RESUMO
O estudo teve como objetivo verificar a discriminação racial vivenciada por adolescentes negras moradoras em favelas da cidade do Rio de Janeiro e sua possível influência no processo de vulnerabilização ao HIV/Aids. Utilizou-se uma combinação de métodos, quantitativo e qualitativo. Este artigo se refere a um recorte da etapa qualitativa desenvolvida por meio de dez grupos focais com a participação de 139 adolescentes. Seguiu-se um roteiro para o debate contendo dois grupos temáticos: sexualidade/DST/Aids/gênero e raça/cor/discriminação. Os relatos foram gravados e o material transcrito organizado conforme os temas tratados e analisados criticamente por equipe multidisciplinar. Os dados coletados foram classificados em categorias específicas articuladas aos pressupostos teóricos, a fim de responder às questões formuladas, tendo por base os objetivos da pesquisa. Os resultados revelaram que as adolescentes negras sofrem discriminação racial no seu cotidiano, que é manifestada nas expressões de suas falas, referindo-se ao aspecto físico, ao caráter e à capacidade intelectual. Tais condutas discriminatórias dificultam o acesso aos serviços de saúde e induzem um atendimento de baixa qualidade. Concluiu-se que a discriminação racial vivida por estas adolescentes negras, na cidade do Rio de Janeiro, influencia o desenvolvimento da autoestima e contribui para a construção de uma identidade negativa que, aliada ao racismo e à pobreza, se configura num contexto de vulnerabilidade às DST/Aids. Sugere-se que estes dados sejam levados em consideração na elaboração de políticas públicas para que ofereçam atenção diferenciada àqueles que estão inseridos de forma desigual na sociedade.
This study aimed to verify the racial discrimination experienced by black teenage girls living in shantytowns in Rio de Janeiro city and its possible influence on their vulnerability to HIV/AIDS. We used a combination of quantitative and qualitative methods, based on data collected from focus groups composed of 139 teenage girls. Group discussions followed a script of subjects involving two thematic areas: sexuality/STDs/AIDS/gender and race/color/discrimination. The discussions were recorded and the transcribed texts were critically analyzed by a multidisciplinary team. The data collected were classified in specific categories associated with the theoretical assumptions, to respond to the research questions. The results reveal that the girls suffer racial discrimination in their daily lives, manifested in disparaging remarks and attitudes toward their way of speaking, physical appearance, character and intellectual capacity. This discriminatory behavior hinders their access to health services and also reduces the quality of the services received. The conclusion is that the racial discrimination experienced by these black teenage girls influences their development of self-esteem and contributes to the construction of a negative identity, which allied with poverty creates a context of vulnerability to DSTs/AIDS. We suggest these findings be taken into consideration in the formulation of public policies to offer better health care services to those who suffer from inequality and discrimination.
Assuntos
Humanos , Saúde do Adolescente , Saúde das Minorias Étnicas , Desigualdades de Saúde , Vulnerabilidade em Saúde , HIV , Preconceito/psicologia , Infecções Sexualmente Transmissíveis , Discriminação Social , Brasil , Política de SaúdeRESUMO
Introdução: Tendo em vista a falta de informações sobre a saúde de adolescentes e jovens das áreas ribeirinhas este estudo foi realizado como uma iniciativa do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - Tefé - Amazonas e o Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente da Faculdade de Medicina da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, como parte integrante do convênio realizado entre Fundação Nacional de Saúde e Ministério da Saúde, através da Área de Saúde do Adolescente e do Jovem. Objetivo: Conhecer o contexto familiar de jovens de comunidades ribeirinhas da Reserva de Mamirauá, principalmente em relação a seus aspectos de saúde mental e vulnerabilidade emocional. Métodos: A pesquisa foi realizada através de um estudo transversal, tendo como instrumento um questionário semiestruturado, previamente testado quanto à sua validade e confiabilidade. Todos os adolescentes e jovens das comunidades participantes foram convidados e solicitados que assinassem um termo de conhecimento livre e esclarecido. No questionário constavam perguntas sobre condições de vida, saúde, trabalho, exposição a riscos, sexualidade, consumo de drogas, entre outras, para avaliar suas vulnerabilidades emocionais. Resultados: Participaram das entrevistas 307 sujeitos, na faixa etária entre 10 e 24 anos, a maioria dos jovens (77,8%) morava com sua família nuclear, sendo 47,6% do sexo masculino e 52,4% do feminino. Já tinham sofrido algum tipo de violência pelos responsáveis, pai/mãe e irmãos, 48,5% e em menores percentuais referiram violência na comunidade (9,1%), na escola (5,2%) e nas relações afetivas (2,6%). A maneira de como se relacionavam com as pessoas, cerca de 70% responderam que tinham facilidade. Constatou-se que cerca de 50% dos mais novos (10 a 14 anos) referiram ter parado suas atividades rotineiras por se sentirem tristes, sendo que os participantes do sexo masculino apresentaram percentuais maiores desse ocorrido. ..
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Humanos , Masculino , Feminino , Criança , Adolescente , População Rural/etnologia , Epidemiologia/estatística & dados numéricos , Saúde Mental/estatística & dados numéricos , Saúde do AdolescenteRESUMO
O presente artigo aborda a vida de jovens egressos do tráfico de drogas nas favelas da cidade do Rio de Janeiro. Seu principal objetivo consiste em analisar as circunstâncias e condições específicas que impulsionam os jovens a abandonarem essa atividade, ilícita, de trabalho. O método utilizado para a coleta de dados foi a história de vida tópica que permitiu conhecer o percurso de entrada e saída de trinta jovens do tráfico, moradores de sete favelas. Os dados revelam que os jovens, ao entrarem para o tráfico, apresentam uma expectativa de encantamento, poder e dinheiro. Com o tempo, essa perspectiva vai desaparecendo devido às situações de traição, punição e medo. O processo de saída ocorre quando o jovem começa a questionar este estilo de trabalho e procura visualizar outras possibilidades de vida, mais condizentes com as suas aspirações. Concluiu-se que o fato de os jovens estarem entrando precocemente no crime organizado leva-os a um desgaste físico e emocional, visto que a venda de drogas passou a ser um coadjuvante frente aos constantes episódios de conflitos armados e tráfico de armas.
This article deals with the lives of young egress of drug traffic in the slums of the city of Rio de Janeiro. Its main objective is to examine the circumstances and the specific conditions that drive young people to abandon this illegal work activity. The method used to collect data was the topical life story in order to find out how 30 youths, from seven slums, had got involved until their departure from the "movement". Data shows that youths, entering trafficking, had an expectation of empowerment. With time, this attitude will wane, as they realize they are living with situations of betrayal, punishment and fear. The process for getting out occurs when the youth begins to question this type of work and sees other ways of life, more consistent with their aspirations. The facts conclude that when getting an early involvement in organized crime it leaves them physically and emotionally exhausted, as selling drugs is an ongoing confrontation through constant episodes of armed conflicts and arms dealing.
Assuntos
Adolescente , Humanos , Masculino , Adulto Jovem , Crime/prevenção & controle , Áreas de Pobreza , Drogas Ilícitas , Brasil , População Urbana , Adulto JovemAssuntos
Humanos , Feminino , Adolescente , Infecções Sexualmente Transmissíveis/etnologia , População Negra/etnologia , Pobreza/estatística & dados numéricos , Pobreza/etnologia , Pobreza/psicologia , Síndrome da Imunodeficiência Adquirida/etnologia , Brasil , Condições Sociais/estatística & dados numéricos , Saúde de Gênero , Áreas de Pobreza , Problemas Sociais/estatística & dados numéricos , Problemas Sociais/etnologiaRESUMO
O estudo busca compreender a trajetória de trabalho e vida de homens jovens que atuaram no tráfico de drogas varejista, entre os anos de 1990 a 2006, em favelas na cidade do Rio de Janeiro. O estudo parte de uma análise qualitativa com ênfase na história oral de vida tópica, envolvendo 30 jovens com idade entre 17 e 25 anos de sete favelas da cidade. Os dados revelam que os jovens, ao entrarem para o tráfico, apresentam uma expectativa de encantamento pelas facilidades de adquirirem prestígio, poder e dinheiro. Com o tempo, essa perspectiva vai desaparecendo devido as situações de traição, punição e falta de prestígio. O processo de saída ocorre justamente quando o jovem começa a questionar seus ganhos e perdas nesta trajetória, e procura visualizar outras possibilidades de vida, mais condizentes com as suas aspirações juvenis. Concluiu-se, que o fato de os jovens estarem entrando precocemente no crime organizado, leva-os a um desgaste físico e emocional, visto que a venda de drogas passou a ser um coadjuvante diante dos constantes episódios de conflitos armados e tráfico de armas. Frente a estas situações estes jovens procuram criar condições possíveis para romper com o crime organizado e procuram articular uma rede social em torno de si para estabelecer novas condutas de vida e trabalho.
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Humanos , Masculino , Feminino , Adolescente , Adulto , Comportamento do Adolescente , Criminologia , Drogas Ilícitas , Violência , Brasil , Áreas de Pobreza , Fatores SocioeconômicosRESUMO
Com o objetivo de verificar se o relacionamento afetivo com violência está associado a um maior risco de DST/AIDS, foi realizada uma pesquisa com jovens entre 14 e 22 anos, moradores de comunidades carentes de dois bairros da cidade do Rio de Janeiro. Utilizou-se método qualitativo por meio de grupos focais de gênero e entrevistas individuais. Na análise do material coletado observou-se que a violência faz parte do cotidiano desses jovens nas comunidades em que vivem e dentro de suas próprias famílias. Os fatores identificados como geradores de violência no relacionamento interpessoal foram: falta de dinheiro e de emprego, uso de drogas e álcool, ciúme e infidelidade. Os adolescentes afirmaram que näo há negociaçäo quanto ao uso de preservativo quando o parceiro é violento, o que pode ter como conseqüência um maior risco de DST/AIDS. Os resultados indicam que o problema da violência é multifatorial e quando está presente nos relacionamentos interpessoais pode dificultar a proteçäo em relaçäo às DST/AIDS
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Síndrome da Imunodeficiência Adquirida , Comportamento do Adolescente , Violência , Infecções Sexualmente TransmissíveisRESUMO
OBJETIVOS: identificar a ocorrência de situações de violência no cotidiano de adolescentes e jovens de comunidades de baixa renda; pesquisar a relaçäo entre uso de drogas e comportamentos de risco de DST/AIDS; e verificar se a violência nas relações afetivas entre adolescentes e jovens dificulta a prevençäo de DST/AIDS. MÉTODOS: estudo epidemiológico com adolescentes e jovens de dois bairros da cidade do Rio de Janeiro, a partir dos dados obtidos de um questionário estruturado que versava sobre perfil da clientela, informações sobre a família, uso de drogas, situações de violência do cotidiano, experiência sexual, entre outras. Para o presente artigo, somente as variáveis que particularizavam agressividade, uso de drogas, comportamentos sexuais de risco e violência nas relações afetivas foram analisadas. Em particular, destacou-se a associaçäo da variável "eu usei camisinha na última relaçäo sexual" com as questöes que indicavam ou näo atitudes violentas nas relações afetivas. RESULTADOS: participaram 1.041 indivíduos na faixa etária entre 14 e 22 anos, sendo 53,6 por cento do sexo feminino. Entre os resultados mais relevantes, observou-se uma relaçäo estatisticamente significativa entre o näo uso de preservativo (p<0,05) e as variáveis categóricas que indicavam agressividade nas relações amorosas. CONCLUSÄO: o grupo estudado revelou uma relaçäo importante entre violência nas relações afetivas e o baixo uso de preservativos. Sugere-se a necessidade do desenvolvimento de medidas de prevençäo aos comportamentos de risco de DST/AIDS associadas a campanhas contra a violência.
Assuntos
Adolescente , Humanos , Masculino , Feminino , Adulto , Comportamento do Adolescente , Infecções Sexualmente Transmissíveis , Violência , Síndrome da Imunodeficiência Adquirida/prevenção & controle , Síndrome da Imunodeficiência Adquirida/transmissão , Brasil , Relações Interpessoais , Assunção de Riscos , Comportamento Sexual , Infecções Sexualmente Transmissíveis , Fatores Socioeconômicos , Transtornos Relacionados ao Uso de Substâncias , Inquéritos e QuestionáriosRESUMO
Remete à dura realidade de milhares de crianças e adolescentes que encontram-se em situaçäo de miserabilidade, no cenário urbano da cidade do Rio de Janeiro. Numa combinaçäo perversa entre miséria e populaçäo infanto-juvenil surgem novas formas de organizaçäo de trabalho que colocam este grupo populacional em máxima vulnerabilidade social. A inserçäo de crianças e adolescentes no narcotráfico vem ganhando forte expressäo e já disputa um espaço significativo no ranking do mercado informal de trabalho, além de ser responsável pelos altos índices de violência e homicídios. No intuito de obter melhor conhecimento das práticas de vida e trabalho dos adolescentes neste contexto, foi realizado este estudo de cunho qualitativo numa favela - Complexo di Kizomba - localizada no Município da cidade do Rio de Janeiro. Verificou-se que dos 2665 adolescentes, moradores dessa favela, com faixa etária entre 10 e 19 anos, aproximadamente 7,5 por cento estäo diretamente envolvidos no tráfico de drogas e 16,8 por cento atuam indiretamente, realizando pequenas tarefas, perfazendo um total de 24,3 por cento adolescentes trabalhadores neste tipo de mercado, sendo em sua maioria do sexo masculino. Durante os anos de 1996 e 1997 ocorreram 90 mortes, representando 13,8 por cento homicídio de adolescentes envolvidos no tráfico. No entanto, os episódios de mortes näo impedem a entrada de outros jovens neste rentável negócio, que em cenas invisíveis aos olhos da sociedade, contribui com o extermínio de jovens em áreas urbanas empobrecidas. Conclui que o mundo do crime é representado no imaginário desses jovens numa oscilaçäo entre o mundo real (a imagem de ser negro, pobre e favelado - baixo status social) e o abstrato/fantasia (a figura de herói, de guerreiro e de poder econômico - alto status social). Onde as concepçöes de saúde e trabalho säo manifestaçöes de poder do narcotráfico. Pouco tem sido feito para reverter este quadro que hoje é reconhecido pela saúde pública como um fenômeno que merece atençäo da sociedade e de cientistas sociais. Tais estudos tornam-se de grande valor, no sentido de fornecer subsídios para uma açäo política que ultrapasse o mero interesse acadêmico e que possa criar estratégias viáveis de intervençäo.
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Adolescente , Drogas Ilícitas , Violência , Trabalho , Áreas de PobrezaRESUMO
Com o propósito de melhorar a eficácia das ações de saúde prestadas pela equipe do Núcleo de Estudos de Saúde do Adolescente (NESA) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) no "Projeto Modelo de Atenção à Saúde Integral do Adolescente" financiado pela Fundação W.K. Kellogg, foi realizada uma pesquisa de caráter exploratório e descritivo em uma amostra da população adolescente que frequentava as instituições participantes do projeto na zona norte do Município do Rio de Janeiro. Foram selecionadas as informações correspondentes às perguntas sobre violência e participação em atividades de grupo. A amostra foi constituída de 1034 participantes, sendo a média de idade de 15,6 anos (DP: 2,1) e 57 por cento do sexo feminino. Conclui que a população assistida pelo projeto é sujeita a um elevado índice de violência, tanto na rua quanto no meio familiar. A grande participação de adolescentes em atividades grupais apontou a necessidade destes espaços serem aproveitados para o desenvolvimento de ações de prevenção da violência
Assuntos
Humanos , Masculino , Feminino , Adolescente , Adolescente , Serviços de Saúde do Adolescente/organização & administração , Violência/tendências , Maus-Tratos Infantis , Abuso Sexual na Infância , Violência Doméstica , Entrevistas como Assunto/estatística & dados numéricos , Inquéritos e Questionários , Ferimentos e LesõesRESUMO
Apresentam-se sucintamente algumas questöes referentes ao trabalho infanto-juvenil e suas repercussöes na saúde. Apontam-se as principais características estruturais que circunstanciam e justificam socialmente a incorporaçäo precoce desse significativo e crescente segmento da populaçäo no mercado de trabalho. Constata-se que, no Brasil, a legislaçäo existente, que proíbe o trabalho de crianças e normatiza o do menor de 18 anos, frequentemente näo é observada. Diante desse quadro, coloca-se como imperativo desenvolver programas de vigilância à saúde desses trabalhadores, em articulaçäo com órgäos públicos e instâncias da sociedade civil.
Assuntos
Emprego , Saúde OcupacionalRESUMO
Os autores fazem uma breve revisäo bibliográfica sobre alguns riscos ocupacionais a que crianças e adolescentes estäo expostos no ambiente de trabalho. Tal preocupaçäo se justifica na medida em que essa populaçäo constitui-se atualmente em importante força laborativa, inserindo-se precocemente no mercado de trabalho. Por outro lado, esses menores encontram-se em uma etapa de profundas modificaçöes biopsicossociais o que os tornam especialmente sensíveis às doenças ocupacionais. Nesse sentido, o presente artigo visa alertar os profissionais de saúde para a identificaçäo dos agravos à saúde de origem ocupacional que ocorrem no período da infância e da adolescência.