Os filhos de Jocasta: uma abordagem psicanalítica sobre a sexualidade feminina / Jocasta's children: a psychoanalytic study of feminine sexuality

RESUMO

Privilegiei, neste trabalho, estudar a dinâmica do vínculo relacional de determinadas mulheres com seus filhos, e estes com suas mäes, estimulada pela observaçäo de certas configuraçöes psíquicas presentes no trabalho clínico de alguns pacientes. Tomei, como modelo para objetivar minhas considerações, a análise de um jovem homem, com uma peculiar história de vida real e a construçäo de uma estranha história na vida mental, resgatada na transferência, estabelecendo analogias com certas passagens da história de Édipo-Rei. Levantei proposiçöes teóricas, usando sob determinado enfoque alguns conceitos como o de sexualidade, perversäo, pré-concepçäo edípica, objetos autistas etc., sendo que alguns deles esclareço em notas no final do trabalho e outros estäo contidos nas consideraçöes sobre o material clínico. A hipótese central do trabalho é relacionada à investigaçäo de certas particularidades no vínculo mäe-criança. Nele faço uma abordagem discriminando a capacidade de empatia que leva ao crescimento, e a capacidade de empatia que leva à estagnaçäo do desenvolvimento. Considero que, para que haja um desenvolvimento normal, a excessiva empatia da mäe näo ajuda a criança a desenvolver a capacidade de discriminaçäo. de tolerar frustaçöes, de "pensar seus pensamentos" (Bion). Muitas vezes, essa excessiva empatia näo significa evoluçäo, mas fragilidade do psiquismo materno, necessitando a mäe da mente da criança, como continente de suas emoçöes. Significa um psiquismo materno ainda em desenvolvimento, que busca a fusäo, estabelecendo com sua criança um conluio narcísico-simbiótico, na tentativa de evadir à dolorosa experiência de separaçäo. Ambas, mäe e criança desenvolveriam, como consequência, um estado excessivamente empático no qual ambas se apossariam ávida e desesperadamente uma da outra para tamponar uma hemorragia de carência, um vazio na experiência da continência, näo evoluindo para o desenvolvimento da individuaçäo. Tal experiência emocional entre ambas transcenderia a teoria falocêntrica de Freud, pois a percepçäo da separaçäo traria como consequência, para ambas, o terror da perda de si mesmas, da "vivência de näo-existência", do "MITO DO NÄO SER". Tais mäes estruturariam com suas crianças, como defesa a essas angústias psicóticas subjacentes à ansiedade de separaçäo e castraçäo, um vínculo perverso de idealizaçäo e necessidade mútuas encerrando-se ambas, assim, na "Clausura Narcísico-Simbiótica"