RESUMO
Resumo Neste artigo, objetiva-se refletir sobre as estratégias no campo da saúde que possam colaborar para a mitigação da vulnerabilidade de mulheres à violência íntima (VI) em meio a crises econômicas e sociais que ocorrem em contextos de pandemias, epidemias e catástrofes climáticas. Trata-se de um ensaio teórico-reflexivo elaborado a partir do diálogo entre os referenciais teóricos da vulnerabilidade e direitos humanos e o modelo ecológico de compreensão da violência. A composição desses referenciais permitiu elencar estratégias de enfrentamento da VI, analisando-as nos âmbitos individual, familiar, comunitário e social, entendendo que as dimensões da vulnerabilidade necessitam ser abordadas de forma indissociável. Tal análise indicou ser fundamental compreender os marcadores sociais da diferença e como as opressões de classe social, raça e gênero se articulam na constituição de vulnerabilidades à VI. À luz dessa compreensão, também foi possível ressaltar o papel essencial da Atenção Primária à Saúde no atendimento às mulheres em situação de violência. Recomenda-se que o poder público, a academia e os serviços de saúde possam coproduzir respostas que mitiguem essas vulnerabilidades e que as medidas sejam tomadas como prioridade.
Abstract In the midst of economic and social crises that occur in the context of pandemics, epidemics and climate disasters, there was an increase in women's vulnerabilities to Intimate Violence (IV). In this article, the objective is to reflect on strategies in the health field that can collaborate to mitigate these vulnerabilities. It is a theoretical-reflective essay elaborated from the dialogue between the theoretical references of vulnerability and human rights and the ecological model for understanding violence. These references made it possible to list strategies for coping with IV, analyzing them at the individual, family, community and social levels, understanding that the dimensions of vulnerability need to be addressed inseparably. This analysis emphasized that it is essential to understand the social markers of difference and how oppressions of social class, race and gender are articulated in the constitution of vulnerabilities to IV. By this understanding, it was also possible to highlight the essential role of Primary Health Care in assisting women in situations of violence. It is recommended that public authorities, university and health services can co-produce responses that mitigate these as strategies become a priority.
Assuntos
Estratégias de Saúde , Violência contra a Mulher , Vulnerabilidade em Saúde , Violência por Parceiro Íntimo , COVID-19 , Capacidades de EnfrentamentoRESUMO
A abordagem da violência íntima (VI) é um desafio na Atenção Primária à Saúde (APS). Estudos trazem discussões na perspectiva de profissionais, sendo que poucos avançam em dar voz às mulheres. O objetivo deste trabalho foi compreender a experiência dessas mulheres no contexto do cuidado ofertado na APS na cidade do Rio de Janeiro, de estado homônimo, Brasil. Utilizou-se metodologia qualitativa, entrevistando mulheres nas Unidades de Saúde da Família, com questionário semiestruturado e análise hermenêutico-dialética. Entrevistas com 21 mulheres mostraram dificuldades de revelação da VI e possibilidades de atuação da APS, identificando a precarização da rede. Sugestões para abordagem: criação de grupos, escuta empática e vínculo. Foram destacados a atuação de profissionais como tutores de resiliência; a necessidade de qualificação da rede; e o reforço do papel de agentes comunitários e dos atributos da APS para o cuidado dessas situações.(AU)
The intimate partner violence (IPV) approach is a challenge in Primary Health Care. Studies discuss the professionals' perspective, but few of them advance as to give women a voice. The objective of this study was to understand these women's experience with the Primary Health Care provided in the Brazilian city of Rio de Janeiro, state of Rio de Janeiro. A qualitative methodology was used, interviewing women in Family Health units with a semistructured survey and a hermeneutic dialectic analysis. Interviews with 21 women showed difficulties to open up about IPV and possibilities of Primary Health Care intervention, identifying the network's precariousness. Suggestions for approach: creation of groups, empathetic listening, and bonding. The following were highlighted: the work of professionals, such as resilience tutors; the need for network qualification; reinforcement of the role of Community Agents and of the Primary Health Care attributes in these situations.(AU)
El abordaje de la violencia íntima (VI) es un desafío en la Atención Primaria de la Salud (APS). Estudios presentan discusiones bajo la perspectiva de profesionales, siendo que pocos avanzan en darles voz a las mujeres. El objetivo de este trabajo fue comprender la experiencia de estas mujeres en el contexto del cuidado ofrecido en la APS en la ciudad de Río de Janeiro, del estado del mismo nombre, Brasil. Se utilizó metodología cualitativa, entrevistando a mujeres en las unidades de Salud de la Familia, con un cuestionario semiestructurado y análisis hermenéutico-dialéctica. Entrevistas con 21 mujeres mostraron dificultades de revelación de la VI y posibilidades de actuación de la APS, identificando la precarización de la red. Sugerencias para abordaje: creación de grupos, escucha empática y vínculo. Se destacó la actuación de profesionales como tutores de resiliencia, la necesidad de calificación de la red, el refuerzo del papel de Agentes Comunitarios y de los atributos de la APS para el cuidado de esas situaciones.(AU)