Fatores contextuais relacionados ao uso da pressão positiva contínua nas vias aéreas como suporte ventilatório inicial ao recém-nascido pré-termo / Contextual factors related to the use of continuous positive airway pressure as initial ventilatory support for preterm newborns

RESUMO

Introdução: Atualmente a pressão positiva contínua em vias aéreas é recomendada como suporte ventilatório inicial ao recém-nascido pré-termo com desconforto respiratório, sendo considerada um grande avanço e um marco na assistência ao recém-nascido de risco nas últimas décadas. Entretanto, apesar dessa estratégia ser segura e eficaz, alguns fatores contextuais (individuais e ambientais) podem influenciar no curso clínico desses bebês e na efetividade desse suporte no tratamento do desconforto respiratório. Objetivo: Descrever os fatores contextuais relacionados ao uso da pressão positiva contínua nas vias aéreas como suporte ventilatório inicial para o recém-nascido pré-termo. Material e métodos: Trata-se de um estudo do tipo observacional, descritivo, de abordagem quantitativa e levantamento retrospectivo. Foram incluídos os neonatos que nasceram com idade gestacional menor que 37 semanas de gestação e que utilizaram a pressão positiva contínua nas vias aéreas como suporte ventilatório inicial dentro das primeiras 24 horas de vida, no período de janeiro a dezembro de 2022. Coletou-se os dados demográficos e clínicos dos recém-nascidos, medicamentos utilizados nas primeiras 72 horas de vida, antecedentes maternos, dados e desfecho do suporte ventilatório, evolução clínica e exames complementares. A amostra foi dividida em 2 grupos, de acordo com o desfecho do suporte ventilatório (sucesso ou insucesso). A análise estatística foi realizada por meio de estatística descritiva e teste t ou Mann-Whitney para comparação entre grupos para variáveis paramétricas e não paramétricas, respectivamente e Chi-Quadrado para variáveis categóricas. Resultados: A amostra foi composta por 50 recém-nascidos pré-termo com idade gestacional entre 25 e 36 semanas. A maioria dos recém-nascidos (82%) eram prematuros moderados a tardios, com peso ao nascimento considerado adequado para a idade gestacional e APGAR médio de 7,21,6 e 8,4 0,8 no primeiro e quinto minutos, respectivamente. A maior parte (70%) dos recém-nascidos eram filhos de mães jovens, que receberam corticoide antenatal. O valor médio de pressão utilizada foi de 5,80,5 cmH2O e a média da fração inspirada de oxigênio máxima nas primeiras 72 horas de vida foi de 0,340,1. Houve ainda baixa prevalência de complicações relacionadas ao uso da pressão contínua nas vias aéreas. A taxa de insucesso para a amostra como um todo foi de 14%, porém, quando categorizada para idade gestacional, a taxa de insucesso nos recém-nascidos pré-termo menores de 32 semanas foi de 45%. O grupo insucesso apresentou menor idade gestacional, necessitou de fração inspirada de oxigênio mais elevada e recebeu mais doses de surfactante que o grupo sucesso. Conclusão: A análise dos fatores contextuais relacionados a pressão positiva contínua nas vias aéreas como suporte ventilatório inicial, apontou que a idade gestacional mais baixa é um fator pessoal relacionado ao insucesso da pressão contínua nas vias aéreas como suporte ventilatório inicial. Já no contexto ambiental a fração inspirada de oxigênio máxima nas primeiras 72 horas de vida e maior número de doses de surfactante foram os fatores associados à ineficácia do suporte ventilatório.

ABSTRACT

Background: Currently, continuous positive airway pressure is recommended as initial ventilatory support for preterm newborns with respiratory distress, being considered a great advance and a milestone in the care of high-risk newborns in recent decades. However, although this strategy is safe and effective, some contextual factors (individual and environmental) can influence the clinical course of these babies and the success of this support in the treatment of respiratory distress. Objective: To describe the contextual factors related to the use of continuous positive airway pressure as initial ventilatory support for preterm newborns. Methods: This is an observational, descriptive study with a quantitative approach and a retrospective survey. Neonates who were born with a gestational age of less than 37 weeks of gestation and who used continuous positive airway pressure as initial ventilatory support within the first 24 hours of life, from January to December 2022, were included. demographic and clinical data of newborns, medications used in the first 72 hours of life, maternal history, data and outcome of ventilatory support, clinical evolution and complementary tests. The sample was divided into 2 groups, according to the outcome of ventilatory support (success or failure). Statistical analysis was performed using descriptive statistics and t or Mann-Whitney test for comparison between groups for parametric and nonparametric variables, respectively, and Chi-square test for categorical variables. Results: The sample consisted of 50 preterm newborns with gestational age between 25 and 36 weeks. Most newborns (82%) were moderate to late preterm, with birth weight considered adequate for gestational age and mean APGAR scores of 7,21,6 and 8,40,8 in the first and fifth minutes, respectively. Most newborns (70%) were born to young mothers who received antenatal corticosteroids. The mean value of pressure used was 5.80.5 cmH2O and the mean of fraction of maximum inspired oxygen in the first 72 hours of life was 0,340,1. There was also a low prevalence of complications related to the use of continuous airway pressure. The failure rate for the sample as a whole was 14%, however, when categorized by gestational age, a higher failure rate was observed in preterm newborns younger than 32 weeks was 45%. The failure group had a lower gestational, required a higher fraction of inspired oxygen and received more surfactant doses than the success group. Conclusion: The analysis of contextual factors related to continuous positive airway pressure as initial ventilatory support showed that lower gestational age is personal factor related to the unfavorable outcome of continuous airway pressure as initial ventilatory support. In the environmental context, however, the maximum fraction of inspired oxygen in the first 72 hours of life and a higher number of surfactant doses were the factors associated to the ineffectiveness of ventilatory support.