RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo um estudo a respeito do que se convencionou denominar "recepção" nos serviços ambulatoriais de saúde. Tal estudo busca o conhecimento da(s) forma(s) de estruturação deste espaço, no que se refere às normas e regras vigentes e exercidas pelos profissionais que ali atuam. Entender estes elementos se faz essencial para que se possa compreender os mecanismos de ingresso ou não da população usuária, aos serviços públicos de saúde, como também, o tipo de atendimento e tratamento à mesma dispensado. Ao buscar entender o local da recepção, se objetiva desvendar os tipos de negociaçÕes que ali são produzidas, que tipos de normas e regras se fazem presentes e com que objetivo, buscando assim, entender até que ponto a recepção não viria a representar um dispositivo muito mais de controle, disciplinarização, exercício de poder, acompanhado de uma intensa preocupação em selecionar, eleger ou, certamente, "triar" os casos legitimados pelo serviço como "elegíveis" para o atendimento. Pensando a partir destas questões, é que se buscou entender em que medida a população usuária dos serviços de saúde consegue ter no mesmo a possibilidade de seu uso, uma vez que a partir dos comentários anteriores, o que se verifica é que a recepção acaba por expressar a contradição de interesses, com uma prática direcionada à regulação, disciplinarização, ordenamento e elegibilidade da demanda. Aí reside o motivo pela escolha da recepção, sendo a mesma, elemento-chave deste estudo, na medida em que traz consigo, a característica de ser o "lócus" privilegiado de interação entre agentes do serviço e população. Assim sendo, recebe e se defronta com os denominados "pacientes", que trazem suas representações sobre o serviço, expectativas, sofrimentos e a esperança em vê-los resolvidos. A atenção do estudo sobre o "lócus" da recepçao traz a inovação da pesquisa e sua contribuição, na medida em que tal forma vem sendo alvo de pouca reflexão e investimento, tanto do ponto de vista acadêmico como institucional. O estudo da instituição terá por base as práticas desenvolvidas na recepção, a partir de um "Projeto" destinado ao acolhimento aos pacientes que buscam o serviço, normalmente, pela primeira vez, atuando o "Projeto" numa ação paralela à emergência, atendendo os casos considerados não graves, impedindo assim o grande inchaço da emergência, de forma a filtrar sua demanda.