mortality rates between indigenous and non-indigenous persons in all the selected age groups and in both sexes. These differences are more pronounced in childhood, especially in girls. The indicators corroborate the fact that indigenous peoples in Brazil are in a situation of extreme vulnerability in terms of their health, based on these unprecedented estimates of the size of these differences.
Resumen: Las estimativas sobre los diferenciales de mortalidad adulta o general en los pueblos indígenas de Brasil son inexistentes, pese a que la construcción de estos indicadores sea de extrema importancia para la reducción de las inequidades sociales, en términos de salud verificada para este segmento poblacional. En las últimas décadas, se produjeron avances significativos en Brasil, con el fin de revertir la falta de datos referentes a las poblaciones indígenas en las estadísticas nacionales. El objeto de esta comunicación es presentar estimativas de mortalidad para indígenas y no indígenas en diferentes grupos de edades, basadas en los datos del Censo Demográfico de 2010. Esto se realiza basándonos en el apartado de óbitos investigado en domicilios particulares. Los resultados hallados indican diferencias expresivas en las probabilidades de muerte entre indígenas y no indígenas, en todos los grupos de edades seleccionados, para ambos sexos. Se observa que esos diferenciales son más pronunciados en la infancia, principalmente para el sexo femenino. Los indicadores elaborados corroboran el hecho de que los pueblos indígenas de Brasil se encuentran en una situación de extrema vulnerabilidad en términos de salud, estimando, de forma inédita, la magnitud de estos diferenciales.
Assuntos
Humanos , Masculino , Feminino , Lactente , Pré-Escolar , Criança , Adolescente , Adulto , Adulto Jovem , Mortalidade , Censos , Brasil/epidemiologia , Indígenas Sul-Americanos/estatística & dados numéricos , Fatores Sexuais , Fatores Etários , Grupos Populacionais/estatística & dados numéricos , Pessoa de Meia-IdadeRESUMO
No Brasil, embora venha ocorrendo o envelhecimento acelerado da estrutura etária da população, estudos sobre migração de idosos são praticamente inexistentes. Este artigo apresenta as principais reflexões sobre as migrações de idosos apontadas pela literatura originada em países que se encontram em uma fase mais adiantada do processo de transição demográfica. Diferentemente dos fatores atribuídos à migração da população mais jovem, normalmente relacionados à busca de emprego e melhores salários, a migração de idosos é explicada pelas especificidades das etapas do ciclo de vida das idades mais avançadas, como aposentadoria, busca de suporte e reunião familiar. Estudos realizados com base na análise de fluxos migratórios de idosos, utilizando dados dos censos demográficos, mostram que estes fatores, destacados pela literatura internacional sobre o tema, também são importantes para as migrações de idosos no Brasil, embora o sistema de aposentadoria e as relações de suporte ao idoso particulares do país agreguem especificidades ao fenômeno. Com base nos aspectos discutidos, nota-se que os migrantes idosos podem ser divididos em, no mínimo, dois grupos: um deles composto por indivíduos com melhores condições de saúde e renda, que migram para usufruir os benefícios desta fase da vida, após a aposentadoria; e outro formado por idosos que, diante de uma insuficiência física ou financeira, migram em direção a locais onde podem encontrar suporte para as fragilidades que passaram a experimentar. O impacto na sociedade de cada um destes deslocamentos é bastante distinto.
Contrary to the literature in developing countries, there is a lack of studies on elderly migration in Brazil, where the need for such studies stem from the ageing process faced by its population. This paper provides insights about the adequacy of the international literature on elderly migration (based on countries at advanced stages in the demographic transition) to the Brazilian case. We argue that elderly migration is mostly explained by specific characteristics of individual life cycles at later ages such as retirement and search for family support and reunion. Using data from population censuses, we show that these factors are also relevant in the Brazilian case, but other aspects related to the retirement system and family support are also powerful to explain elderly migration in Brazil. We found two main groups of elderly migrants in Brazil: one with better health and income conditions composed by individuals who migrate without relevant need for family or institutional support; and another group composed by individuals with poorer health and financial conditions who migrate to places where some support is available. We finally analyze the policy implications of these different types of elderly migration.
En Brasil, aunque viene ocurriendo el envejecimiento acelerado de la estructura de edad de la población, los estudios sobre migración de ancianos son prácticamente inexistentes. Este artículo presenta las principales reflexiones sobre las migraciones de ancianos señaladas por la literatura originada en países que se encuentran en una fase más avanzada del proceso de transición demográfica. Al contrario de los factores atribuidos a la migración de la población más joven, normalmente relacionados con la búsqueda de empleo y mejores salarios, la migración de ancianos se explica por medio de las especificidades de las etapas del ciclo de vida de las edades más avanzadas, como la jubilación, búsqueda de soporte y reunión familiar. Estudios realizados en base al análisis de flujos migratorios de ancianos, utilizando datos de los censos demográficos, muestran que dichos factores, destacados por la literatura internacional sobre el tema, también son importantes para las migraciones de ancianos en Brasil, aunque el sistema de jubilación y las relaciones de soporte al anciano particulares del país agreguen especificidades al fenómeno. En base a los aspectos discutidos, se verifica que los migrantes ancianos pueden dividirse en por lo menos dos grupos: uno de ellos se compone de individuos con mejores condiciones de salud e ingresos, que migran para disfrutar los beneficios de esta fase de la vida, después de su jubilación; y otro formado por ancianos que, frente a una insuficiencia física o financiera, migran rumbo a sitios en los que pueden encontrar soporte para sus presentes fragilidades. El impacto en la sociedad de cada uno de estos desplazamientos es bastante distinto.
Assuntos
Humanos , Idoso , Dinâmica Populacional , Migração Humana/tendências , Brasil , Dinâmica Populacional , Relações Familiares , AposentadoriaRESUMO
Os registros administrativos dos vistos consulares de residência, mesmo quando disponibilizados, tanto pelos consulados estrangeiros no Brasil quanto por aqueles do país no exterior, não permitem calcular os fluxos de imigrantes e de emigrantes internacionais, em razão da alta proporção de migrantes clandestinos ou ilegais. Como conseqüência, não se pode saber, a partir dos registros, nem sequer se o Brasil tem tido saldos migratórios internacionais positivos ou negativos. Técnicas indiretas permitem estimar o saldo migratório internacional, a partir das populações enumeradas em dois censos consecutivos. Na data do segundo censo, são comparadas as populações observada (recenseada) e esperada (aquela que se teria, se porventura a população do país tivesse permanecido fechada entre os dois censos). A diferença entre elas corresponde, em princípio, ao saldo migratório internacional. Apesar das dificuldades técnicas, advindas principalmente da significativa variação de cobertura entre os Censos de 1991 e de 2000, concluiu-se que o Brasil teria tido, entre 1980 e 1990, um saldo migratório negativo de aproximadamente 1.800 mil pessoas. O saldo, também negativo, teria caído significativamente, no decênio 1990/2000, para em torno de 550 mil pessoas. Esse declínio teria ocorrido em razão, quase que inteiramente, da diminuição da emigração brasileira. A imigração internacional aumentou muito pouco, como se pode constatar a partir dos dados censitários de 1991 e 2000.