"Não somos racistas": uma contrarreação calcada em "A negativa" freudiana / "We are not racists": a counter-reaction based on the Freudian "Negative"

RESUMO

O título da obra Não somos racistas, de autoria do jornalista Ali Kamel, é o subsídio eleito para discutir o texto "A negativa" (1925), no qual Freud sintetiza grande parte de sua obra a respeito do enunciado efetivamente dito e ouvido pelo inconsciente. Argumentando que a ne-gativa pode ser compreendida por "isto é algo que eu preferiria reprimir", Freud nos convida a descartar o "não" do dito. Neste sentido, este artigo se propõe a discutir o texto freudiano para refletir a respeito do título mencionado, que, não obstante pertença a um autor especí-fico, é emblemático de uma voz um tanto quanto coletiva. Vemos que aquele que tem culpa, nega e se justifica, se "des-culpa", prestando-se, inclusive, a elaborar uma tese que o exime da responsabilidade do feito. A análise se articula também com a perspectiva lacaniana, mas se baseia, sobretudo, no texto freudiano "A negativa", para refletir sobre a capacidade do sujeito de assimilar ou expulsar o insuportável e a sua reação diante do "estranho".

ABSTRACT

The title of journalist Ali Kamel's work "We are not racists" was selected as the support to discuss the text "The Negative" (1925), in which Freud synthesizes most of his work about the statement that is actually said and what the unconscious hears. Arguing that the negative can be unders-tood as "this is something I would rather repress", Freud invites us to discard the "no" from what is said. In this sense, this paper intends to discuss the Freudian text in order to reflect about the title mentioned which, although it belongs to one author, is emblematic of a rather collective voice.