RESUMO
O objetivo deste artigo é interrogar as implicações do uso da medicação no processo de subjetivação das pessoas vivendo com HIV/AIDS (PVHA) e a adesão ao tratamento. Problematizou-se o lugar central da medicação no discurso da saúde sobre o tratamento dessas pessoas. Trata-se de uma pesquisa qualitativa. Utilizou-se de entrevistas semiestruturadas, com a seguinte pergunta disparadora: "como é, para você, viver com o HIV/AIDS?". Foram entrevistados 6 sujeitos, sendo 2 mulheres e 4 homens, todos eles usuários de um SAE (Serviço de Atendimento Especializado em DST/AIDS) no Recife-PE. Utilizou-se uma amostragem acidental e intencional. A referência tomada para construir uma teorização a partir dos achados foi inspirada no pensamento de Michel Foucault, especialmente na genealogia do sujeito. Aponta-se como Foucault não possui instrumentos prontos para conduzir suas pesquisas. O que faz são inquirições empíricas precisas sobre áreas e campos muito específicos, sem pretensões globais ou gerais sobre seus campos de estudo. Realizou-se uma analítica do sujeito, e não uma análise do discurso no formato tradicional, que deve ser compreendida como a problematização de processos de subjetivação que se dão pela articulação entre regimes de verdade e formas éticas de relação consigo e com o outro, uma genealogia do sujeito. Destacam-se os referenciais ao biopoder e à biopolítica nesses processos de subjetivação de PVHA. A AIDS parece ter circulado como um discurso e serviu como experiências que participaram na formatação de sujeitos, produzindo corpos dóceis e operacionalizando uma governabilidade sobre o corpo individual e da população. Essa gerência da vida fica bem evidente na adesão ao tratamento, observando-se o discurso médico-científico coordenando as formas de subjetivação das PVHA e suas maneiras de conduzir seus tratamentos, o uso da medicação e a adesão, mostrando como o discurso sobre a AIDS foi articulado por vários dispositivos e passou a governar a vida.
The purpose of this article is to question on the implications of the use of medication in the subjective process of people with HIV / AIDS (PVHA) and adherence to treatment. The central place of medication in the health discourse on the treatment of these people was discussed. This is a qualitative research, which used semi-structured interviews, from the following triggering question "how is, for you, living with HIV / AIDS?" There were 6 subjects interviewed, 2 women and 4 men, all of them, members of a Specialized Care Service (SAE) in STD / AIDS in Recife / PE. We used an accidental and intentional sampling. The reference taken to build a theory from the findings was inspired by Michel Foucault's thought, especially in the subject's genealogy. It points out that Foucault does not have instruments prepared to conduct his researches, what he does is accurate empirical inquiries about areas and very specific fields without global or general claims about his fields of study. An analytic of the subject was carried on, and not a discourse analysis as in the traditional format, which must be understood as the questioning of subjective processes that occurs by the relationship between regimes of truth and ethical forms of relationship with yourself and the other, a genealogy of the subject. It is noteworthy the references to biopower and biopolitics in these subjective processes of PVHA. AIDS seems to have circulated as a speech and served as experiences that participated in the formatting of subjects, producing docile bodies and operationalizing governance on the individual body and population. This management of life is evident in the adherence to treatment, observing the medical-scientific discourse coordinating the forms of subjectivity of PVHA and their ways of conducting their treatments, medication use and adherence, showing how the discourse on AIDS iwas articulated by various devices and passed to govern life.
El objetivo de este artículo es cuestionar acerca de las implicaciones del uso de medicinas en el proceso de subjetivación de las personas con VIH/SIDA (GIPA) y la adhesión al tratamiento. Se problematizó el lugar central de la medicación en el discurso de la salud bajo el tratamiento de estas personas. Es una investigación cualitativa que se há utilizado de entrevistas semiestructuradas con la siguiente intrigante pregunta: "cómo es, para ti, vivir con VIH/SIDA?". Fueron entrevistados 6 sujetos, siendo 2 mujeres y 4 hombres, todos utilizaban un Servicio de Atendimiento Especializado (SAE) en EST/SIDA en Recife/PE. Se utilizó una muestra accidental e intencional. La referencia para la construcción de una teorización partiendo de los hallazgos fue inspirada en el pensamiento de Michel Foucault, especialmente en la genealogía del sujeto. Se dice que Foucault no posee instrumentos listos para conducir sus investigaciones, lo que hace son precisas indagaciones empíricas acerca de ámbitos y campos muy específicos, sin pretensiones globales o generales acerca de sus campos de estudio. Se realizo una analítica del sujeto y no un análisis del discurso en el formato tradicional, que debe ser comprendida como la problematización de procesos de subjetivación que ocurren por la articulación entre regímenes de verdad y formas éticas de relación con si mismo y con el otro, una genealogía del sujeto. Se sobresalen los referenciales al biopoder y a la biopolítica en estos procesos de subjetivación de GIPA. La SIDA perece haber circulado como un discurso y sirvió como experiencias que participaron en el formateo de sujetos, produciendo cuerpos dóciles y ejecutando una gobernabilidad acerca del cuerpo individual y de la población. Esta gerencia de la vida queda muy notable en la adhesión al tratamiento, observando el discurso médico-científico coordinando las formas de subjetivación de las GIPA y sus maneras de conducir sus tratamientos, el uso de la medicación y la adhesión, enseñando cómo el discurso acerca del SIDA fue articulado por muchos dispositivos y pasó a gobernar la vida.
Le but de cet article est questioner l'engagement de l'usage du médicament dans le processus de subjectivation des personnes infectées au VIH/SIDA et l'adhésion au traitement. On a repenser la place centrale du médicament dans le discours de santé à propos du traitement de ces personnes. C'est une recherche qualificative qui a utilisé des interviews semistructurées à partir de la question suivante: « qu'est-que ça signifie pour vous, vivre avec VIH/SIDA ? ¼ Six personnes ont été interviewées, 2 femmes et 4 hommes, touts utilisateurs du Service d'Attention Spécialisé (SAE) en IST/SIDA au Recife/PE. On a utilisé l'échantillionage accidentel et intentionel. La référence de la construction théorique à partir des résultats a été inspirée par la pensée de Michel Foucault, surtout la généalogie du sujet. Foucault n'avait pas d'outils pour conduire ses recherches, ce qu'il fisait, consistait en faire des recherches empiriques précises dans des domaines très spécifiques, sans des prétentions globaux ou généralisées de ses domaines d'études. On a réalisé une analytique du sujet, et non une analyse du discours au format traditionnel, qui doit être comprise comme la problématisation des processus de subjectivations qui se font à partir de l'articulation entre les régimes de vérité et manières éthiques de relation avec soi et avec l'autre, une généalogie du sujet. On détache les références au biopouvoir et à la biopolitique dans ces processus de subjectivation de PVHA. Le SIDA semble un discours qui a circulé et servi comme des expériences qui ont fait partie de la formation des sujets en produisant des corps dociles et en opérant un gouvernement du corps individuel et de la population. Cette gestion de la vie apparaît clairement à l'adhésion au traitement, ce qui est vérifié au discours médical et scientifique, car il coordonne les manières de subjectivation des PVHA et ses façons de conduire leur traitement, l'usage et l'adhésion au médicament. Cela montre comme le discours à propos de SIDA a été articulé par plusieurs dispositifs et a passé à gouverner la vie.
Assuntos
Humanos , Masculino , Feminino , Adulto , Saúde Mental , HIV , Fármacos Anti-HIVRESUMO
Power mechanisms stormed life in its various dimensions, from genes to dream production. Theoreticals deriving from workerism autonomy, impregnated by their Espinosa, Foucault, Deleuze readings, gave another meaning to this context of expropriation, by making one see its opposite, the ontological positivity inserted into its grounds. So, they came to formulate the idea that biopower opposes Multitude biopotency. By articulating the notions of biopolitics, common production, immaterial labor and singularity, they offered a new intelligibility to contemporary processes, as well as forms of resistance emerging in them, where reversibility and reversals, in several scales, announce uncertain recompositions.
Os mecanismos de poder tomaram de assalto a vida em suas várias dimensões, dos genes à produção onírica. Teóricos oriundos da autonomia operaista, impregnados de suas leituras de Espinosa, Foucault, Deleuze, ressignificaram esse contexto de expropriação fazendo ver seu avesso, a positividade ontológica que está na sua base. Assim, chegaram a formular a ideia de que ao biopoder se contrapõe a biopotência da Multidão Ao articular as noções de biopolítica, produção do comum, trabalho imaterial e singularidade, ofereceram uma nova inteligibilidade aos processos contemporâneos, bem como às formas de resistência que neles emergem, ali onde reversibilidades e reversões nas mais diversas escalas anunciam recomposições ainda incertas.
Assuntos
Humanos , Masculino , Feminino , Capitalismo , Ciência , Estado , Poder Psicológico , Política , Seguridade Social , VidaRESUMO
Este artigo parte de uma revisão da literatura histórico-filosófica de Michel Foucault das relações entre biopolítica, democracia, segurança, seguridade e cidade. O texto analisa as tramas sociais contemporâneas, na qual observa-se um número crescente de encomendas relacionadas ao exercício da democracia representativa e participativa em seus efeitos jurídicos. Objetiva-se pensar os deslizamentos de controle da população, no governo da vida, na soberania da lei em meio às resistências aos mecanismos de segurança na cidade, baseados em encomendas de ordem e lei, no Estado Democrático de Direito. Para tanto, levantam-se os paradoxos da relação entre biopolítica e democracia por meio do racismo de sociedade e de Estado. Como resultado, ocorrem práticas produtoras de segregações e invenção de inimigos sociais forjados na atualidade, nas cidades, em função da racionalidade político-econômica entre medo e anormalidade, racismos e penalidades, discriminações e maneiras de deixar morrer e matar em nome da vida.
This article is a literature review of the historical and philosophical perspective of Michel Foucault about biopolitics, democracy, safety, security and city. The text analysis social arrangements presents in contemporary times, in which we observe an increasing number of concerning related to the exercise of representative and participatory democracy in its legal effects. We aim analyse the deviations of population control, in government of life, the sovereignty of the law amid resistance to security mechanisms in the city, based on law and order demands, in a democratic state. To do so, we list the paradoxes in the relationship between biopolitics and democracy through the racism of society and state. As a result, practices of segregation and invention of social enemies are forged, in the cities, due to the political and economic rationality between fear and abnormality, penalties racism, discrimination and ways of killing and letting die on behalf of life.
Este artículo es una revisión de la obra de Michel Foucault acerca de la biopolítica, democracia, seguridad, protección y ciudad. El texto analiza las redes sociales contemporáneas, e el creciente número de demandas relacionadas con el ejercicio de la democracia e sus efectos jurídicos. El objetivo es pensar en escapes de control de la población, la soberanía de la ley en medio de la resistencia a los mecanismos de seguridad en la ciudad, en base a demandas de ley y orden en un Estado democrático. Para ello, listamos las paradojas entre biopolítica y democracia a través del racismo de la sociedad y del Estado. Como resultado ocurren prácticas de segregación y invención de enemigos sociales, debido a la racionalidad política y económica entre el miedo y la anormalidad, y las sanciones contra el racismo, la discriminación y variadas formas de matar y dejar morir en nombre de la vida.
Assuntos
Política , Psicologia Social , Cidades , Democracia , Estado , Poder Psicológico , Racismo , SegurançaRESUMO
La interrogación sobre la eficacia de las operaciones jurídicas en sus entornos institucionales formulada desde la perspectiva de la Subjetividad revela las Problemáticas Subjetivas que allí habitan tanto en quienes son sus objetos de captura, los Usuarios, como en quienes llevan a cabo los procedimientos, los Operadores jurídicos. Es que mediante ese tratamiento los sujetos quedan abandonados a la condición de objetos de procedimiento y a las vicisitudes que tal les impone; la diferencia entre la gestión objetalizada de la operación jurídica y la subjetividad reclamada por los sujetos en sus demandas judiciales es de muy difícil resolución mediante estos dispositivos. Esa borradura de la subjetividad no ocurre sin costo: los efectos de ese forzamiento impactan en los Operadores jurídicos produciendo dolor existencial y un rechazo a la causa de ese malestar: los Usuarios o clientes, a quienes colocan en condición de objeto de un mal trato conocido y padecido por el entorno clientelar. El sufrimiento de las Problemáticas Subjetivas estructuralmente precluidas atraviesa todo el sistema poniendo en cuestión su eficacia para resolver las situaciones vitales que presentan los litigios y la capacidad para llevar a cabo el objetivo institucional de poner orden jurídico a los conflictos y hacer Justicia.
The questioning about the effectiveness of legal operations in institutional contexts, formulated from the perspective of Subjectivity, reveals the Subjective Problems that lie therein, in those who are objects of apprehension, the Users, as well as in those who carry out the procedures, the legal Operators. This is because by way of this treatment, subjects become mere objects of the procedures and encounter the difficulties imposed by such condition. The solution to the difference between the objectualizedaction of the legal operation and the subjectivity claimed by subjects in their legal requests proves to be very difficult through these mechanisms. This deletion of subjectivity has a price: this forcing affects legal Operators, causing existential pain and rejection of the cause of this unease: the Users, who become the objects of poor treatment, known and suffered by their environment. The suffering of the subjective issues, which are structurally precluded, is present in all the system, questioning its effectiveness to solve the fundamental plights presented by disputes and the ability to carry out the institutional aim of imposing legal order to conflicts and administering justice.
Assuntos
Humanos , Poder Judiciário , Processo Legal , Poder Psicológico , Direito Processual , PsicanáliseRESUMO
Trata-se de discussao acerca das políticas que incidem, no contemporâneo, sobre a vida, mais especificamente, sobre os modos de subjetivaçao, a partir da obra de Michel Foucault. Nomeamos poder a uma correlaçao de forças que se faz por combates, por enfrentamentos, por lutas. Nesse sentido, o poder nao é algo exterior que vem incidir sobre nós. Esta imanencia do poder nos solicita sempre análises do que estamos colocando em funcionamento: estratégias de dominaçao e estratégias de resistencia. A resistencia é o limite permanente do poder ou seu ponto de inversao. Desta forma, pode-se pensar que as políticas que incidem sobre a vida abarcam tanto dispositivos de poder quanto exercícios de resistencias. Tensao que se faz na gestao cotidiana de cada uma de nossas vidas. Assim, coloca-se uma necessidade incessante de avaliarmos o quanto se contribui para a mortificaçao ou para a expansao da vida
This is the discussion about the policies dealing in contemporary, about life, more specifically, on the modes of subjectivity, from the work of Michel Foucault. We name power as a correlation of forces that is by fighting, by confrontation. Accordingly, the power is not something outside that is focused on us. This immanence of power in the analysis of the calls when we are putting into operation: strategies of domination and strategies of resistance. The resistance is the limit of the permanent or the point of reversal. Thus, one can think that the policies that affect the life span of both devices as power of resistance exercises. Tension that is present in the daily management of each life. Thus, there is an incessant need to assess how it contributes to the mortification or the expansion of life
Assuntos
Humanos , Política , Psicologia , Poder Psicológico , ÉticaRESUMO
Este artigo foca o tema controverso das biopolíticas da depressão em imigrantes, em particular nos originários da África sub-sahariana. Os sintomas depressivos, ligados à ansiedade, são identificados também pela nova e mais importante patologia mental dos imigrantes: a Síndroma de Ulisses, de stress múltiplo e crónico, já definido como "o mal do século vinte e um", e que atinge principalmente os africanos. Não só entre estes imigrantes mas também em África, segundo um estudo conduzido pela OMS, a depressão tornou-se uma das principais patologias mentais. O tratamento farmacológico do sofrimento, entendido como fenómeno orgânico, é considerado o único caminho possível, silenciando os processos históricos, políticos e socioeconómicos que lhe estão na base. A atenção é portanto focada na saúde mental do indivíduo, desviando-a de problemas sociais de difícil resolução, que necessitariam de respostas económicas e políticas.
The following article focuses on the controversial issue of the biopolitics of depression in immigrants, especially those originating from Sub-Saharan Africa. Depressive symptoms connected with anxiety are predicted by the new and major mental pathology of the immigrants: the Ulysses Syndrome, a condition of multiple and chronic stress, already defined as the "twenty-first century's affliction", which affects mainly Africans. Depression has become one of the predominant mental disorders not only among African immigrants but in Africa itself, according to research conducted by the WHO. Pharmaceutical treatment of suffering, understood as an organic phenomenon, is considered the only possible route, suppressing the historical, political and socio-economic processes which remain at its foundation. So, the attention placed on the subject's mental health is being diverted from complicated social problems which would require economic and political responses.