RESUMO
RACIONAL: A doença celíaca, uma das mais comuns enteropatias inflamatórias mediadas por um componente da dieta, ocorre em resposta à intolerância ao glúten nos indivíduos geneticamente predispostos. Com a disponibilidade dos exames sorológicos, essa enfermidade tem se mostrado mais freqüente que no passado, contudo seu diagnóstico ainda é, habitualmente, tardio. A pesquisa de intolerância ao glúten em pacientes com sintomas dispépticos, possível manifestação clínica da doença celíaca, pode permitir uma detecção mais precoce dos indivíduos afetados. OBJETIVO: Determinar a prevalência de doença celíaca em pacientes dispépticos submetidos a endoscopia digestiva alta de rotina.PACIENTES/MÉTODOS: Achados endoscópicos, análise histológica da mucosa duodenal e resultado de testes sorológicos de 142 pacientes consecutivos com dispepsia foram obtidos entre outubro de 2001 e outubro de 2003, e comparados. RESULTADOS: O padrão endoscópico sugestivo de doença celíaca foi encontrado em quatro pacientes. O teste IgG-AGA foi positivo em 24 pacientes. Dois dos pacientes IgG-AGA positivos também apresentaram teste IgA-EMA positivo e padrão endoscópico e histológico duodenal compatíveis com doença celíaca. Alterações endoscópicas duodenais foram expressivamente mais evidentes nestes pacientes. A prevalência de doença celíaca observada neste estudo foi de 1,4%. CONCLUSÃO: Pacientes dispépticos, por sua elevada prevalência de doença celíaca, são um grupo de maior risco para essa patologia. Celíacos sem diagnóstico prévio podem ser identificados através de marcadores endoscópicos de atrofia vilositária duodenal. Entretanto, essas alterações endoscópicas podem ser insuficientes para que o diagnóstico seja estabelecido e, conseqüentemente, deve ser recomendada a inclusão de testes sorológicos para doença celíaca na investigação dos pacientes com dispepsia.