Prevalência de problemas de saúde mental em crianças e adolescentes da periferia de São Paulo e implicações para a saúde pública local / Prevalence of mental health problems in children and adolescents from the outskirts of São Paulo city and implications to local public health

RESUMO

Introdução: Estudos epidemiológicos são de grande importância para determinar a magnitude de problemas de saúde mental na infância e adolescência em uma determinada região, sendo úteis no planejamento de políticas públicas, na organização de serviços e no estabelecimento de programas de prevenção e de tratamento. Objetivos: (1) Estimar a prevalência de problemas de saúde mental em crianças/adolescentes (PSMCA), com e sem prejuízo funcional global, em comunidade urbana de baixa renda de município da periferia da cidade de São Paulo; (2) Identificar dois grupos de risco, segundo necessidade de tratamento ou prevenção em saúde mental da infância/adolescência nesta região; (3) Verificar se sexo, faixa etária e nível socioeconômico estão associados a esses grupos de risco; (4) Estimar o número de crianças/adolescentes do município de Embu pertencentes a cada grupo de risco, discutindo implicações para a saúde pública local; e (5) Averiguar a capacidade anual da rede pública de serviços do município, na assistência à saúde mental de casos que necessitam de tratamento e relacionar a capacidade de assistência à necessidade de tratamento destes casos. Métodos: Desenho do estudo Estudo de corte transversal. Amostra probabilística de conglomerados, incluindo todos os domicílios elegíveis (Jardim Santo Eduardo, Embu-SP). Participantes 479 crianças/adolescentes (6-17 anos; perda amostral 18,3 por cento). Medidas (1) PSMCA em nível clínico nas escalas de total de problemas do Child Behavior-Checklist e/ou Youth 5elf-Report (escore T >63); (2) Prejuízo funcional global escore total >15,5 na Brief Impairment 5ca/e; (3) Nível socioeconômico baixo x médio segundo Questionário de Classificação Econômica Familiar ANEP; (4) Capacidade de assistência total de casos atendidos anualmente no Embu por psicólogos/psiquiatras nos setores saúde, educação, justiça, cidadania/assistência social; (5) Grupos de risco (a) Tratamento PSMCA com prejuízo funcional; (b) Prevenção PSMCA sem prejuízo funcional. (6) Fatores de risco avaliados sexo, faixa etária (crianças 6-10 anos, adolescentes 11-17 anos) e nível socioeconômico (baixo classes C/D/E, médio classes AIS). Resultados: Prevalência de PSMCA com prejuízo funcional =7,3 por cento (5,0-9,6); Prevalência de PSMCA sem prejuízo funcional =17,4 por cento. Em Embu-SP, estima-se que 3.830 crianças/adolescentes necessitem de tratamento e 9.128 de prevenção. A capacidade anual de assistência dos casos que necessitam de tratamento é de 537 pacientes, ou seja, 14,0 por cento dos casos, sendo necessários cerca de sete anos para que todos possam ser tratados. A análise de regressão logística revelou que (a) ser adolescente é fator de risco para pertencer ao grupo de tratamento (RR=2,3; p=O,03); (b) nível socioeconômico baixo (RR=2,0; p=0,04) e sexo feminino (RR=1 ,9; p=O,01) são fatores de risco para pertencer ao grupo de prevenção. Conclusões: PSMCA são freqüentes na comunidade estudada, com taxas compatíveis com as de populações de baixa renda da América Latina/Caribe. A infra-estrutura atual da rede pública de serviços do Embu não está preparada para atender, em tempo hábil, os casos que necessitam de tratamento. Os adolescentes requerem maior número de vagas para tratamento em serviços públicos, enquanto crianças/adolescentes de nível socioeconômico baixo e meninas são os mais necessitados de prevenção. Os dados obtidos neste estudo podem servir de base para um melhor planejamento de ações em saúde pública nesta comunidade.