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Além dos confins do homem: Frances Power Cobbe contra o darwinismo na controvérsia sobre a vivissecção no Reino Unido (1863-1904) / Beyond the confines of man: Frances Power Cobbe against Darwinism in the controversy over vivisection in the UK (1863-1904)
Rio de Janeiro; s.n; 2010. 510 p.
Thesis in Portuguese | LILACS | ID: lil-620475
RESUMO
O presente trabalho procura explorar as complexas interações entre darwinismo,fisiologia experimental e antivivisseccionismo na Inglaterra vitoriana. Como principaispersonagens encarregadas de conduzir essa narrativa foram eleitos Charles Darwin e a antivivisseccionista Frances Power Cobbe, mas vários darwinistas, fisiologistas e antivivisseccionistas também aparecem nas páginas dessa tese. Outra importante personagem desse estudo é o cão, animal de status privilegiado na Inglaterra, mas que aindaassim foi usado abundantemente nos laboratórios fisiológicos, e procuro explorar as implicações da presença desse animal na mesa de vivissecção.Os eixos temáticos nos quais meu estudo se apoiou foram: 1) a tese darwiniana da origem comum e consequente relação de continuidade mental entre animais e humanos, eas implicações éticas dessa teoria; 2) o problema da dor física e do sofrimento emocional na Inglaterra vitoriana e sua abordagem por Darwin e Cobbe; 3) a noção de crueldade, e sua associação à prática de vivissecção; 4) a faculdade da simpatia, e a noção darwiniana deuma “simpatia para além dos confins do homem”, relacionada ao conceito atual de comunidade moral. Explorando o contexto sócio-cultural e a produção de discursos favoráveis e contrários à experimentação animal do período, realizei também uma incursão nasestratégias retóricas de autodefinição e definição do adversário pelas duas partes em contenda, incluindo as formas como era retratado o laboratório fisiológico. A polarização entre selvagem e domesticado / civilizado foi também um questão importante nacontrovérsia sobre a legitimação da vivissecção na Inglaterra vitoriana, e procuro demonstrar que o emprego do cão como animal experimental era considerado também uma profanação dos afetos e virtudes domésticos. Considero que talvez a questão mais importante que informava as críticas de Cobbe e demais antivivisseccionistas à experimentação animal seja a temática da sensibilidade. O cão era considerado então, especialmente na Inglaterra, o mais sensível e emocionalmentecomplexo de todos os animais não-humanos, e a teoria darwiniana só vinha a confirmar e reforçar essa ideia, fornecendo fundamentos teóricos que a substanciavam. A indiferença ecrueldade que Cobbe atribuía aos fisiologistas, que sacrificavam esse animal sem hesitar, conferia aos homens da ciência médica a imagem de indivíduos insensíveis atuando emuma cultura laboratorial de embotamento afetivo ou mesmo de exacerbação dos instintos mais bestiais. Também me esforcei por demonstrar, com maior ênfase no último capítulo, que no discurso de Frances Cobbe a vivissecção figura como evidência máxima de que o espírito científico de sua época representava uma traição e, portanto, uma grande ameaça aosvalores morais tradicionais de amor e simpatia com os quais se construíam as civilizações e a nação britânica. Nessa chave de compreensão o darwinismo era retratado como protótipo desse espírito científico, e o apoio de Darwin e da maioria dos darwinistas às plataformas políticas dos praticantes da fisiologia experimental eram considerados agravantes especiais. O motivo disso era que a teoria darwiniana da origem comum consistia, na percepção dos antivivisseccionistas, na principal evidência científica da sensibilidade especial dos cães;dessa forma, ao emprestar seu prestígio e sua pena à legitimação da vivissecção, Darwin estaria traindo o animal cujo status moral ele próprio havia ajudado a elevar. Proponho como uma tentativa de explicação para esse aparente paradoxo da postura dos darwinistas em relação à vivissecção uma exploração das diferenças entre duas teoria de Darwin: a da origem comum e a da seleção natural, e procuro demonstrar que essas duas noções apontam para caminhos éticos antagônicos: a primeira para a expansão progressiva da esfera de consideração moral humana, de modo a abarcar também os animais; a última,para o estreitamento dessa esfera de consideração moral. Foi em resposta às implicações éticas e aplicações políticas desse segundo aspecto do evolucionismo de Darwin, relacionado à ideia de ‘sobrevivência do mais apto’, que Frances Cobbe se insurgiu,descrevendo a vivissecção como um “ultraje aos afetos” entre cães e homens.
Subject(s)
Full text: Available Index: LILACS (Americas) Main subject: Physiology / Science / Vivisection / Bioethics / Animal Experimentation / Dogs Limits: Animals Country/Region as subject: Europa Language: Portuguese Year: 2010 Type: Thesis

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