Neurites na hanseníase: significado de parâmetros clínicos e epidemiológicos na indução e agravamento das incapacidades físicas em pacientes multibacilares / ?

RESUMO

Com o objetivo de determinar a influência dos episódios de neurite franca no estabelecimento e/ou agravamento de incapacidades físicas, foram estudados 103 pacientes portadores de formas multibacilares de hanseníase (18,4 por cento pacientes BB; 47,6 por cento pacientes BL; e 34 por cento LL), durante o período médio de 64,6 meses a partir do início da poliquimioterapia para multibacilares, acompanhadas no Ambulatório Souza Araújo da Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro. Os pacientes foram avaliados por ocasião do diagnóstico, mensalmente durante a poliquimioterapia e anualmente após o tratamento medicamentoso, ou a intervalos menores quando da vigência de episódios reacionais. A avaliação de incapacidades foi feita pelo grau e índice de incapacidades, utilizando o teste dos músculos voluntários (VMT) e o teste de sensibilidade com monofilamentos de nylon (Semmes-Weinstein). Observou-se uma correlação estatisticamente significativa entre maiores tempo de evolução da enfermidade previamente ao diagnóstico e a presença de incapacidades físicas no exame inical, conforme avaliada pelo grau de incapacidade antes do tratamento (p < 0,05). A presença de nervos periféricos afetados (espessados e/ou dolorosos) no momento do diagnóstico correlacionou-se estatisticamente com incapacidades físicas presentes ao exame inicial (grau de incapacidade antes do tratamento maior que zero - p < 0,005), bem como com a ocorrência de episódios de neurite franca durante o período total de seguimento (p < 0,05). Quarenta e seis pacientes (44,7 por cento) tiveram episódios de neurite franca durante o seguimento (34 por cento durante a poliquimioterapia). Houve uma correlação estatisticamente siginificativa entre a ocorrência de episódios de neurite franca e o estabelecimento de incapacidades físicas ao término de tratamento, conforme avaliadas pelo grau de incapacidade (p = 0,000274) e pelo índice de incapacidades (p = 0,002165), mesmo entre aqueles pacientes que iniciaram o tratamento com grau de incapacidade zero (com relação ao grau de incapacidade no término do tratamento, p = 0,013246). De modo semelhante, observamos uma correlação significativa entre a ocorrência de episódios de neurite franca e a presença de incapacidades ao término do episódio de seguimento, seja avaliada quanto ao grau de incapacidade (p = 0,006886), ou quanto ao índice de incapacidade (p = 0,006274), mesmo naqueles pacientes que não apresentavam incapacidades no início do tratamento.