Panen et circenses / Panen et circenses

RESUMO

O sonho como elemento crucial na formação do analista é aquele em que o sujeito aparece olhado enquanto objeto. Mediante o relato de sonho, essa dimensão do objeto se vislumbra por meio da constatação de que o pai presente no sonho não é um mero semblante dentre os muitos outros que perfazem a história do sujeito. Por mais que se queira o saber sobre o real do pai esbarra-se sempre com a face obscura de sua divisão. O surgimento do pai como encarnação da ironia circense aparece, nesse sonho, como um sucedâneo desta face obscura do pai no ponto preciso em que o inconsciente não joga com o semblante. Nem sempre o inconsciente se reduz ao sujeito-suposto-saber, ou seja, no sonho, o desejo do pai não aparece como um simples querer na falta. O humor irônico do personagem onírico não se inscreve no lugar do Outro, pois, não se mostra preocupado com a miséria de sua impotência. Ao contrário, faz dela um motivo para debochar das insígnias que compõem a suposta honraria da lei paterna. Conclui-se, assim, que a ironia não é do Outro, ela é do sujeito, vai contra o Outro e denuncia sua própria inexistência. A ironia se exerce, portanto, onde a suposição de saber vacila em dar conta da opacidade irremediável do desejo do pai manifesto em seu pecado.