Avaliação da alteração de músculos mastigatórios em pacientes com anquilose temporomandibular e o impacto da fonoterapia pós-operatória na recuperação destes pacientes / Evaluation of change of mastigatory muscles in patients with temporomandibular ankillosis and the impact of postoperative phonotherapy on recovery of these patients

RESUMO

A anquilose temporomandibular (AQTM) é uma condição rara caracterizada pela restrição da abertura mandibular, que impacta negativamente na qualidade de vida destes pacientes. O tratamento cirúrgico tem como objetivo reestabelecer a abertura de boca e, consequentemente, retomar à normalidade a respiração, a mastigação e a fala. A fonoterapia pós-operatória é descrita na prática clínica como uma etapa fundamental no processo de recuperação destes pacientes, pois visa estimular a musculatura facial e, assim, evitar a imobilização prolongada que pode levar à reanquilose. Contudo, poucos trabalhos investigaram a ocorrência de alterações morfofuncionais nos músculos faciais de pacientes com AQTM, bem como investigaram se a fonoterapia pós-operatória de fato influencia no processo de recuperação destes pacientes. O objetivo deste estudo foi avaliar a existência de alteração na área seccional dos músculos mastigatórios masseter e pterigoide medial em pacientes com AQTM e a influência da fonoterapia pós-operatória na recuperação destes pacientes. Foi realizado um estudo retrospectivo envolvendo 39 pacientes com AQTM atendidos no INTO entre janeiro de 2010 e dezembro de 2018, e 54 pacientes controle (sem disfunção da ATM). As principais causas conhecidas de AQTM foram trauma (38,46%) e infecção (17,95%), e a mediana de idade dos pacientes foi de 16 anos. A maioria dos pacientes com AQTM era do sexo masculino (66%), o acometimento unilateral ocorreu em 70,3% dos pacientes e a maior parte dos casos de AQTM foi de natureza óssea (74,3%). As alterações na área seccional dos músculos masseter e pterigoide medial foram avaliadas através de imagens de tomografia computadorizada, sendo observada menor área seccional no plano axial destes músculos em pacientes com AQTM em comparação com pacientes controle. Ao compararmos a área dos músculos masseter e pterigoide medial de pacientes com AQTM (abertura de boca < 30mm) com a de pacientes recuperados após o tratamento (abertura de boca > 30mm), verificamos um aumento da área seccional deste último grupo. Por fim, investigamos a influência da fonoterapia pós-operatória no desfecho do tratamento cirúrgico através dos registros de comparecimento dos pacientes à fonoterapia em seus prontuários. Foi observado que em 76,66% dos procedimentos em que o paciente aderiu à fonoterapia houve um desfecho favorável. Por outro lado, em 95,45% dos procedimentos em que o paciente não aderiu à fonoterapia houve reanquilose. Através do teste exato de Fisher, foi verificado que os pacientes que não aderiram ao tratamento fonoterápico pós-operatório apresentaram maior risco de recidiva da anquilose. Concluímos que os pacientes com AQTM possuem redução da área seccional dos músculos masseter e pterigoide medial e que a fonoterapia pós-operatória é fundamental para o sucesso do tratamento da AQTM

ABSTRACT

Temporomandibular joint ankylosis (TMJA) is a rare condition characterized by restricted mandibular opening, which has a negative impact on the quality of life of these patients. The surgical treatment aims to reestablish the mouth opening and, consequently, to resume breathing, chewing and speech. Postoperative speech therapy is described in clinical practice as a fundamental step in the recovery process of these patients and it aims to stimulate facial muscles and thus prevent prolonged immobilization that may lead to reankylosis. However, few studies have investigated whether morphofunctional changes occur in the facial muscles of patients with TMJA, as well as whether postoperative speech therapy actually affects patient recovery. The aim of this study was to evaluate changes in the sectional area of the masseter and medial pterygoid muscles of patients with TMJA and to investigate the influence of postoperative speech therapy in the recovery of these patients. We conducted a retrospective study involving 39 TMJA patients treated at INTO between January 2010 and December 2018, and 54 control patients (without TMJ dysfunctions). The main causes of TMJA were trauma (38.46%) and infection (17.95%), and the patients' median age was 16 years. Most patients with TMJA were male (66%), the unilateral involvement occurred in 70.3% of patients and most cases of TMJA were of the bony type (74.3%). Changes in the sectional area of the masseter and medial pterygoid muscles were evaluated by analyzing computed tomography images, and a smaller sectional area in the axial plane of these muscles was observed in patients with TMJA compared to control patients. Comparing the area of the masseter and the medial pterygoid muscles of patients with TMJA (mouth opening ≤30mm) with that of patients recovered after treatment (mouth opening >30mm), we observed an increase in the sectional area of the latter group. Finally, we investigated the influence of the postoperative speech therapy on the outcome of the surgical treatment by looking through the speech therapy attendance reports in the patients' medical records. It was observed that in 76.66% of the procedures in which the patient adhered to speech therapy there was a favorable outcome. On the other hand, in 95,45% of the procedures in which the patient did not adhere to speech therapy, there was reankylosis. Fisher's exact test showed that patients who did not adhere to postoperative speech therapy had a higher risk of ankylosis recurrence. We conclude that patients with TMJA have reduced sectional area of the masseter and medial pterygoid muscles and that postoperative speech therapy is fundamental for successful treatment of TMJA