Medida da pressäo arterial pelo método auscultatório: necessidade de utilizaçäo de manguito de largura adequada para detecçäo precoce de hipertensäo / Blood pressure determination by auscultatory method: to need utilization diagnosis of hypertension in its early phase

RESUMO

O presente estudo foi realizado com o objetivo de estender nossas pesquisas anteriores, nas quais demonstramos que a largura do manguito empregdo na medida indireta da pressäo arterial é de crucial importância para a determinaçäo correta desse parâmetro fisiológico. Essas pesquisas mostraram a inadequaçäo do manguito de largura padräo para grande fraçäo da populaçäo e sugeriram a possibilidade de que seu uso pode prejudicar o diagnóstico precoce de hipertensäo arterial e causar danos graves às pessoas que procuram os serviços de saúde. Este estudo constou de três protocolos seriados. O primeiro destinou-se a testar a possibilidade de que a circunferência dos braços da populaçäo brasileira que participou da pesquisa anterior fosse menor do que a de outras populaçöes ocidentais bem nutridas, condicionando as diferenças por vezes elevadas que encontramos quando medíamos a pressäo com manguito padräo e com manguito correto. Trabalhando com italianos em tratamento na Universidade de Miläo verificamos que näo há diferenças siginificativas entre as circunferências dos braços das duas populaçöes, anulando, por conseguinte, a dúvida original. O segundo protocolo também se destinou a dirimir dúvida relevante, a de que a ordem dos manguitos que havíamos adotado para a comparaçäo das medidas poderia ser responsável pelas diferenças encontradas. A alternaçäo dos manguitos, medindo-se a pressäo na ordem MLC-MLP ou na ordem MLP-MLC, näo provocou alteraçäo dos valores de pressäo, demonstrando que o fator determinante das diferenças encontradas é de fato a largura do manguito e näo uma presumível reduçäo do alerta e consequente reduçäo da pressäo quando empregávamos o manguito de largura padräo. O terceiro protocolo constou do relato de 11 casos, constituídos da comparaçäo da pressäo arterial medida com os dois manguitos em pessoas que havíamos classificado como possíveis hipertensas em funçäo da medida com os manguitos de largura correta. Uma das participantes, que exibia pressäo normal das medidas com manguito padräo mas era patentemente hipertensa quando se utilizava o manguito correto, sofreu uma evoluçäo patológica grave nos últimos anos e os demais participantes mostraram clara hipertensäo quatro a cinco anos após nosso estudo inicial. Os resultados desta investigaçäo confirmam os da primeira e os estendem, demonstrando que, de fato, o manguito de largura padräo, mundialmente usado, introduz erro na determinaçäo da pressäo de pessoas magras, mascarando hipertensäo ativa e prejudicando o prognóstico. Nos obesos o erro provocado pelo manguito padräo pode causar-lhes o falso diagnóstico da hipertensäo arterial. O melhor prognóstico que vem sendo observado nesse grupo, entretanto, pode decorrer do favorecimento do diagnóstico precoce e maior consumo de vasodilatadores em funçäo das dimensöes do MLP. A adoçäo de manguitos de largura correta para a medida da pressäo arterial é, por conseguinte, näo apenas uma questäo acadêmica mas também de saúde pública, uma vez que uma das mais graves e comuns enfermidades da atualidade vem sendo mal diagnosticada e tratada devido a erro metodológico. Diversos estudos feitos em outros países, e invocados na discussäo deste trabalho, relatam fatos inteiramente explicáveis por nossas pesquisas, entre os quais avulta o de que é maior a mortalidade por enfarte em pessoas magras.