Processo de transformação do sofrimento em adoecimento na gestão do trabalho / Transformation process of the suffering into illness in the management of the work

RESUMO

Esta tese parte da existência de um processo de transformação do sofrimento em adoecimento, no âmbito das relações estabelecidas na gestão do trabalho, constatada, pelo autor, em pesquisa anterior. Tem-se como pressuposto que o sofrimento é parte essencial da vida, constituindo um bem para o sujeito, ao sinalizar perigo ao seu redor, alertando-o e preparando-o para ações transformadoras. A pesquisa teve por objetivos identificar e compreender os dispositivos de transformação do sofrimento em sofrimento, bem como os destinos dados às suas manifestações, em uma empresa pública, de grande porte, do setor de serviços, situada na Região Metropolitana de Belo Horizonte, durante um processo reestruturação organizacional. Metodologicamente, trata-se de um estudo qualitativo, com uma abordagem hermenêutica-dialética. Foram realizadas entrevistas com gestores, profissionais da saúde, trabalhadores e seus familiares. Constatou-se que a transferência de problemas e decisões administrativos dos gestores para o setor de saúde constitui a base dos dispositivos identificados, que conduzem, freqüentemente, à destituição do trabalhador enquanto sujeito e à construção de uma identidade de doente. Foram identificadas como destinos das manifestações do sofrimento, na gestão do trabalho a somatização, a psiquiatrização, a medicalização, a licença médica, a internação hospitalar, a reinserção profissional e a aposentadoria por invalidez. Concluiu-se que as manifestações do sofrimento parecem constituir um verdadeiro tabu, e seu reconhecimento foge à rotina da gestão empresarial e de seus serviços de atenção à saúde. Sua transformação em adoecimento representa uma quebra de resistência individual e coletiva dos trabalhadores.