Educação em ciências e saúde na educação infantil: um estudo na creche Fiocruz / Science education and health in early childhood education: a study in daycare Fiocruz

RESUMO

Este trabalho representa uma contribuição à lacuna existente acerca da temática da Educação em Ciência na Educação Infantil, e trata da formação de professores em um ambiente específico – a Creche Fiocruz. A coleta de dados foi realizada no período de 2007 a 2010, procurando responder às questões- foco: quais as concepções de Ciências Naturais que embasam os saberes e orientam os fazeres docentes no que tange à construção de conhecimentos no cotidiano da Creche? Nosso intuito foi problematizar a forma aprendida/apreendida da educação científica e como ela se reflete no exercício das práticas pedagógicas dos professores da Educação Infantil. Desta forma, objetivamos investigar e analisar as estratégias educacionais desenvolvidas no cotidiano da Creche bem como as concepções que as embasam. Para atingirmos os objetivos propostos, desenvolvemos uma pesquisa qualitativa de cunho etnográfico com cinco professoras das turmas do Jardim, que incluiu o acompanhamento dos projetos didáticos com a observação sistemática no campo e a aplicação de questionários e entrevistas semiestruturadas, assim como os enunciados das crianças sobre os temas abordados, expressos nos desenhos infantis. Adicionalmente, foram analisados o projeto político-pedagógico da creche, além de outros documentos ligados às diretrizes oficiais para esta primeira etapa da Educação Básica. Sobre as transformações das concepções das docentes envolvidas no processo estudado, ficou evidenciada a substituição de técnicas artesanais pela adoção de uma prática metodológica que valorizava a relação das crianças com os seres vivos e com o ambiente do entorno da creche. Por outro lado, as estratégias metodológicas passaram a ser, cada vez mais, de caráter investigativo, procurando enfatizar o papel do questionamento e das dúvidas das crianças. Os encontros pontuais, como feiras de ciências, passaram a constituir um processo contínuo de construção de conhecimentos interdisciplinares em ciências ambientais e saúde. As professoras passaram a valorizar mais as hipóteses na medida em que iam percebendo a educação científica como parte fundamental da leitura de mundo, apontando a necessidade de mudanças nos cursos de graduação e na própria grade curricular da Educação Infantil. As entrevistas revelaram que as professoras foram percebendo, através das fotografias que retratavam as atividades realizadas durante o processo, o quanto poderiam melhorar seus procedimentos didáticos no sentido de favorecer uma maior interação das crianças com a natureza. Desta forma, ficou patente como o trabalho pode também colaborar, em certa medida, para uma postura mais crítica e reflexiva das docentes. As respostas também indicaram que as professoras também perceberam a importância da parceria com acadêmicos da instituição. Este contato instigou nelas o desejo de aprenderem a aprender, possibilitando transformações em suas práticas para também estimular a curiosidade infantil. A análise da produção gráfica das crianças apontou a influência das observações e vivências para o enriquecimento de sua compreensão acerca dos diferentes assuntos, como se pode notar pelo desenvolvimento da argumentação oral calcada nos desenhos. Acreditamos que este estudo possa contribuir para ampliar a discussão sobre políticas públicas, no sentido da valorização profissional da Educação Infantil e da relevância da educação científica na formação dos cidadãos.