RESUMO
Esta pesquisa se insere no campo da saúde coletiva, mais especificamente da saúde mental, tendo como tema as relações entre trabalho e produção de subjetividade. Toma como pressuposto a centralidade cultural do trabalho, destacando duas formas pelas quais ele se insere no imaginário contemporâneo: a do dever e a da auto-realização. Considera que as práticas de gestão do trabalho, que incluem os discursos e ações dos agentes que determinam os modos de organização social do trabalho, tais como instâncias governamentais, instituições de ensino e de pesquisa, corporações e organizações, produzem efeitos enquanto instâncias reguladoras da inserção social do sujeito. Neste sentido, esta pesquisa teórica e de caráter exploratório pretende contribuir para a compreensão dos modos pelos quais o trabalho promove a estruturação (ou desestruturação) subjetiva no contexto social contemporâneo, em que se destaca um imperativo de felicidade individual baseado em valores que se afastam do bem comum e mantêm uma relação de legibilidade precária com a dimensão da transcendência. Toma o mal-estar como elemento inerente à condição humana, relativo ao que resta insatisfeito da interação do homem com o mundo. Das formas de expressão do mal-estar, interessam as que o sujeito produz diante das demandas colocadas pelas liturgias da produtividade e da vitalidade, elementos dos ideários capitalista e individualista contemporâneos, respectivamente, que capturam as dimensões do dever e da auto-realização no trabalho. A análise do mal-estar é organizada em torno de quatro categorias concebidas como tipos fenomenológicos da inserção do sujeito no trabalho...