Saúde dos indivíduos em situação de rua: entre queixas, sintomas e determinantes das doenças crônicas / Health of homeless individuals: among complaints, symptoms, and determinants of chronic diseases / Salud de las personas en situación de calle: entre quejas, síntomas y determinantes de enfermedades crónicas

RESUMO

Introdução: A população em situação de rua é vulnerabilizada por diversos fatores que determinam ou condicionam sua saúde e ocasionam aumento dos índices de comorbidades clínicas, entre elas as doenças mentais, crônicas e infectocontagiosas. A marginalização dos indivíduos que se encontram em situação de rua abre uma lacuna na assistência em saúde que, por vezes, é suprida por organizações sem fins lucrativos que exercem um papel social elementar. Objetivo: Mapear o perfil clínico da população em situação de rua de Curitiba (PR) atendida por iniciativa voluntária no período de um ano. Métodos: Trata-se de um estudo observacional descritivo de base documental realizado com fichas clínicas dos 509 pacientes maiores de 18 anos e que tiveram seu primeiro atendimento médico realizado pela Associação Médicos do Mundo, filial Curitiba (PR), no ano de 2019. Resultados: Indivíduos do sexo masculino, de etnia branca, faixa etária entre 36 e 45 anos, que cursaram o ensino fundamental e que se encontravam havia menos de um ano em situação de rua foram as condições sociodemográficas predominantes. As principais queixas motivadoras da procura pelo atendimento foram dor (45,19%), lesões cutâneas (15,71%) e queixas oftalmológicas (6,68%). Parte dos indivíduos mostrou acometimento crônico por hipertensão arterial sistêmica (9,03%), HIV/AIDS (3,53%) e diabetes mellitus (3,53%). Também foi identificada quantidade significativa de relatos de histórico de traumas físicos (59%). Encontrou-se correlação estatística entre hipertensão e medicamentos de uso contínuo (p=0,001). Menos que 10% dos indivíduos procuraram atendimento médico por queixas de saúde mental. Das mulheres que fizerem parte do estudo, 70% relataram fazer uso de substâncias e aproximadamente metade delas, uso regular de medicamentos. Já o uso de anticoncepcionais foi relatado por uma minoria delas (18,57%). Conclusões: As queixas de dor, as lesões cutâneas e as demandas oftalmológicas foram os principais motivadores da procura por ajuda médica pela população em situação de rua, além da prevalência de hipertensão arterial sistêmica como doença crônica. Os achados podem auxiliar e direcionar ações em saúde voltadas para essa população marginalizada.

ABSTRACT

Introduction: The rough-sleeping population is vulnerable due many factors determining or conditioning their health and contribute to the raising the index of clinical comorbidities, as mental health, chronic and infectious diseases. The marginalization of the homeless population leads to a gap on the health care that sometimes is supplied by non-profit organizations, which play a fundamental social role. Objective: To map the clinical profile of the homeless population of Curitiba (PR) attended by a voluntary initiative in the period of a year. Methods: It's an observational study based on the medical records of the 509 patients older than 18 year that had their first health-care attendance provided by the World Doctors Association, branch Curitiba (PR), in the year of 2019. Results: The predominant sociodemographic conditions were white males, aged between 36 and 45 years old, that have attended elementary school and were homeless for less than a year. The main complains that lead to health care search were pain (45,19%), dermatologic lesions (15,71%) and ophthalmologic complains (6,68%). Most of the patients exhibited chronic systemic arterial hypertension (9,03%), HIV/AIDS (3,53%) and diabetes mellitus (3,53%). There were also identified a great amount of past reported physical trauma (59%). The research found a statistical correlation between hypertension and chronic use of medications (p=0,001). Less than 10% of the rough-sleeping attended population sought medical care due mental health complains. Of the female studied population, 70% reported substance use and, approximately half of them, the regular use of chronic use medicines. Even though, contraceptives were only reported by a minority of this population (18,57%). Conclusions: Pain, dermatologic and ophthalmological complains were the main medical care seeking reason by the rough-sleeping population, besides the prevalence of systemic arterial hypertension as a chronic illness. These findings can subside and direct healthcare actions oriented to this marginalized population.

RESUMEN

Introducción: La población en situación de calle es vulnerable por diversos factores que determinan o condicionan su salud y terminan por aumentar los índices de las comorbilidades clínicas, incluyendo enfermedades mentales, crónicas e infectocontagiosas. La marginación de los sujetos que se encuentran en situación de calle hace una laguna en su asistencia en salud que, por veces, es suplida por organizaciones sin fines de lucro, las cuáles ejercen una función social muy importante. Objetivo: Mapear el perfil clínico de la población en situación de calle de Curitiba (PR) atendida por una iniciativa voluntaria en el período de un año. Métodos: Se trata de un estudio observacional descriptivo documental basado en historias clínicas de 509 pacientes mayores de 18 años y que tuvieron su primera atención médica realizada por la Asociación Médicos del Mundo, filial Curitiba (PR), en 2019. Resultados: Las condiciones sociodemográficas predominantes fueron los varones, de etnia blanca, con edades entre 36 y 45 años, que frecuentaron a la escuela primaria y que estaban en la calle a menos de un año. Las quejas principales que motivaron la búsqueda de atención fueron dolor (45,19%), lesiones cutáneas (15,71%) y quejas oftalmológicas (6,68%). La mayoría de los individuos mostró acometimiento crónico por hipertensión arterial sistémica (9,03%), HIV/SIDA (3,53%) y diabetes mellitus (3,53%). Aún fue identificada una cantidad significativa de informes de traumas físicos (59%). Se encontró también una correlación estadística entre hipertensión y medicamentos de uso continuo (p=0,001). Menos del 10% de las personas buscaron atención médica por problemas de salud mental. De las mujeres que participaron en el estudio, el 70% informó haber consumido sustancias y aproximadamente la mitad de ellas hace uso habitual de medicamentos. Sin embargo, el uso de anticonceptivos fue informado por una minoría de las mujeres (18,57%). Conclusiones: Las quejas de dolor, lesiones cutáneas y oftalmológicas fueron los principales motivadores para que la población sin hogar buscase ayuda médica, además prevaleció la hipertensión arterial sistémica entre las enfermedades crónicas. Los hallazgos de esta pesquisa pueden ayudar y orientar las acciones de salud dirigidas a esta población marginada.