Curar adoecendo: um estudo do processo de trabalho hospitalar em busca da saúde da inventividade e da vida

RESUMO

A investigaçåo visa conhecer o processo de trabalho hospitalar através do caso das enfermarias clínicas de um hospital público no Rio de Janeiro. Constitui numa intervençåo nesta paisagem em movimento e escolhe como metodologia a pesquisa-açåo. Toma as categorias trabalho e processo de trabalho, objetivando uma análise molecular (Guattari) ou micropolítica (Foucault) do cotidiano dos trabalhadores em saúde. Interessa descobrir os caminhos da vida, embarcar nos fluxos de inventividade e prazer que o trabalho produz. A organizaçåo do trabalho hospitalar, com a intensa fragmentaçåo das tarefas e parcas oportunidades de participaçåo, causa sofrimento aos trabalhadores em saúde. No Hospital observamos doentes atendendo a doentes. No Hospital, em defesa da vida, engendram-se máscaras, artifícios o trabalhador-robô, o trabalhador-padråo que faz-tudo-como-seu-chefe-mandar, o trabalhador-que-corre-para-lugar-nenhum, o trabalhador-que-carrega-o-hospital-nas-costas... o chefe-que-entende-de-tudo, o chefe-eles-såo-tåo-incompetentes, e o Grupo-A-Frente-do-Hospital. Ao trabalhador-robô e suas variaçoes corresponde o chefe-que-entende-de-tudo. Estas máscaras nåo propiciam o movimento, nåo engrendam a expansåo da vida. Observamos a tentativa, fadada ao insucesso, de combinar solidariedade de equipe com corporativismos e identidades. Há também a tentativa de combinar inventividade e ausência de riscos. Ou solidariedade com salvar-a-própria-pele. Dentre trabalhadores imersos nestas contradiçoes a estética como possibilidade de expansåo da vida tem aparecimento fugazes. Chegamos a uma queståo e os pacientes, seråo estes os personagens que podem produzir encontros felizes que teråo como efeitos novas máscaras, propiciadoras da expansåo da vida? Alguns dos trabalhadores do Hospital acreditam nisso.