A construção de um significado para o câncer de mama: compreendendo o adoecer através de um modelo interdisciplinar

RESUMO

O alcance do comprometimento da qualidade de vida da paciente com câncer de mama ultrapassa os limites do plano biológico. Ao constatar o câncer de mama, a mulher necessita dar um sentido a esta experiência tão desorganizante. O significado atribuído à doença não se restringe à esfera corporal, pelo contrário, inclui aspectos de seus meios psíquico e socio-cultural. O objetivo desta pesquisa foi explicitar tal complexidade, bem como apontar alguns dos aspectos psicossociais que participam na formação de sentido. A fim de atingir tal meta, foram empregados referenciais teóricos de disciplinas como a psicologia, a antropologia e a sociologia, na tentativa de integrá-los em um modelo interdisciplinar. Esta abordagem do problema levou à escolha de uma metodologia qualitativa. As participantes foram mulheres que estavam em tratamento no setor de mama do Hospital do câncer, pertencente ao complexo INCa. As técnicas utilizadas foram entrevistas semi-estruturadas e observações de campo e de prontuários. Os dados das entrevistas foram submetidos a análise do conteúdo e os demais dados foram examinados à luz da abordagem etnográfica. Os resultados confirmaram a complexidade dos elementos envolvidos que, mesmo sendo comuns ao grupo, são combinados por cada paciente de forma idiossincrática. A estratégia de enfrentamento da doença está relacionada a esta forma como a paciente interpreta sua doença e seu tratamento. O processo de atribuição de um sentido é dificultado pela abordagem unidisciplinar - que desconsidera os aspectos psicossociais da doença - vigente no ambiente hospitalar. É na busca do reconhecimento da multiplicidade de fatores envolvidos que se concentra a importância de trabalhos como este, uma vez que a simplificação do processo de adoecer, identificado a mera disfunção biológica, limita a qualidade de vida da doente

ABSTRACT

The reach of the compromise of a breast cancer's patient quality oflife goes far beyond the bounds of the biological setting. Having acknowledged breast cancer, a woman needs to make sense out of such a disruptive experience. The meaning attributed to the disease is not restrained to the physical real~ on the other way around, it embeds psychic and socio-cultural aspects. The aim of this research was eliciting such complexity, as well as pointing out some of the aforementioned psycho-social aspects which playa role in the process of making sense out of the disease. In order to reach this goal, we have applied theorical referentials of disciplines such as Psychology, Anthropology and Sociology, attempting to integrate them into na interdisciplinary standard. This approach to the matter led us to the choice of a qualitative methodology. The subjects were women undergoing treatment at the breast disease care ward of the Cancer Hospital, pertaining to the INCa (National Institute of Cancer) complex. The techniques used were partially structured interviews, field and the subjects' medical records observations. The interview-based date were submitted to na analysis of content, whereas the remaining date were examined under the light of na ethnografic approach. The outcome confirmed the complexity of the elements involved, which despite of being share by the group, were combined by each patient in na idiosyncratic way. The strategy in facing the disease is related to the patient's way of interpreting the disease itself as well as its treatment. The process of attributing sense to it is hardened by a non-interdisciplinary approach, current in the hospital setting, and which does not take into consideration the psychosocial aspects of disease. The importance of this kind of study lies in the acceptance of the multiplicity of factors involved, since the simplification of the coming-down-ill process, seen merely as a biological dysfunction, restrains the patient's quality of life