Mulher adolescente: sexualidade, gravidez e maternidade / Adolescent women: sexuality, pregnancy and motherhood

RESUMO

Analisa a saúde, a educação e as relações sociais das mães adolescentes, e mostra o mundo vivido por elas, indicando os fenômenos sociais subjacentes à maternidade na adolescência, sob o ponto de vista específico da vida cotidiana. A mulher, aqui retratada, aparece no seu contexto microssocial, em Porto Alegre, RS, a partir de 1920, período de produndas mudanças, resultantes da modernização. Essas mudanças, entretanto, são fruto da resistência, como o demonstram tantos fatos históricos na visão mundial dos acontecimentos. Vê-se, então, uma sociedade montada com o intuito de converter os sujeitos à nova ordem urbana e, para tanto, a vida privada do indivíduo atrela-se ao destino político, e a ética de convívio social burguês modela o convívio familiar. A reconstrução da atmosfera social e das mentalidades sobre a mulher e a maternidade surge mediante a análise de várias fontes e o seu conjunto oferece um expressivo testemunho desta ou daquela realidade social. A autora entrevista mulheres que vivenciaram a maternidade nas décadas de 1920 a 1940, décadas que também servem de delimitação temporal para pesquisa nos autos dos processos de crimes sexuais de Porto Alegre. Simultaneamente faz uso dos registros de Livro dos Enfermos sobre adolescentes hospitalizadas na Santa Casa de Misericórdia, de Porto Alegre de 1843 até 1929. Acompanha, também, um grupo de mulheres adolescentes de classes populares que experimentam a maternidade, registrando as múltiplas situações da vida cotidiana, na tentativa de desvelar a face oculta do social. A convivência com as adolescentes no ciclo grávido-puerperal ocorre entre agosto de 1993 e janeiro de 1995. A pesquisa envolve, aproximadamente, mil documentos entre processos jurídicos, registros de livros, registros de atividades em grupo, e entrevistas (histórias de vida), as quais confeccionam o retrato vido de mulheres reclusas, alegres, abandonadas, caladas, desejadas e indesejadas, enfim, mulheres de ontem e... de hoje, que lutam, amam, sofrem, mas falam, e que, algumas vezes, sobrepondo-se o retrato de hoje sobre o de ontem, muda apenas a paisagem. Em outras, a sobreposição revela um ser não mais santificado pela maternidade ou emudecido pela submissão, mas um ser inteiro, lúcido, cuja voz reafirma seu inconteste existir no cotidiano do trabalho, do amor, da sexualidade e da maternidade