A angústia do adoecer: microfendas para o conhecimento de si e possibilidades de reconfigurações na vida / The anguish of illness: micro fissure to self-knowledge and possibilities of reconfiguration in life

RESUMO

O adoecimento crônico é considerado responsável por grande número de mortes e incapacidades em todo o mundo e, nos últimos anos, seu crescimento implicou enormes gastos público com tratamentos. As intervenções biomédicas mostram-se limitadas ao alívio do sofrimento, uma vez que não consideram o caráter subjetivo do processo, a saber, a experiência do adoecer. A insatisfação diante esta terapêutica é o disparate que conduz os sujeitos a procurarem outras práticas de cuidado. Neste cenário contemporâneo, emergiram algumas inquietações que balizaram esta pesquisa O que leva um sujeito com câncer a opor-se ao cuidado biomédico e buscar formas de cuidado não convencionais para o convívio com o adoecimento? Quais são os limites da Biomedicina esposados por suas ações? Que outros olhares os modelos de práticas não biomédicas lançam sobre o processo saúde-adoecimento-cuidado e que diferencial estes apresentam? O objetivo da pesquisa foi construir, por meio de um estudo de caso, uma narrativa dialógica entre a discussão conceitual e o discurso de um sujeito com câncer de próstata que substituiu, por sua conta e risco, o tratamento biomédico por práticas de cuidado não convencionais. No esforço de dilatar e aprofundar esta problemática recorremos ao pensamento dos filósofos franceses Gilbert Simondon e Georges Canguilhem. A nosso ver, eles forneceram subsídios necessários para transgredir as bases duais do pensamento biomédico (normal e patológico, saúde e doença, alívio e dor, desarranjo e rearranjo) e da própria experiência fenomenológica, isto é, sem colocar o foco no sujeito-saúde ou sujeito doença, mas deslocando o olhar para a pluralidade do processo saúde-adoecimento-cuidado. Ao considerar o discurso do sujeito pudemos adentrar a angústia do adoecimento e descrever as mudanças que precipitam no interior desta relação...

ABSTRACT

Chronic illness is considered responsible for a large number of deaths and disabilities worldwide and, in recent years, its growth implied in enormous public spending on treatments. Living with the disease shows up difficult and painful causing profound changes in the subject's life and often becomes the main factor in their anguish. The biomedical are limited in the relief of suffering, since they do not consider the subjective aspect of the process, namely, the experience of illness. Therefore, the dissatisfaction with this therapy is the factor that leads individuals to seek other care practices. In this contemporary setting, some concerns have emerged, which had driven this research What makes a subject with cancer to oppose the biomedical care and seek unconventional ways for living with the illness? What are the limits of Biomedicine espoused by its actions? What other takes have these no-biomedical models thrown on the health-disease-care, and what kind of differential they present? The objective of this research was to construct, through a case study, a dialogical narrative between the conceptual discussion and discourse of a subject with prostate cancer who has replaced, at his own risk, the biomedical treatment for unconventional care practices. In an effort to expand and deepen this problem we turn to the thought of Gilbert Simondon and Georges Canguilhem. In our view, they provide the needed subsidies to break the dual basis of the biomedical thought (normal and pathological, health and disease, pain and relief, derangement and rearrangement) and the phenomenological experience, i.e., without putting the focus on the subject-health or subject-disease, but shifting its gaze to the plurality of the health disease- care process. This has allowed us to enter into the experience of illness and describe the anguish of this subject with cancer, espousing his disruption with the biomedical model and experimentation with unconventional care practices...